Que o rosto de Deus revelado em Maria brilhe sobre nós

O novo ano começa com os problemas de sempre. O ano é novo, mas nós, homens e mulheres, somos velhos e velhos são também os nossos corações, os nossos problemas, assim como as soluções para esses problemas. Maria, a Mãe de Deus, pode ajudar-nos a rejuvenescer e a ver mais longe. Ela é uma bênção para nós no primeiro dia do ano.

O primeiro dia do ano é também o dia Mundial da Paz e esta não acontece em corações fechados ao diálogo, incapazes de um novo olhar sobre a realidade e resistentes a novas propostas de encontro, diálogo e partilha de soluções.

O Papa Francisco propõe três caminhos para uma paz duradoira: “o diálogo entre as gerações, como base para a realização de projetos compartilhados, a educação, como fator de liberdade, responsabilidade e desenvolvimento e, o trabalho, para uma plena realização da dignidade humana. São três elementos imprescindíveis para tornar «possível a criação dum pacto social»” (Mensagem para o ano 2022).

LEITURA I Num 6, 22-27

O Senhor disse a Moisés: «Fala a Aarão e aos seus filhos e diz-lhes: Assim abençoareis os filhos de Israel, dizendo: ‘O Senhor te abençoe e te proteja. O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e te seja favorável. O Senhor volte para ti os seus olhos e te conceda a paz’. Assim invocarão o meu nome sobre os filhos de Israel e Eu os abençoarei».

O Livro dos números oferece esta belíssima oração de Bênção que ocupam todo o texto que é proclamado nesta celebração. Aarão é o responsável por abençoar todo o povo. Com estas palavra também hoje somos abençoados.

Salmo 66, 2-3.5.6 e 8

O Salmo ensina-nos a pedir a bênção a Deus para todos os povos. Pedir é já receber, por isso, ao implorarmos a bênção beneficiamos já da sua realização porque o seu efeito é imediato. Esta bênção é manifestação do rosto de Deus a todos os povos. No texto da primeira leitura a bênção era apenas para os israelitas, o salmo alarga os horizontes da bênção à universalidade dos povos.

LEITURA II Gal 4, 4-7

Irmãos: Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher e sujeito à Lei, para resgatar os que estavam sujeitos à Lei e nos tornar seus filhos adoptivos. E porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: «Abá! Pai!». Assim, já não és escravo, mas filho. E, se és filho, também és herdeiro, por graça de Deus.

Olhando para o Menino nascido de uma mulher na plenitude dos tempos, Paulo vê em Jesus aquele que nos tornou filhos e herdeiros de Deus e nos deu, pelo Espírito, a capacidade de chamarmos a Deus “Abba! Pai!”, porque nos resgatou.

EVANGELHO Lc 2, 16-21

Naquele tempo, os pastores dirigiram-se apressadamente para Belém e encontraram Maria, José e o Menino deitado na manjedoura. Quando O viram, começaram a contar o que lhes tinham anunciado sobre aquele Menino. E todos os que ouviam admiravam-se do que os pastores diziam. Maria conservava todos estes acontecimentos, meditando-os em seu coração. Os pastores regressaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes tinha sido anunciado. Quando se completaram os oito dias para o Menino ser circuncidado, deram-Lhe o nome de Jesus, indicado pelo Anjo, antes de ter sido concebido no seio materno.

O evangelho insere-nos naquela peregrinação dos pastores que, apressados, vão a Belém ver o Menino e contar como chegou até eles a notícia que é alegria para todo o povo. Maria escuta atenta as palavras dos pastores e, admirada, como todos os que os ouviam, guarda tudo no seu coração.

Reflexão da Palavra

O texto que é oferecido pela liturgia como primeira leitura desta celebração de Santa Maria Mãe de Deus, tem todas as palavras e só aquelas que são necessárias para sermos abençoados por Deus neste primeiro dia do ano. O Senhor diz a Moisés que indique a seu irmão Aarão as palavras com que há de abençoar todo o povo. Estas palavras são tudo o que é necessário para que todos se sintam abençoados. Não se trata, porém, de palavras mágicas, são palavras que tornam Deus presente na vida de todo aquele que se aproximar dele, expondo-se à luz do seu rosto e confiando-se à sua proteção. É tríplice esta bênção: do Senhor vem a proteção, é ele quem torna favoráveis as condições da vida e ele mesmo concede a paz.

