Que importa aonde vou se vou contigo

A fé tranquila, sem enganos, sem quedas, sem dúvidas, sem temer a derrocada das estruturas de suporte, não é, de modo algum, a minha fé. Uma fé assim, cheia de tranquilas certezas e claros horizontes, é tudo menos a fé que me anima em cada dia. A fé que me anima é um caminho escuro, incerto, difícil, cheio de dúvidas, de enganos, de erros, mas plena de confiança. A fé que me conduz é certeza de começar em algum lugar e não saber para onde vou, levando apenas a confiança de uma presença que me diz valer a pena. Na fé que me ilumina importa menos aonde vou, por este caminho escuro e duvidoso, porque importa mais com quem vou, se tu vais, neste caminho por onde vou. A certeza que me anima não está em nenhum lugar. Neste caminho em que vou, contigo, não verei nunca um lugar e mesmo sem ver, quero ir, contigo, até ao final… E sei que não chegarei ao fim… morrerei pelo caminho sem ver aonde vou quando vou contigo, porque me importa mais ir, contigo, do que saber se vou a algum lugar.

LEITURA I           Jos 24, 1-2a.15-17.18b

Naqueles dias, Josué reuniu todas as tribos de Israel em Siquém. Convocou os anciãos de Israel,  os chefes, os juízes e os magistrados, que se apresentaram diante de Deus. Josué disse então a todo o povo: «Se não vos agrada servir o Senhor, escolhei hoje a quem quereis servir: se os deuses que os vossos pais serviram no outro lado do rio, se os deuses dos amorreus em cuja terra habitais. Eu e a minha família serviremos o Senhor». Mas o povo respondeu: «Longe de nós abandonar o Senhor para servir outros deuses; porque o Senhor é o nosso Deus, que nos fez sair, a nós e a nossos pais, da terra do Egito, da casa da escravidão. Foi Ele que, diante dos nossos olhos,  realizou tão grandes prodígios e nos protegeu durante o caminho que percorremos entre os povos por onde passámos. Também nós queremos servir o Senhor, porque Ele é o nosso Deus».

Tendo chegado ao final da vida, Josué, reúne o povo para um ato solene de compromisso diante de Deus. A quem quereis servir? Pergunta Josué. O povo responde “queremos servir o Senhor, porque ele é o nosso Deus”.

Salmo Responsorial     Sl 33 (34),  2-3.16-17.18-19.20-21.22-23 (R. 9a)

Continuamos com o salmo 33, pelo terceiro domingo consecutivo. Os versículos escutados nesta liturgia convidam à confiança total no Senhor, pois “os olhos do Senhor estão voltados para os justos
e os ouvidos atentos aos seus rogos
. É verdade que o Senhor não impede que o justo seja sujeito à prova, mas não o abandona, não permite que lhe sejam quebrados os ossos e “defende a vida dos seus servos”.

LEITURA II                                          Ef 5, 21-32

Irmãos: Sede submissos uns aos outros no temor de Cristo. As mulheres submetam-se aos maridos como ao Senhor, porque o marido é a cabeça da mulher, como Cristo é a cabeça da Igreja, seu Corpo, do qual é o Salvador. Ora, como a Igreja se submete a Cristo, assim também as mulheres  se devem submeter em tudo aos maridos. Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e Se entregou por ela.  Ele quis santificá-la, purificando-a no batismo da água pela palavra da vida, para a apresentar a Si mesmo como Igreja cheia de glória, sem mancha nem ruga, nem coisa alguma semelhante, mas santa e imaculada. Assim devem os maridos amar as suas mulheres,  como os seus corpos. Quem ama a sua mulher ama-se a si mesmo. Ninguém, de facto, odiou jamais o seu corpo, antes o alimenta e lhe presta cuidados, como Cristo à Igreja; porque nós somos membros do seu Corpo. Por isso, o homem deixará pai e mãe,  para se unir à sua mulher, e serão dois numa só carne. É grande este mistério,  digo-o em relação a Cristo e à Igreja.

Paulo propõe aos membros da comunidade de Éfeso que vivam em todas as relações o mesmo sentimento que vivem na relação com Cristo. O fundamento de todas as relações deve ser o respeito e o amor.

