1•    Ouvimos há bocadinho uma leitura da Bíblia que nos falava dum Profeta. Quem de vocês sabe o nome desse Profeta? Elias.

Sabem o que aconteceu a este homem de Deus? Ele teve de falar com um rei para lhe chamar a atenção dos erros que este andava a cometer. E o rei não gostou. Então o rei e a esposa começaram a perseguir o Profeta e queriam dar-lhe a morte. Elias fugiu e foi esconder-se numa caverna num monte onde Moisés já estivera com o Povo de Israel. Sabem o que o Profeta queria? Queria que Deus lhe desse a conhecer, tal como tinha feito com Moisés, qual era a sua vontade, o que é que ele devia dizer ao rei para que as coisas melhorassem. E Deus falou a Elias. Lembram-se do que Deus lhe disse? Disse-lhe: «Sai da caverna e fica no monte à espera». E ele fez como Deus mandou: ficou à espera.

Esperava que Deus se manifestasse de modo muito forte: ou numa grande ventania, ou num tremor de terra, ou num fogo, como fizera com Moisés. Mas Deus não quis manifestar-se assim. Como foi que Deus se manifestou? Quem se lembra? Manifestou-se sem ruído, num ar fresco, manso e suave. Que fez Elias, quando ouviu esse ar brando, essa brisa? Cobriu a cara e ficou à porta da caverna para descobrir, em silêncio, o que Deus lhe quisesse dizer.

Esta história de Elias, diz-nos que Deus fala ao coração, no silêncio, faz-nos sentir por dentro o que quer de nós, sem barulho e sem palavras. Precisamos de fazer silêncio no coração para sabermos o que quer Deus de cada um de nós.

2•    O Evangelho deste Domingo, também nos fala do silêncio e do estrondo da tempestade. Diz-nos que Jesus «subiu a um monte para rezar sozinho», sem os discípulos e sem a multidão que o seguia. Aí, no silêncio do coração, escutava o que Deus seu Pai tinha para lhe dizer. Os discípulos, porém, seguiam de barco, para a outra margem do lago de Tiberíades, e surgiu uma tempestade. Ficaram aflitos com a altura das ondas e o rugido das águas. Mas Jesus, que estivera em silêncio, coração a coração com seu Pai, foi ao encontro dos discípulos que estavam cheios de medo e acalmou a tempestade.

Sem Jesus, os discípulos tiveram medo; com Jesus, perdem o medo e sentem-se protegidos, porque Jesus acalma o mar e faz que os ventos fiquem em silêncio.

Assim como Elias encontrou a Deus na brisa suave no alto do monte, assim Jesus se encontrou com o Pai no silêncio da montanha. Assim como os discípulos precisaram da presença de Jesus para vencerem os medos e as tempestades, assim nós, no silêncio do nosso coração, encontraremos a paz em Cristo que vem ao nosso encontro, dum modo especial hoje na Santíssima Eucaristia.

3•    Daqui a instantes, iremos encontrar-nos com Jesus, no íntimo do nosso coração. No silêncio, na paz, a olhar para dentro de nós mesmos e a pensar no grande amor que Jesus nos tem. Aí, Ele nos dirá o que quer de nós. E quer, com certeza, que nos pareçamos com Ele: que rezemos em silêncio como Ele rezou, que ajudemos os que andam aflitos como Ele ajudou os seus discípulos, que escutemos, como ditas para nós, aquelas palavras que Jesus disse aos discípulos: «Sou Eu; não temais». A vida, à medida que vamos vivendo, traz-nos muitas alegrias, mas também alguns problemas e dificuldades: Mas Jesus continua a dizer-nos: «Sou Eu; não temais». Assim como Ele fez calar o mar, símbolo bíblico das forças do mal, e fez acalmar as ondas, assim Ele fará a cada um de nós, quando, como Pedro, nós colocarmos nele, e só nele, toda a nossa confiança. Ele agarra-nos pela mão para que não vamos ao fundo. Hoje, Jesus, na Eucaristia, vem mais uma vez ao nosso coração e fica sempre connosco, dizendo-nos todos os dias: «Sou Eu; não temais».

D. Manuel Madureira Dias, in Homilias de um Bispo, Secretariado Nacional de Liturgia, Fátima 2017

https://livros.liturgia.pt/verbum-caro/293-maravilhas-de-deus-homilias-de-um-bispo.html

LEITURA I 1Rs 19, 9a.11-13a

Naqueles dias,
o profeta Elias chegou ao monte de Deus, o Horeb,
e passou a noite numa gruta.
O Senhor dirigiu-lhe a palavra, dizendo:
«Sai e permanece no monte à espera do Senhor».
Então, o Senhor passou.
Diante d’Ele, uma forte rajada de vento
fendia as montanhas e quebrava os rochedos;
mas o Senhor não estava no vento.
Depois do vento, sentiu-se um terramoto;
mas o Senhor não estava no terramoto.
Depois do terramoto, acendeu-se um fogo;
mas o Senhor não estava no fogo.
Depois do fogo, ouviu-se uma ligeira brisa.
Quando a ouviu, Elias cobriu o rosto com o manto,
saiu e ficou à entrada da gruta.

LEITURA II Rm 9, 1-5

Irmãos:
Em Cristo digo a verdade, não minto,
e disso me dá testemunho a consciência no Espírito Santo:
Sinto uma grande tristeza e uma dor contínua no meu coração.
Quisera eu próprio ser anátema, separado de Cristo,
para bem dos meus irmãos,
que são do mesmo sangue que eu,
que são israelitas,
a quem pertencem a adoção filial, a glória, as alianças,
a legislação, o culto e as promessas,
a quem pertencem os Patriarcas
e de quem procede Cristo segundo a carne,
Ele que está acima de todas as coisas,
Deus bendito por todos os séculos. Amen.


EVANGELHO Mt 14, 22-33


Depois de ter saciado a fome à multidão,
Jesus obrigou os discípulos a subir para o barco
e a esperá-l’O na outra margem,
enquanto Ele despedia a multidão.
Logo que a despediu,
subiu a um monte, para orar a sós.
Ao cair da tarde, estava ali sozinho.
O barco ia já no meio do mar,
açoitado pelas ondas, pois o vento era contrário.
Na quarta vigília da noite,
Jesus foi ter com eles, caminhando sobre o mar.
Os discípulos, vendo-O a caminhar sobre o mar,
assustaram-se, pensando que fosse um fantasma.
E gritaram cheios de medo.
Mas logo Jesus lhes dirigiu a palavra, dizendo:
«Tende confiança. Sou Eu. Não temais».
Respondeu-Lhe Pedro: «Se és Tu, Senhor,
manda-me ir ter contigo sobre as águas».
«Vem!» – disse Jesus.
Então, Pedro desceu do barco e caminhou sobre as águas,
para ir ter com Jesus.
Mas, sentindo a violência do vento e começando a afundar-se,
gritou: «Salva-me, Senhor!».
Jesus estendeu-lhe logo a mão e segurou-o.
Depois disse-lhe:
«Homem de pouca fé, porque duvidaste?».
Logo que subiram para o barco, o vento amainou.
Então, os que estavam no barco prostraram-se diante de Jesus,
e disseram-Lhe:
«Tu és verdadeiramente o Filho de Deus».