O Deus que abençoa o povo israelita no caminho do deserto, é o mesmo Deus que faz brilhar a luz do seu rosto sobre aqueles que implorarem dele a bênção. O Salmo ajuda-nos a compreender esta universalidade da proteção de Deus. Os favores do Senhor, a sua proteção, não se limita apenas a alguns, mas destina-se a todos os povos da terra.

A bênção de Deus concretiza-se no dom da paz, por isso, o texto de bênção refere: “o Senhor volte para ti os seus olhos e te conceda a paz”.

Para nós, a bênção de Deus está em Jesus, nascido de uma mulher, como revela Paulo na carta aos Gálatas, pois nele fomos resgatados do poder da lei e tornados filhos e herdeiros. A grande bênção é o dom do Espírito de Jesus que Deus enviou aos nossos corações e pelo qual podemos chamar a Deus nosso Pai. Por esta bênção saímos da escravatura para a liberdade. Deixámos de ser escravos para sermos filhos.

Tudo isto, por Maria que, dando à luz Jesus, o Deus que salva, tornou-se mãe de Deus e abre para nós a porta para uma nova filiação que tem a sua origem na vontade de Deus.

Esta notícia chega hoje até nós pelo relato dos pastores que tendo recebido a notícia foram “apressadamente a Belém”. Nós fomos com eles, vimos e ouvimos as palavras que Maria guardou no seu coração e tornámo-nos testemunhas do mistério que Maria guarda no seu coração.

Meditação da Palavra

É uma bênção para todos iniciarmos cada ano acolhendo Maria e reconhecendo que ela é a Mãe de Deus. De facto, enquanto que é mãe de Jesus e Jesus é filho de Deus, Deus verdadeiro, ela é mãe de Deus. Ela é também, por Jesus, nossa mãe, assim nos foi oferecida no sacrifício derradeiro da cruz: “Eis a tua mãe… eis o teu filho… e o discípulo recebeu-a em sua casa”.

É através de Maria que Deus, hoje, olha para nós e o seu olhar é bênção. Para lá de tudo o que está a acontecer hoje no mundo e de tudo o que cada um está a viver dentro de si, Deus olha para nós e abençoa-nos. Ele mesmo é a nossa bênção. Se não nos escondemos dele, brilha sobre nós e em nós a luz do seu rosto. Esconder-se significa ficar na sombra, preferir as trevas, escolher a solidão, o egoísmo de uma vida centrada em si mesmo. Abrir-se à luz do rosto divino, que resplandece em Jesus e em sua mãe, é receber a bênção que permite a proteção, os favores e a paz divina.

De Maria nos vem o príncipe da paz, que nos abre à universalidade da bênção de Deus alargando as fronteiras do “eu” para o espaço do “nós”. Assim aconteceu, de facto, em Maria. Ela, a mãe de Jesus, no mistério da cruz tornou-se não só mãe de Deus mas mãe de todos os homens resgatados por Jesus para se tornarem filhos de Deus. Na mesma cruz, por bênção semelhante, somos resgatados do “eu” que nos centra nos interesses pessoais e levados a alargar a nossa tenda para a universalidade, repensando a nossa vida como lugar de fraternidade universal.

Este é o princípio da paz verdadeira, abrir espaço para cabermos todos na gruta de Belém, no lado aberto pela lança no corpo de Jesus pregado na cruz, no coração de Maria ou no mundo como casa comum. É para aí que aponta o Papa Francisco na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz 2023, quando diz: “o que se nos pede para fazer? Antes de mais nada, deixarmos mudar o coração, permitir que, através deste momento histórico, Deus transforme os nossos critérios habituais de interpretação do mundo e da realidade. Não podemos continuar a pensar apenas em salvaguardar o espaço dos nossos interesses pessoais ou nacionais, mas devemos repensar-nos à luz do bem comum, com um sentido comunitário, como um «nós» aberto à fraternidade universal. Não podemos ter em vista apenas a proteção de nós próprios, mas é hora de nos comprometermos todos em prol da cura da nossa sociedade e do nosso planeta, criando as bases para um mundo mais justo e pacífico, seriamente empenhado na busca dum bem que seja verdadeiramente comum”.

Oração

Mãe de Deus e nossa mãe, guarda-nos a todos no teu coração e medita junto de Jesus o mistério da nossa vida tão rodeada daquela iniquidade que favorece a guerra. Envia ao nosso mundo, neste ano 2023, a bênção que seja proteção divina, para construirmos a paz e tornarmos favoráveis para todos, os dias deste novo ano.

Desafio para a semana

Não me cansarei de construir com gestos e palavras a paz universal.