EVANGELHO    Jo 6, 60-69

Naquele tempo, muitos discípulos, ao ouvirem Jesus, disseram: «Estas palavras são duras.  Quem pode escutá-las?». Jesus, conhecendo interiormente que os discípulos murmuravam por causa disso,  perguntou-lhes: «Isto escandaliza-vos? E se virdes o Filho do homem  subir para onde estava anteriormente? O espírito é que dá vida, a carne não serve de nada. As palavras que Eu vos disse são espírito e vida. Mas, entre vós, há alguns que não acreditam». Na verdade, Jesus bem sabia, desde o início, quais eram os que não acreditavam e quem era aquele que O havia de entregar. E acrescentou: «Por isso é que vos disse: Ninguém pode vir a Mim, se não lhe for concedido por meu Pai». A partir de então, muitos dos discípulos afastaram-se e já não andavam com Ele. Jesus disse aos Doze: «Também vós quereis ir embora?». Respondeu-Lhe Simão Pedro: «Para quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós acreditamos e sabemos que Tu és o Santo de Deus».

Depois da dificuldade manifestada pelos judeus em aceitar Jesus como aquele que desceu do céu e as suas palavras sobre o alimento da vida eterna, surgem também os discípulos como incrédulos diante das palavras de Jesus, porque lhes parecem demasiado duras. Pedro, porém, em nome dos doze, faz a mais bela profissão de fé reconhecendo que Jesus é o santo de Deus e só as suas palavras conduzem à vida eterna.

Reflexão da Palavra

Josué está presente junto de Moisés desde o início do êxodo. Torna-se o mais próximo e mais fiel a Moisés e permanece fiel a Deus em todas as situações. Por isso foi escolhido para suceder a Moisés, “Josué, filho de Nun, ficou cheio do espírito de sabedoria, porque Moisés lhe tinha imposto as mãos” (Dt 34,9) e introduzir o povo na terra prometida, como Moisés predissera “sê forte e valente! Porque tu é que vais entrar com este povo na terra que o Senhor jurou dar a seus pais”.

O texto que serve de primeira leitura, construído a partir de vários versículos escolhidos do capítulo 24, o último deste livro de Josué, aparece como uma renovação da aliança entre Deus e o povo num momento importante em que o povo conquistou a paz, domina o território e os seus inimigos e Josué, já com cento e dez anos, está a chegar ao fim da vida.

O lugar do encontro de Josué com os responsáveis das doze tribos, Siquém, é já conhecido porque ali Abraão levantou um altar (Gn 12, 6-7), Jacob também ali habitou (Gn 33, 18-20) e ali obrigou a sua família a abandonar os deuses estrangeiros e ali fez um altar “ao Deus que me atendeu no dia da minha angústia” (Gn 35,2-4) e José foi ali sepultado (Js 24,32).

O momento é de decisão final. Ninguém, naquele lugar e naquele momento da história, pode avançar sem tomar uma decisão. Josué assume diante de todo o povo uma postura, não apenas de chefe, mas de exemplo de fidelidade ao Senhor “eu e a minha família serviremos o Senhor”. O desafio é lançado a todos “se não vos agrada servir o Senhor, escolhei hoje a quem quereis servir”. Porque hão de servir o Senhor e não outro Deus? Josué esforça-se por recordar tudo o que o Senhor fez por eles desde Abraão, passando pela libertação do Egito e até àquele momento em que vivem já na terra prometida. A resposta do povo não podia ser outra e, por isso, “o povo respondeu dizendo: Longe de nós abandonar o Senhor para servir outros deuses; … Também nós queremos servir o Senhor, porque Ele é o nosso Deus”.

Interessa salientar no texto a quantidade de vezes que se usa o verbo “servir”. O povo que era escravo no Egito, agora pode escolher a quem quer servir. Escolher o Senhor que os libertou da casa da escravidão é seguir os passos dos seus antepassados que também foram confrontados várias vezes com a urgência de escolher entre o Senhor e a idolatria. Com esta escolha o povo que era escravo torna-se o povo escolhido, capaz de fazer a experiência da união plena com Deus e entre si.

