O poder renovador da gratuidade

No princípio, depois de Deus criar os céus, a terra e o mar, as aves, os animais e os peixes, depois de terem crescido as florestas, criou o homem. Disse Deus: “Haja música” e ouviu-se uma melodia no firmamento. Então, Deus disse ao homem: “Dança”. E o homem dançou com os astros, as aves, os peixes e os anjos.

Certo dia, o homem cansou-se de dançar para Deus e disse para consigo: “Ninguém valoriza o meu talento… ninguém dança como eu e perco todas as oportunidades da vida a dançar para esta gente. E partiu… pouco a pouco deixou de ouvir a música… depois perdeu a vontade de dançar… e ficou perdido no sonho de ser um grande bailarino.

Deambulava pelas ruas quando ouviu uma música conhecida e parou. Olhou em volta e viu alguém a dançar aquela que tinha sido a sua primeira dança. Sentiu saudades de quando dançava com tanta ternura e…

LEITURA  I          Js 5, 9a.10-12

Tendo entrado na terra prometida,
o povo de Deus celebra a Páscoa
Leitura do Livro de Josué
Naqueles dias,
disse o Senhor a Josué:
«Hoje tirei de vós o opróbrio do Egito».
Os filhos de Israel acamparam em Gálgala
e celebraram a Páscoa,
no dia catorze do mês, à tarde,
na planície de Jericó.
No dia seguinte à Páscoa,
comeram dos frutos da terra:
pães ázimos e espigas assadas nesse mesmo dia.
Quando começaram a comer dos frutos da terra,
no dia seguinte à Páscoa,
cessou o maná.
Os filhos de Israel não voltaram a ter o maná,
mas, naquele ano,
já se alimentaram dos frutos da terra de Canaã.

Chegou ao fim o grande êxodo que separa o Egito da terra da promessa. O povo, agora instalado na terra que Deus prometeu aos seus pais, sente a libertação de um peso e alimenta-se dos frutos da terra e do seu trabalho. Deus que os acompanhou até ali dando-lhes o maná e a água do rochedo, agora vai acompanhá-los de Páscoa em Páscoa.

Salmo Responsorial     Sl 33 (34), 2-3.4-5.6-7 (R. 9a)

A partir da experiência de ter sido ouvido na sua angústia e salvo de toda a ansiedade, o salmista convida todos os pobres a procurar o Senhor e a encontrar nele a admirável libertação.

LEITURA  II        2Cor 5, 17-21

Irmãos:
Se alguém está em Cristo, é uma nova criatura.
As coisas antigas passaram; tudo foi renovado.
Tudo isto vem de Deus,
que por Cristo nos reconciliou consigo
e nos confiou o ministério da reconciliação.
Na verdade, é Deus que em Cristo reconcilia o mundo consigo,
não levando em conta as faltas dos homens
e confiando-nos a palavra da reconciliação.
Nós somos, portanto, embaixadores de Cristo;
é Deus quem vos exorta por nosso intermédio.
Nós vos pedimos em nome de Cristo:
reconciliai-vos com Deus.
A Cristo, que não conhecera o pecado,
Deus identificou-O com o pecado por causa de nós,
para que em Cristo nos tornemos justiça de Deus.

Paulo recorda aos coríntios que a reconciliação só é possível em Cristo e mediante um sentimento semelhante ao de Deus para connosco. Nós enchemo-nos de razões que provocam e conservam as divisões, as discórdias, as ofensas e, com isso, não chegamos ao perdão. Deus não olha para as nossas faltas e ama-nos apesar de todo o mal que fazemos. A morte de Cristo é sinal do poder reconciliador do amor gratuito de Deus.

