Muitas vezes Deus falou ao longo dos séculos pelos seus mensageiros, os profetas. Algumas vezes as suas palavras foram ouvidas, outras rejeitadas e esquecidas. Mas, chega um momento em que o próprio Deus fala porque vem diretamente, em pessoa, ao encontro do homem. O Natal é esse acontecimento da história em que Deus e o homem se encontram; em que a Palavra de Deus se humaniza de tal forma que vai mudar o rumo da humanidade.
Esta palavra é de boas notícias porque o Senhor vem consolar o seu povo e a sua salvação chega a todos os lugares da terra (Salmo). É a intervenção definitiva de Deus em Cristo, a sua palavra humana depois das palavras fragmentárias dos profetas (2ª leitura). Deus dá-nos tudo em seu filho Jesus: todas as palavras na Palavra.
- Comunicação aos simples
– O Natal celebra o encontro de Deus com a humanidade, principalmente com os simples, os excluídos e os marginais como os pastores da região de Belém… Eles foram os primeiros a ver a luz e a ouvir a voz de Deus que anunciava o nascimento do Salvador…
– Na ocasião, foram eles os primeiros a escutar a palavra e a dirigir-se ao encontro do menino-Deus que veio visitar a humanidade: descobrem-no na condição simples de alguém como eles, deitado numa manjedoira… Era este o seu ambiente e o seu modo de vida… E descobrem que Deus veio ao seu mundo, ao encontro deles e de todos… Mas os primeiros a perceber isto foram os que entendiam pouco do poder, dos argumentos racionais, do dinheiro, da prepotência e do individualismo…
- Deus é humano
– O nosso Deus é um Deus que se esvazia para comunicar connosco. E esta comunicação faz-se por factos e pela palavra: palavra débil e forte porque é humana, palavra de Boas Novas, eficaz e penetrante, uma palavra que estremece e nos deixa ficar mudos, tal o impacto que cria na nossa vida…
– A palavra é Deus que se faz carne na nossa história. A sarx, o termo grego que traduzimos por carne, indica o débil do humano, o frágil, o que quebra e morre…
– Deus fez-se carne, para ser nosso companheiro, “montou a tenda” no meio de nós, participa dos nossos sofrimentos, ameaças e esperanças…
– O Deus-carne é um Deus solidário, que participa connosco nas vicissitudes da vida… Não se impõe como dominador e, por isso, pode ser rejeitado, pode não ser acolhido: “a luz brilha nas trevas e as trevas não o receberam…”; “… o mundo não o conheceu… Veio para o que era seu e os seus não o receberam…” Há sempre quem não aceite um Deus que se torna tão próximo de nós… - O projecto de Deus é o homem
– Mas, mesmo assim, Deus não desiste: prefere correr o risco de ser rejeitado a abandonar os homens e o seu projecto de amor para eles: quer comunicar-se, desce ao mundo dos humanos, entrega-se nas mãos dos homens que ama…
– Parece que isto continua a ser inaudito porque temos sempre alguma dificuldade em entender: Deus que é a vida, a luz verdadeira, a palavra eterna, humaniza-se fazendo-se carne… Diante desta Palavra, só podemos ficar mudos porque não há argumentos racionais que suportem este desígnio de Deus…
– O Evangelho termina com uma afirmação lapidar: “A Deus, nunca ninguém o viu. O Filho Unigénito, que está no seio do Pai, é que o deu a conhecer”. A Palavra é revelação: Jesus não é apenas mais um que fala de Deus, mas é a carne de Deus na nossa história. Deus disse-nos quem era ao encarnar em Jesus…
– A novidade cristã, a fé que nós professamos, não se baseia tanto em doutrinas sublimes ou solenes fórmulas teológicas, mas principalmente no Deus que se faz homem em Jesus, que se comunica assim, através de uma pessoa, que fala e faz as obras de Deus… Deus faz-se homem em Jesus e Jesus mostra tudo o que é Deus… Um homem como Jesus só podia ser Deus…
– A quantos nos perguntarem quem é Deus e como é que O podemos conhecer, só temos uma resposta a dar: procura conhecer Jesus e aproxima-te dele; Ele é o rosto humano de Deus; é Deus connosco…