Pela terceira vez consecutiva surge o salmo 33. Neste domingo reforça-se a necessidade da confiança no Senhor. O justo, por ser justo, não está isento da possibilidade do sofrimento, pelo contrário “muitas são as tribulações do justo”. A solicitude do Senhor pelo justo não o livra das circunstâncias adversas. A vida dos grandes personagens bíblicos diz isso mesmo, não foram imunes à dor, ao sofrimento, à derrota, aos ataques dos inimigos. Abraão viveu desencontros, Moisés passou por dissabores, os profetas e os reis experimentaram derrotas, Jesus passou pela cruz e Maria viveu em lágrimas. A solicitude do Senhor é uma presença permanente junto do justo que nele confia incondicionalmente, como o salmista repete continuamente, “os olhos do Senhor estão voltados para os justos e os ouvidos atentos aos seus rogos… clamaram e o Senhor os ouviu, livrou-os de todas as suas angústias. O Senhor está perto dos que têm o coração atribulado e salva os de ânimo abatido… defende a vida dos seus servos, guarda todos os seus ossos, nem um só será quebrado”.

Paulo convida os efésios a viver todas as relações a partir do respeito e do amor a fim de alcançarem a unidade. A nossa origem está na unidade de Deus e caminha para a unidade com Deus. Unidade que tem por nome “amor” e se constrói no respeito. Deus criou-nos à sua imagem e semelhança, por amor e num respeito total por nós e pelas nossas decisões. Como imagem de Deus somos chamados a respeitar todos e cada um dos homens e a amá-los, tornando-nos sinal sacramental do amor divino. Particularmente os esposos, são sinal do amor incondicional de Deus por nós e do respeito que ele tem por cada um.

Na Sagrada Escritura o matrimónio é apresentado como imagem da relação de Deus connosco. Deus é apresentado no Antigo Testamento como o esposo e o povo como a esposa, firmando entre eles uma aliança. Esta imagem passa no Novo Testamento para a relação entre Cristo e a Igreja onde a aliança é firmada no sangue de Cristo. Para Paulo este é um “grande mistério”.

Todo o amor nasce de Deus e passa necessariamente por Cristo. Por isso Paulo diz “sede submissos uns aos outros no respeito que tendes a Cristo”. A medida está em Cristo. Nele, o amor humano, de si pobre e fraco, encontra a plena realização e pode tornar-se modelo do amor de Cristo pela Igreja e de Deus pela humanidade.

Está subjacente a este amor a pergunta “até onde és capaz de te entregar por mim?” Esta pergunta tem em Cristo a medida, pois ele vai até à cruz no respeito e no amor por nós. A relações dos discípulos de Cristo, dentro e fora do matrimónio, nas relações familiares e comunitárias, hão de ter a mesma medida ou não estão fundadas nos mesmos princípios de respeito e amor. Trata-se de amar “como Cristo amou a Igreja”, amor que se manifesta entregando-se por ela, santificando-a, cuidando-a e alimentando-a.

A medida de Cristo é tudo menos imposição, obrigação e opressão, que alguns querem ver nas palavras de Paulo. Trata-se de obedecer na liberdade, na entrega livre e espontânea, fruto do amor e não do poder, da força e da submissão, no sentido que damos hoje à palavra.

O evangelho de João, que nos acompanhou durante quatro domingos, começou por apresentar cinco mil homens que receberam de Jesus o pão da multiplicação, estes homens passam a ser uma multidão que vai à procura de Jesus, não sabemos quantos eram, mas já não deviam ser cinco mil. Estes murmuram, que é uma forma de rejeição de Jesus e da sua palavra, quando ele diz “eu sou o pão descido do céu”. Depois, João fala de alguns que murmuravam, por Jesus ter dito “o pão que eu tenho para vos dar é a minha carne que eu dou pela vida do mundo”. Murmuram porque rejeitam a possibilidade de Jesus lhes dar a sua carne a comer e não aceitam que este alimento é melhor que o Maná do deserto. Neste domingo chegamos ao final do capítulo 6 e João diz-nos que os discípulos, não sabemos quantos, entenderam que eram duras as palavras de Jesus e deixaram de andar com ele. Ficaram apenas os doze. Das cinco mil pessoas iniciais, Jesus conta apenas com doze. Foi rejeitado pela multidão e pelos discípulos. Esta é a forma do evangelista João anunciar a sorte final de Jesus, a entrega na cruz pela vida do mundo”.

