Há uma luz que salva da escuridão
Descem sombras que escurecem o invisível. A luz brilha, mas as trevas não a querem ver. Fecham-se em casa os corações perdidos. Prendem-se as mãos dos homens livres. Apaga-se a torcida que fumega.
Que se oiça a voz. Que brilha a luz. Soltem-se as amarras e nasça o novo dia. Vem Senhor Jesus!
LEITURA I Is 61, 1-2a.10-11
O espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu e me enviou a anunciar a boa nova aos pobres, a curar os corações atribulados, a proclamar a redenção aos cativos e a liberdade aos prisioneiros, a promulgar o ano da graça do Senhor. Exulto de alegria no Senhor, a minha alma rejubila no meu Deus, que me revestiu com as vestes da salvação e me envolveu num manto de justiça, como noivo que cinge a fronte com o diadema e a noiva que se adorna com as suas joias. Como a terra faz brotar os germes e o jardim germinar as sementes, assim o Senhor Deus fará brotar a justiça e o louvor diante de todas as nações.
Isaías anuncia a chegada daquele que, animado pelo Espírito do Senhor, pode libertar o seu povo de todas as opressões. Este anúncio realiza-se em Jesus que assumiu na sinagoga de Nazaré este programa como missão para toda a sua vida. A chegada do Messias é razão de alegria para todos, também para nós hoje.
Salmo responsorial Lc 1, 46-48.49-50.53-54 (R. Is 61, 10b)
O Magnificat de Maria serve, nesta celebração, para responder ao anúncio feito na primeira leitura. Mãe do Messias, Maria canta a alegria anunciada por Isaías, porque nela se realiza a promessa feita por Deus ao seu povo, ao escolhê-la para mãe do salvador.
LEITURA II 1 Tes 5, 16-24
Irmãos: Vivei sempre alegres, orai sem cessar, dai graças em todas as circunstâncias, pois é esta a vontade de Deus a vosso respeito em Cristo Jesus. Não apagueis o Espírito, não desprezeis os dons proféticos; mas avaliai tudo, conservando o que for bom. Afastai-vos de toda a espécie de mal. O Deus da paz vos santifique totalmente, para que todo o vosso ser – espírito, alma e corpo – se conserve irrepreensível para a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo. É fiel Aquele que vos chama e cumprirá as suas promessas.
Paulo propõe aos tessalonicenses que procurem fazer a vontade de Deus, vivendo centrados em Cristo, na alegria, na oração e na ação de graças e acolhendo os dons do Espírito e as suas manifestações na comunidade cristã.
EVANGELHO Jo 1, 6-8.19-28
Apareceu um homem enviado por Deus, chamado João. Veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos acreditassem por meio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz. Foi este o testemunho de João, quando os judeus lhe enviaram, de Jerusalém, sacerdotes e levitas, para lhe perguntarem: «Quem és tu?». Ele confessou a verdade e não negou; ele confessou: «Eu não sou o Messias». Eles perguntaram-lhe: «Então, quem és tu? És Elias?». «Não sou», respondeu ele. «És o Profeta?». Ele respondeu: «Não». Disseram-lhe então: «Quem és tu? Para podermos dar uma resposta àqueles que nos enviaram, que dizes de ti mesmo?». Ele declarou: «Eu sou a voz do que clama no deserto: ‘Endireitai o caminho do Senhor’, como disse o profeta Isaías». Entre os enviados havia fariseus que lhe perguntaram: «Então, porque batizas, se não és o Messias, nem Elias, nem o Profeta?». João respondeu-lhes: «Eu batizo na água, mas no meio de vós está Alguém que não conheceis: Aquele que vem depois de mim, a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias». Tudo isto se passou em Betânia, além do Jordão, onde João estava a batizar.
Em Betânia, João Batista anuncia a chegada daquele que é a luz que ilumina todo o homem que vem a este mundo. É Jesus, o verbo de Deus que existe desde o princípio e que batiza no Espírito Santo.
Reflexão da Palavra
O texto de Isaías, apresentado na primeira leitura, tem um sabor messiânico. Abre à perspetiva de um tempo novo, protagonizado por alguém, o messias que libertará o povo de toda a opressão e implementará a justiça entre os membros do seu povo e na relação com outros povos.
Este texto pode ver-se também como o chamamento vocacional de um profeta, pela forte carga de missão que apresenta, sobretudo pela ligação ao envio e à palavra, visível nas expressões “enviou a anunciar”, “a proclamar”, a promulgar”.
O recurso ao Espírito do Senhor, tendo em conta a tradição profética, refere a ação de Deus. O tempo messiânico que vai inaugurar-se é obra de Deus que liberta em primeiro lugar no interior de cada um e só depois atua no exterior, eliminando todas as situações de opressão social e política.
Se é verdade que a justiça vai brotar da terra, o que implica a participação humana na ação libertadora, não pode esquecer-se que a iniciativa, a fonte de toda a libertação, é ação de Deus. Ele atua através do seu Espírito naqueles que escolhe como protagonistas da vitória sobre a opressão. É o Senhor quem envia o seu Espírito e é o Senhor quem “me revestiu com as vestes da salvação e me envolveu num manto de justiça”. Esta ação de Deus é motivo de alegria, por isso “exulto de alegria no Senhor, a minha alma rejubila no meu Deus”
Ao utilizar e aplicar a si mesmo este texto como programa de vida, Jesus apresenta-se como o Messias que, animado pelo Espírito, vem pôr fim a toda a espécie de opressão, trazendo para a luz aqueles que se encontram nas trevas das prisões ou do coração.
