Leitura I (anos pares) Mq 2, 1-5

Ai daqueles que, deitados em sua cama, planeiam a injustiça e tramam o mal! Ao romper do dia, logo o praticam, porque está ao seu alcance. Cobiçam os campos e roubam-nos, desejam as casas e apoderam-se delas. Escravizam o homem e a sua casa, o dono e a sua herança. Por isso, diz o Senhor: «Eu penso em mandar contra esta gente um castigo de que não podeis livrar a cabeça. Não mais andareis de fronte erguida, pois será um tempo de desgraça. Nesse dia entoarão contra vós uma sátira e vos cantarão assim os seus lamentos: ‘Estamos totalmente arruinados. Os bens do meu povo foram confiscados e não há ninguém para lhos devolver; os nossos campos são entregues a quem nos tiraniza’. Por isso não haverá ninguém que tire à sorte uma porção para vós, na assembleia do Senhor».

compreender a palavra
A injustiça é a situação mais abominável aos olhos do Senhor. Miqueias faz-se arauto da palavra do Senhor contra aqueles que praticam a injustiça. Planeiam durante a noite e põem em prática logo pela manhã. A Injustiça fere a Deus porque para ele todos os homens são iguais em direitos e deveres. Ora os ricos e poderosos, usando das suas artimanhas, enganam e exploram os pobres roubando-lhes o pouco que possuem. Não basta não terem o suficiente senão ainda serem roubados pelos que têm tudo. Deus ergue a sua voz por meio do profeta e ameaça-os de castigo implacável: “Eu penso em mandar contra esta gente um castigo de que não podeis livrar a cabeça”.

meditar a palavra
A injustiça de que fala o profeta tem a ver com a posse de bens. A economia de Israel estava assente na distribuição da terra feita por Josué à chegada à terra prometida, depois da saída do Egito. O que se vendia ou arrendava ao longo de cinquenta anos voltava, no ano jubilar, à sua origem, porque se vendiam e arrendavam os anos de colheita. Mas, há sempre aqueles que maquinam formas injustas para se apoderarem da desgraça alheia e acabam por enriquecer e tornar-se poderosos e sem escrúpulos. Hoje, como ontem, na relação entre os homens, pode ver-se a injustiça quanto aos bens da terra, em relação ao bom nome das pessoas e nas oportunidades que são dadas a uns e impedidas a outros por critérios pouco honestos. Mas também nos compadrios, nas amizades oportunistas, na maledicência despudorada e em tantas formas de oprimir, esmagar e reduzir a nada a dignidade daqueles que são homens e mulheres, filhos amados de Deus como nós.

rezar a palavra
Por ti clamo, Senhor, escuta a minha voz porque te invoco. Põe uma sentinela de guarda à minha boca, para que não humilhe os pobres e defende a porta dos meus lábios para que não danifique a dignidade de ninguém. Não me deixes escorregar na maldade nem praticar a iniquidade com os ímpios e livra-me das intrigas dos que praticam o mal. Para ti, Senhor, se voltam os meus olhos; em ti me refugio, não me abandones.

compromisso
É o Senhor quem guarda o meu coração da injustiça.

Evangelho Mt 12, 14-21

Naquele tempo, os fariseus reuniram conselho contra Jesus, a fim de O fazerem desaparecer. Mas Jesus, ao saber disso, retirou-Se dali. Muitos O seguiram e Ele curou-os a todos, mas intimou-os que não descobrissem quem Ele era, para se cumprir o que o profeta Isaías anunciara, ao dizer: «Eis o meu servo, a quem Eu escolhi, o meu predileto, em quem se compraz a minha alma. Sobre ele farei repousar o meu Espírito, para que anuncie a justiça às nações. Não discutirá nem clamará, nem se fará ouvir a sua voz nas praças. Não quebrará a cana já fendida, nem apagará a torcida que ainda fumega, enquanto não levar a justiça à vitória; e as nações colocarão a esperança no seu nome».

compreender a palavra
Jesus começa a sentir a perseguição dos fariseus. Na sua missão, mais importante do que todas as deliberações daqueles que o querem eliminar, a prioridade é para a justiça. Levar a justiça às nações é o seu programa de vida. Entenda-se “justiça” como misericórdia de um Deus que vem salvar o homem oprimido, esmagado, pela vida, pela sociedade, pela lei cega e indiferente, pelo sofrimento nas suas múltiplas expressões. Jesus cura a todos na simplicidade e no silêncio porque o reino de Deus acontece no silêncio do encontro de cada homem com Ele. E assim se cumprem as Escrituras.

meditar a palavra
Libertar o coração de todos os preconceitos em relação aos outros. Muitas vezes sinto o outro como uma ameaça. Porque é melhor, porque faz de outra forma, porque consegue mais resultados, porque atrai mais adeptos ou simplesmente porque revela no seu agir, as minhas fragilidades. Em vez de assumir, acolher o outro e gerar comunhão construindo juntos, prefiro criar obstáculos, gerar conflito, afastar e eliminar. Jesus torna-se presente e cura todos os que o seguem de coração livre. Cura deste preconceito, desta agressividade, deste mau sentimento que vê o outro como adversário e inimigo. O segredo que Jesus nos diz ao ouvido é o da abertura de coração. Abre-te à novidade do Reino que está a gerar-se no silêncio dos corações que se deixam seduzir no encontro com Ele.

rezar a palavra
É tão difícil, Senhor, com algumas pessoas, pela sua maneira de ser, pela forma como se apresentam, pelas suas atitudes, acolhê-las e assimilá-las no coração reconhecendo-as como irmãos, como dom, como dádiva que vem para enriquecer a nossa vida. Prefiro tantas vezes criar animosidade, indiferença ou mesmo travar uma guerra inútil. Dá-me um coração novo que saiba acolher a novidade.

compromisso
Vou vencer os maus sentimentos que há em mim e evitar que outros se instalem e criem raízes.