Perante a situação, Jesus, como Josué na primeira leitura, lança o desafio aos doze. Chegou a hora de tomar uma decisão clara: “Também vós quereis ir embora?».  A resposta exige a fé, uma fé que não é feita de palavras nem é algo que se possua, é um caminho que se faz acompanhado e guiado por aquele pode levar a Jesus, o Pai, “ninguém pode vir a Mim, se não lhe for concedido por meu Pai”. Trata-se de um dom que só o Pai pode conceder, como todos os dons que vêm de Deus.

Pedro recebeu o dom do Pai, por isso, ele responde em nome de todos, os doze, numa profissão de fé que vai mais longe do que ele próprio pode entender. Pedro responde a Jesus “para quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós acreditamos e sabemos que Tu és o Santo de Deus”.

Esta resposta reafirma a fé como um caminho “para quem iremos?”, só há um caminho e esse caminho é o próprio Jesus. E em quem encontraremos a eternidade? Só a palavra de Jesus pode dar a vida eterna. Pedro vai ainda mais longe quando diz “nós acreditamos e sabemos”, duas coisas importantes que não existem sós. É preciso acreditar e saber e ver e saborear para poder reconhecer que na humanidade frágil de Jesus está o “Santo de Deus”.

Meditação da Palavra

Com quem quero fazer o caminho da minha vida? Até onde estou disposto a ir?

O desafio é lançado pela palavra deste XXI domingo do tempo comum. Chega sempre o momento em que a pergunta se impõe e ninguém pode fugir a ela. Podemos responder mais ou menos conscientemente, mas todos temos que dar uma resposta. Para o povo que, durante quarenta anos, atravessou o deserto no meio de tribulações, depois de servir no Egito como escravo, a conquista da terra da promessa é o momento da decisão, “escolhei hoje a quem quereis servir”.

É Josué, filho de Nun, o jovem que acompanhou Moisés desde o Egito, que aprendeu dele a firmeza diante do povo e a fidelidade diante de Deus, que experimentou na história do seu povo a verdade das palavras do salmo “muitas são as tribulações do justo, mas de todas elas o livra o Senhor” e a quem Moisés impôs as mãos dando-lhe a garantia da sucessão “sê forte e valente! Porque tu é que vais entrar com este povo na terra que o Senhor jurou dar a seus pais”, quem, diante do povo faz soar a hora da decisão questionando os chefes das doze tribos de Israel: “Se não vos agrada servir o Senhor, escolhei hoje a quem quereis servir: se os deuses que os vossos pais serviram no outro lado do rio, se os deuses dos amorreus em cuja terra habitais”.

Josué possui um capital de confiança diante do povo, porque a sua fidelidade a Deus durante toda a vida o fez chegar à terra da promessa. Agora, pode fazer ouvir a sua palavra diante do povo, como uma profissão de fé que todos podem imitar, porque não engana, “Eu e a minha família serviremos o Senhor”. É uma afirmação da fé que ao mesmo tempo manifesta o respeito pela decisão de cada um e uma confiança que não impõe, mas dá segurança.

Perante tanta determinação, ninguém pode considerar possível um caminho mais seguro, sobretudo depois da experiência do deserto em que sentiram realmente que “os olhos do Senhor estão voltados para os justos… livra-os de todas as suas angústias… está perto dos que têm o coração atribulado e salva os de ânimo abatido”. Respondendo com Josué, “também nós queremos servir o Senhor, porque Ele é o nosso Deus”, os que foram escravos no Egito tornaram-se o verdadeiro povo eleito.

É o mesmo povo de Israel que se apresenta diante de Jesus em Cafarnaum, como temos vindo a acompanhar ao longo dos últimos quatro domingos. Um povo que começa em cinco mil homens que comem o pão repartido pelas mãos de Jesus e que, depois, como uma pequena multidão, não sabemos quantos, rejeitam Jesus por ele ter dito “Eu desci do céu” e mais à frente, provavelmente um grupo mais pequeno de judeus, o rejeita por não compreender “como pode Ele dar-nos a sua carne a comer?” e que, no texto deste domingo, se configura no grupo dos numerosos discípulos que abandonam Jesus por considerarem que “estas palavras são duras. Quem pode escutá-las?”.

