Muitos já terão feito a experiência da despedida de uma pessoa querida, que sente a morte aproximar-se: a separação é sempre dolorosa, a ausência abre feridas, ficam muitas interrogações sem resposta, somos invadidos pelo medo e pela solidão. Como é que vamos enfrentar a vida sem aquela pessoa que preencheu tantos momentos felizes da nossa vida? Como serão os dias a seguir?…
Em momentos destes, as últimas palavras dessa pessoa amada ficam para sempre gravadas no nosso coração, com uma marca muito especial, guardadas como um compromisso para o resto da nossa vida. Também foi isto que aconteceu com Jesus naquela última ceia com os seus discípulos, onde Ele lhes dirige as suas palavras de despedida, algumas das quais foram ouvidas no Evangelho de hoje.

  1. A despedida de Jesus

– O ambiente da última ceia é muito tenso: Judas, um dos Doze, sai do convívio à volta da mesa com o propósito de entregar Jesus. O que é que leva alguém a trair um amigo? Que ideia tinha ele feito do Mestre? Que pretende ele com a morte de Jesus?… Esta experiência da traição, do abandono ou do simples distanciamento de um amigo é também ela dolorosa…
– Jesus continua com a mesma confiança de sempre no Pai. Ele sabe que o Pai não o abandona… Ao mesmo tempo pensa nos discípulos e reafirma o seu amor por eles até ao ponto de se entregar por todos…
– Certamente que eles se lembram dos grandes momentos que passaram com o Mestre: a palavra que receberam, o pão que Ele distribuiu para alimentar as multidões, os sinais do amor de Deus que Ele transmitiu, a sua aproximação aos pobres e necessitados… No momento da despedida, os discípulos não podem ter esquecido tantas coisas extraordinárias, tantos momentos de felicidade passados com o Mestre…
– Os que permanecem com Jesus querem, com certeza, renovar o seu compromisso de ser fiéis ao mandato do Senhor… Confiam que o amor é mais forte do que a morte. Com a força deste amor que brota de Jesus, confiam que podem continuar a sua obra, embora reconheçam que os tempos vão mudar e a situação não se torna fácil…
– O que é que eles fixaram da vida e dos ensinamentos de Jesus? O que é que têm a esperar e o que é que podem e devem fazer?

  1. A Lei fundamental de Jesus

– Jesus não elaborou nenhum código de leis para que os discípulos pudessem “governar” a partir dessas bases legais. Ele enuncia o seu programa maior, o seu mandamento novo, formulando-o, não em termos de direitos para proteger quem manda, mas de deveres: “amai-vos uns aos outros…” Não me parece que haja algum País ou alguma organização que contenha na sua lei fundamental um princípio destes. De facto, isto está só no Evangelho, na Bíblia dos cristãos…
– E Jesus acrescenta: “como eu vos amei”… A pessoa de Jesus é a referência primeira e última. Por isso, o amor à maneira de Cristo vai mais além do “amar o próximo como a si mesmo”… O amor que os cristãos proclamam não é um amor qualquer: é o amor misericordioso, o que sai de dentro… O amor que torna Jesus presente… É no amar como Jesus que está o distintivo dos cristãos… É o amor agápe (palavra consagrada pelos cristãos e que caracteriza o NT), superior à simples amizade ou à atracção pelo outro…
– Para amar como Jesus amou é preciso conhecê-Lo, saber o que Ele fez particularmente na relação com os pecadores, com os desprotegidos e com os inimigos,… Não é amar aquilo ou aqueles que são dignos do nosso amor!… É amar os outros mais do que a nós mesmos…

  1. Permanecer firme na fé

– As primeiras comunidades cristãs, como refere o livro dos Actos, cresceram a partir desta convicção: ainda que as circunstâncias não fossem favoráveis, o Evangelho devia expandir-se e chegar o mais longe possível…
– No regresso da primeira viagem missionária, Paulo e Barnabé voltam a visitar algumas comunidades que já tinham fundado, fortalecendo os discípulos e recordando que “as tribulações são uma porta de entrada no reino de Deus”… Mas, sempre confiados na graça de Deus contaram, com alegria, como Deus tinha aberto aos gentios a porta da fé…
– Aqueles pagãos sentiram que também estavam chamados à fé em Jesus, reconhecendo que há respostas às últimas perguntas que só podem ser dadas pela fé no Senhor ressuscitado… O “novo céu e a nova terra”, a cidade santa que é a nova Jerusalém do livro do Apocalipse, o fim do luto, da tristeza e da morte, só se realizam na ressurreição de Cristo que assim “renova todas as coisas”…
– Só o amor de Jesus nos pode levar a acreditar que esta visão do autor do livro do Apocalipse não é nenhuma utopia…