Leitura I (anos ímpares) Dt 6, 4-13

Moisés falou ao povo, dizendo: «Escuta, Israel: o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças. As palavras que hoje te prescrevo ficarão gravadas no teu coração. Hás de recomendá-las a teus filhos e delas falarás, quer estando sentado em casa quer andando pelos caminhos, quando te deitas e quando te levantas. Hás de atá-las ao braço como um sinal, prendê-las na fronte diante dos teus olhos e gravá-las nos umbrais da tua casa e nas portas da tua cidade. Quando o Senhor teu Deus te introduzir na terra que a teus pais Abraão, Isaac e Jacob, jurou dar-te, terás grandes e belas cidades que tu não construíste, casas repletas de toda a espécie de bens que tu não acumulaste, cisternas abertas que tu não escavaste, vinhas e olivais que tu não plantaste. Quando tiveres comido até à saciedade, não te esqueças do Senhor, que te fez sair da terra do Egito, da casa da escravidão. Só ao Senhor teu Deus deves temer, só a Ele servir e só pelo seu nome jurar».

compreender a palavra
Moisés entrega ao povo o Shema. Esta é a lei fundamental que todo o judeu deve cumprir, não pode esquecer, tem gravar na mente e no coração e transmitir aos seus descendentes. Estas palavras devem estar atadas no braço e diante dos olhos. Devem marcar os umbrais das portas das casas e da cidade. Tem que ser constantemente recordada quando entrarem na terra prometida para compreenderem que foi o Senhor Deus quem os tirou da terra do Egito. «Quando tiveres comido até à saciedade, não te esqueças do Senhor, que te fez sair da terra do Egito».

meditar a palavra
O caminho do Êxodo é uma experiência difícil que une o povo à volta de Moisés e de olhar no céu à espera da água, do pão e da carne que Deus vai mandando para o caminho. A esperança de chegar à terra onde corre leite e mel, onde tudo está construído, semeado, a frutificar, para usufruir e saborear em descanso, ajuda o povo a suportar o peso do calor e o cansaço do caminho. Mas Deus sabe que, passado algum tempo, quando finalmente entrarem na terra prometida, facilmente esquecerão aquele que os libertou da casa da escravidão. Vemos isso muitas vezes na nossa vida. Em tempos de sofrimento e dor corremos para o Senhor pedindo auxílio e em tempos de festa e bem estar esquecemos o Senhor porque nada nos aflige. É o Deus das aflições e a fé dos oportunistas. A palavra, porém, diz: «Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças». Entendamos o que isto significa.

rezar a palavra
Grava no meu coração, Senhor, a palavra que me une a ti para sempre. Só tu és o meu Senhor. Que só a ti ame e só a ti entregue a minha alma e o meu coração e em nenhum momento desfaleça na vontade de te amar.

compromisso
Recordo os momentos em que o Senhor salvou a minha vida e dou graças por isso.

EVANGELHO Mt 17, 14-20

Naquele tempo, aproximou-se de Jesus um homem, que se ajoelhou diante d’Ele e Lhe disse: «Senhor, tem compaixão do meu filho, porque é epilético e sofre muito; cai frequentemente no fogo e muitas vezes na água. Apresentei-o aos teus discípulos, mas eles não puderam curá-lo». Jesus respondeu: «Oh geração incrédula e perversa! Até quando estarei convosco? Até quando terei de vos suportar? Trazei-mo aqui». Jesus ameaçou o demónio, que saiu do menino e este ficou curado a partir daquele momento. Então os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram-Lhe em particular: «Por que motivo não pudemos nós expulsá-lo?». Jesus respondeu-lhes: «Por causa da vossa pouca fé. Em verdade vos digo: se tiverdes fé comparável a um grão de mostarda, direis a este monte: ‘Muda-te daqui para acolá’, e ele há de mudar-se. E nada vos será impossível».

compreender a palavra
A aflição de um pai perante a desgraça do filho serve para Jesus chamar os discípulos à fé. De facto, para Jesus, o problema nunca é a doença. Ele não curou todos os doentes que havia naquele tempo naquelas terras. Curou muitos, mas não todos. A ação de Jesus visa mais a fé do que a doença. Percebemos no relato que o homem se aproximou de Jesus porque tinha o filho doente e os discípulos também se aproximaram de Jesus porque não foram capazes de o curar. Tanto um como os outros não perceberam que aproximar-se de Jesus exige a fé. Por isso Jesus reage de modo tão inesperadamente brusco e irritado. Nem os apóstolos, nem o homem, nem os presentes, mostram a fé necessária para acontecer o dom de Deus que é mais que a simples cura de um jovem epilético. Jesus explica isso aos discípulos e chama-os à fé. Com fé nada é impossível.

meditar a palavra
A busca do deus dos milagres não é a busca do Deus verdadeiro. Jesus cura muitas pessoas, acolhe os que padecem, mas não permite que o confundam com um curandeiro, com um deus menor, com um moço de recados sempre disponível para fazer milagres com pré marcação. A fé gera em nós uma capacidade de acolher a própria vida como ela é e uma confiança total na presença de Deus. De Deus vem a força para abraçar a cruz e da fé o milagre de a carregar até ao fim. As palavras de Jesus perguntam-nos pela fé que temos, uma fé que pede para aliviar o peso da vida ou uma fé que pede auxílio para carregar todos os pesos que nos pertencem e auxiliar ainda alguns que caminham connosco. Afinal, não é impossível carregar a cruz até ao calvário e Jesus prova isso carregando a sua.

rezar a palavra
Às vezes, Senhor, pergunto pela minha fé. Umas vezes parece-me que tenho muita outras vezes julgo não ter nenhuma. Nem sempre o que sinto corresponde à verdade. Sei que não quero fugir das consequências da minha vida, das exigências dos meus compromissos, da responsabilidade para comigo e para com os outros, da adesão ao teu projeto de amor libertador. Não quero aliviar a minha carga, mas conto contigo para ter as forças necessárias para transportar a cruz até ao fim.

compromisso
Vivo a fé daqueles que, como Jesus, carregam a sua cruz e a de outros, pelo caminho mais difícil até ao fim.