Perante esta circunstância Jesus, reconhecendo que “há alguns que não acreditam” porque “ninguém pode vir a Mim, se não lhe for concedido por meu Pai”, manifesta a sua total disponibilidade para aceitar a decisão dos mais próximos, os doze, perguntando-lhes num respeito total, “também vós quereis ir embora?”.

É o desafio feito por Josué a todo o povo a repetir-se, aqui, no grupo dos doze. A quem quereis servir? É a pergunta da vida toda. A quem quereis servir para o resto da vossa vida? Com quem quereis caminhar até ao fim? Até onde e com quem estais dispostos a dar a vida?

Pedro responde em nome de todos, como fizera Josué, numa profissão de fé livre que implica reconhecer e acreditar que não há outro caminho, que Jesus é “o Santo de Deus” e a sua palavra é fonte de vida eterna, “para quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós acreditamos e sabemos que Tu és o Santo de Deus”.

O Evangelista João coloca neste momento da vida de Jesus toda a carga do mistério da sua paixão e morte, na qual ele se entrega pela vida do mundo e onde ele se vê abandonado por todos, até pelos seus mais próximos. Pedro tem aqui um papel fundamental decidindo, com uma profissão de fé, que os doze vão com Jesus dispostos a tudo e até ao fim. Sabemos que esta decisão sofreu alguma turbulência quando o grupo foi tomado pela angústia e fugiu na hora mais amarga para Jesus. Sabemos que aos pés da cruz de Jesus se encontrava apenas o discípulo João a confirmar a fidelidade até ao fim afirmada por Pedro e a decisão de uma vida inteira ao serviço do Senhor, após a ressurreição.

As comunidades cristãs, dos primeiros tempos da Igreja, viveram momentos de angústia como o grupo dos doze e deram respostas diferenciadas conforme as circunstâncias e a firmeza da fé que os assistia. A comunidade de Éfeso é uma dessas comunidades, onde a unidade corre perigo por causa das discussões teológicas que se levantam entre os seus membros. A união com Deus e uns com os outros decorre do respeito e do amor, diz Paulo.

Os cristãos de Éfeso correm o risco de viver a fé em Cristo desencarnada da vida quotidiana e das relações entre eles. O amor e o respeito que constroem relações sólidas, de união permanente, não podem dirigir-se apenas a Cristo, hão de estar presentes também nas relações diárias, familiares ou não, comunitárias ou não, porque todas as relações têm como modelo a relação entre Cristo e a Igreja, na qual ele se entrega por ela, a santifica, cuida e alimenta.

Do mesmo jeito que Deus respeita a decisão dos homens que podem até preferir servir os ídolos a servi-lo a ele, Senhor de toda a terra e Jesus aceita que os discípulos lhe voltem a costas e deixem de o seguir não o reconhecendo como Messias, assim também eles devem respeitar-se mutuamente uns aos outros no amor. Um amor semelhante ao de Jesus que não reclama, não exige, não impõe, não se acha dono, mas está disposto a fazer o caminho connosco até ao fim.

Hoje impõem-se as perguntas que fizemos no início: A quem quero servir? A quem quero servir para o resto da minha vida? Com quem quero caminhar até ao fim? Até onde e com quem estou disposto a dar a vida?

Rezar a Palavra

A quem quero eu servir, Senhor? Se o meu coração me inspira para responder como Josué e os chefes das doze tribos “queremos servir o Senhor, porque Ele é o nosso Deus”, a verdade é que sinto em mim a tentação de seguir pelo caminho da idolatria. Também a mim soam difíceis as tuas palavras “quem comer a minha carne e beber o meu sangue, tem a vida eterna”. Seduz-me essa possibilidade de viver eternamente, mas acreditar que são a tua carne e o teu sangue que me transformam para acolher o dom de Deus, não é fácil. Sou tentado a deixar de andar contigo e seguir o meu caminho, com os meus critérios, segundo a minha vontade, satisfazendo os meus apetites interiores. Inspira-me, Senhor, como fizeste a Pedro, para poder dizer com verdade, “Tu tens palavras de vida eterna. Nós acreditamos e sabemos que Tu és o Santo de Deus”.

Compromisso semanal

Sei que, nos caminhos que trilho, o Senhor me defende de todas as tribulações apesar da minha falta de fé.