O texto apresentado para ocupar o lugar do salmo faz parte do evangelho de Lucas e consiste do cântico do Magnificat. Maria canta a sua alegria por tudo o que o Senhor realizou em favor do seu povo ao dar-lhe, a ela, a graça de ser a mãe do salvador. Este cântico, também ele de sabor messiânico, coloca a celebração deste domingo na dupla dimensão da vinda do Messias e da alegria que ela significa para todas as gerações.
O texto da segunda leitura, tirado da primeira carta aos tessalonicenses, centra a experiência cristã em Cristo e na ação de Deus por meio do seu Espírito. É Deus quem santifica o homem, fá-lo por meio de Cristo, cumprindo nele e no cristão todas as suas promessas. A resposta do cristão à ação de Deus é uma vida na alegria, na oração e na ação de graças, o que supõe o acolhimento do Espírito, dos seus dons e carismas.
No seguimento da apresentação do “Verbo”, que é Deus e por meio do qual “começou a existir” tudo quanto existe, o evangelista afirma que, pela ação da mesma “Palavra”, (pela ação do Verbo), começou a existir como homem alguém concreto que tem o nome de João e que é enviado por Deus. Pela Palavra de Deus João, o Batista, chegou a ser o que é, um enviado. E, não sendo a luz, chegou a ser aquilo para que foi enviado, testemunha da luz, a fim de que todos creiam. Não é por acaso que o evangelista situa a missão de João em Betânia, que significa “casa do testemunho”.
Em seguida, o evangelho apresenta um diálogo entre João Batista e os enviados dos judeus para esclarecer, relativamente a João, tudo o que diz respeito à luz. Ele não é a luz, a luz é outro. Ele apenas dá testemunho da luz. João é simplesmente a voz daquele que ainda não conhecem. Esse sim, é a luz. Não pode confundir-se a luz com aquele que dá testemunho da luz, porque a luz é anterior, é maior, está acima, relativamente àquele que dela dá testemunho.
Meditação da Palavra
A liturgia deste domingo coloca diante de nós a figura do profeta que se entende a si mesmo como cheio, repleto, do Espírito que nele realiza duas ações “unge e envia”. Ungido pelo Espírito, o profeta já não se pertence a si mesmo, foi consagrado, pertence ao Senhor, está totalmente ao serviço daquele que o ungiu.
Como pertença do Senhor é enviado com uma missão concreta, “anunciar a boa nova aos pobres, a curar os corações atribulados, a proclamar a redenção aos cativos e a liberdade aos prisioneiros, a promulgar o ano da graça do Senhor”, que é palavra e testemunho, anúncio e libertação.
Esta palavra realiza-se plenamente em Jesus que, na sinagoga de Nazaré, se assume como o ungido do Espírito para dar pleno cumprimento à vontade de Deus, “cumpriu-se hoje mesmo esta palavra que acabais de ouvir”.
No evangelho somos confrontados com a figura de João Batista. Ele está em Betânia, a “casa do testemunho”, a batizar. Quem o vê questiona-se sobre quem ele é de verdade. E a resposta a esta interrogação é dada pelo evangelista através da figura da testemunha. João não é a luz, ele dá testemunho da luz. A luz é outro, é Jesus, o Verbo que “no princípio estava em Deus e era Deus e por quem tudo começou a existir. Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens, a luz que brilhou nas trevas”.
Ora João, não é a Luz, não é o Messias, nem é o profeta. Ele é apenas a voz daquele que no deserto manda endireitar os caminhos do Senhor.
Perante esta palavra compreendemos que também nós, membros da Igreja na comunidade concreta a que pertencemos, somos a “casa do testemunho”. Ungidos pelo Espírito pertencemos ao Senhor e não a nós mesmos. Somos a Igreja de Jesus Cristo enviada a continuar a missão de anunciar a Boa Nova aos pobres, aos homens e mulheres sem Deus, sem esperança e sem caminho. A libertar os prisioneiros, homens e mulheres sem liberdade exterior e interior, escravos dos outros e de si mesmos, impedidos de usar a plenitude das suas faculdades, de sonhar e concretizar os seus projetos. A curar os corações atribulados, magoados, ofendidos, agredidos, marcados pela discriminação, pela intolerância e carentes de amor. E, sobretudo, a dizer a todos que este tempo é de graça, tempo de Deus e da sua misericórdia.
Como casa do Testemunho, nós, a Igreja, somos chamados a revelar com a vida que tudo isto acontece porque está entre nós aquele que ainda nem todos conhecem, que ele, sim, é o Messias, que é maior do que nós, do qual somos apenas a voz. Por ele o nosso batismo não é apenas na água, como o de João, mas no Espírito Santo.
Este testemunho da Igreja, o nosso testemunho, será credível se, como diz Paulo na carta aos tessalonicenses, vivemos em Cristo e nele nos tornamos alegria permanente, oração constante e contínua ação de graças. Se, como ainda adianta Paulo, avivamos o Espírito, acolhemos os carismas, avaliamos tudo e conservamos, em nós e na comunidade, o que é bom.
Rezar a Palavra
Unge-nos, Senhor, com o teu Espírito e desperta em nós o testemunho da verdadeira luz. Consagra-nos para o serviço aos corações atribulados e faz-nos libertadores dos homens oprimidos. Que nos inunde a alegria que vem de Cristo, o Verbo encarnado, e pela oração nos tornemos vencedores daquele mal que não deixa ver os dons espirituais presentes na comunidade e em cada um dos irmãos.
Compromisso semanal
Acolho o Espírito que me consagra e envia aos irmãos atribulados.