EVANGELHO    Lc 15, 1-3.11-32

Naquele tempo,
os publicanos e os pecadores
aproximavam-se todos de Jesus, para O ouvirem.
Mas os fariseus e os escribas murmuravam entre si, dizendo:
«Este homem acolhe os pecadores e come com eles».
Jesus disse-lhes então a seguinte parábola:
«Um homem tinha dois filhos.
O mais novo disse ao pai:
‘Pai, dá-me a parte da herança que me toca’.
O pai repartiu os bens pelos filhos.
Alguns dias depois, o filho mais novo,
juntando todos os seus haveres, partiu para um país distante
e por lá esbanjou quanto possuía,
numa vida dissoluta.
Tendo gastado tudo,
houve uma grande fome naquela região,
e ele começou a passar privações.
Entrou então ao serviço de um dos habitantes daquela terra,
que o mandou para os seus campos guardar porcos.
Bem desejava ele matar a fome
com as alfarrobas que os porcos comiam,
mas ninguém lhas dava.
Então, caindo em si, disse:
‘Quantos trabalhadores de meu pai têm pão em abundância,
e eu aqui a morrer de fome!
Vou-me embora, vou ter com meu pai e dizer-lhe:
Pai, pequei contra o céu e contra ti.
Já não mereço ser chamado teu filho,
mas trata-me como um dos teus trabalhadores’.
Pôs-se a caminho e foi ter com o pai.
Ainda ele estava longe, quando o pai o viu:
encheu-se de compaixão
e correu a lançar-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos.
Disse-lhe o filho:
‘Pai, pequei contra o céu e contra ti.
Já não mereço ser chamado teu filho’.
Mas o pai disse aos servos:
‘Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha.
Ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés.
Trazei o vitelo gordo e matai-o.
Comamos e festejemos,
porque este meu filho estava morto e voltou à vida,
estava perdido e foi reencontrado’.
E começou a festa.
Ora o filho mais velho estava no campo.
Quando regressou,
ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças.
Chamou um dos servos e perguntou-lhe o que era aquilo.
O servo respondeu-lhe:
‘O teu irmão voltou
e teu pai mandou matar o vitelo gordo,
porque ele chegou são e salvo’.
Ele ficou ressentido e não queria entrar.
Então o pai veio cá fora instar com ele.
Mas ele respondeu ao pai:
‘Há tantos anos que eu te sirvo,
sem nunca transgredir uma ordem tua,
e nunca me deste um cabrito
para fazer uma festa com os meus amigos.
E agora, quando chegou esse teu filho,
que consumiu os teus bens com mulheres de má vida,
mataste-lhe o vitelo gordo’.
Disse-lhe o pai:
‘Filho, tu estás sempre comigo,
e tudo o que é meu é teu.
Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos,
porque este teu irmão estava morto e voltou à vida,
estava perdido e foi reencontrado’».

Deus não contabiliza pecados, mas perdão. Os filhos da parábola contabilizam merecimentos, por isso o mais novo regressa a casa receoso e o mais velho não quer entrar na festa. Somos assim nós, todos pecadores e todos fariseus, incapazes de reconhecer a força renovadora do amor gratuito de Deus.

Reflexão da Palavra

O livro de Josué, de onde se recolhe a primeira leitura é continuidade do Pentateuco e tem como intenção revelar a fidelidade do Senhor para com o seu povo. O livro de Deuteronómio termina com a morte de Moisés antes de entrar na terra da promessa, ficando sepultado na terra de Moab. O livro de Josué dá continuidade a este facto com a eleição do filho de Nun para conduzir o povo através do Jordão e introduzi-lo na terra prometida.

Antes de mais é importante perceber que Josué é um nome que significa, como Jesus, “Deus salva”. De algum modo este personagem aponta para Jesus, aquele que nos introduz na verdadeira terra prometida onde já se encontra Moisés. Josué sabe que não é ele quem salva o povo, mas Deus e traz essa verdade gravada no seu nome. Ele sabe que quem tirou o povo do Egito pela mão de Moisés é o mesmo que o introduz na Palestina pela sua mão. De facto, Deus tirou o povo do Egito com sinais e prodígios e é também com sinais e prodígios que o faz passar o Jordão e conquistar a terra prometida.

Atravessar o rio Jordão significa começar uma vida nova em que o deserto fica para traz com tudo o que ele representa. A terra onde corre leite e mel é sinal de felicidade, de liberdade e de paz, mas tem que ser cultivada, tratada, dominada para, com responsabilidade, tirar dela os frutos necessários para a subsistência. Até aqui, Deus vinha resolver os grandes problemas do seu povo, agora, porém, o povo atingiu a maioridade e tem que assumir o seu destino. Contará sempre com Deus que é fiel à sua aliança, mas o destino do povo passa para a esfera da sua responsabilidade quotidiana. A sua liberdade, de que pode gozar a partir da conquista da terra de Canaã, depende da sua fidelidade à Aliança.

A festa da Páscoa celebra a dupla libertação, a do Egito e a da maioridade. Por isso se diz que “cessou o maná” porque, “naquele ano, já se alimentaram dos frutos da terra de Canaã”, mas não deixaram de dar graças por tudo quanto o Senhor fez por eles.

O salmo 33 é sinal dessa ação de graças permanente, tanto individual como coletiva, de Israel. O salmista tem uma certeza, aquele que se volta para o Senhor não será confundido. Ele próprio fez essa experiência, “procurei o Senhor e ele atendeu-me, libertou-me de toda a ansiedade”. Por isso, convida todos a enaltecerem com ele o Senhor, porque “quando um pobre invoca o Senhor, ele atende-o”.

Podem ser muitas as tribulações daquele que procura o Senhor, porque será sempre atendido, “os olhos do Senhor estão voltados para o justo e os seus ouvidos estão atentos ao seu clamor” porque “o Senhor está perto dos corações contritos e salva os espíritos abatidos”.

As poucas palavras da carta aos coríntios colocam-nos diante do mistério de Deus que temos tanta dificuldade em compreender. Paulo diz-nos que Deus “nos reconciliou consigo por meio de Cristo” e que essa reconciliação acontece “não imputando aos homens os seus pecados”, mas imputando a Cristo os nossos pecados.

Este ministério de reconciliação foi-nos confiado a nós, diz Paulo, por isso “exercemos as funções de embaixadores” e exortamos “reconciliai-vos com Deus”.

No centro deste mistério de reconciliação está Cristo. Foi por ele que fomos reconciliados e quem “está em Cristo é uma nova criação”, pois em Cristo são novas todas as coisas. Foi nele que nos tornámos embaixadores da reconciliação e nele nos tornámos “justiça de Deus”, nós que éramos pecado.

Para compreender o conteúdo profundo deste texto temos que recordar que Deus é cheio de misericórdia e de compaixão, lento para ira e tardo em castigar. É assim que o retratam os salmos e assim o compreendem os profetas e assim o apresenta Jesus. A história da salvação recorda que Deus não acusa os homens dos seus pecados, ele faz aliança com os homens. Abraão não se sentem acusado por Deus, mas um interlocutor na aliança, confia plenamente no cumprimento da promessa. Moisés, não se percebe condenado por Deus, mas escolhido e acompanhado no longo êxodo da libertação. David percebe-se perdoado, muito antes de reconhecer o seu pecado e de manifestar a sua conversão. As parábolas de Jesus apresentam Deus como um pastor, um pai, um agricultor que vai à procura, que vai ao encontro e que cuida com paciência. Na presença de Deus há filhos e não pecadores. Como se vê no evangelho de hoje.

Lucas introduz a parábola com uma afirmação preciosa que ajuda a compreender a mensagem de Jesus. “os pecadores aproximavam-se todos de Jesus, para O ouvirem” enquanto “os fariseus e os escribas murmuravam”, porque Jesus “acolhe os pecadores e come com eles”.

Nestas primeiras linhas encontramos um grupo feliz porque, embora aos olhos dos homens não mereça, senta-se à mesa com Jesus e outro grupo que considera merecer, mas prefere ficar a criticar Jesus por considerar que ele devia reconhecer o pecado daqueles que estão com ele à mesa, pois, no seu entender, é assim que Deus faz.

Jesus conta uma parábola, na qual procura esclarecer que Deus não é como eles pensam e que entre os pecadores e os fariseus não há assim tanta diferença. O Pai da parábola é Deus, o filho mais velho são os fariseus e os escribas e o mais novo são os considerados pecadores pelos senhores do templo.

O pai da parábola ama os filhos e dá-lhes a liberdade que desejam, não está agarrado aos bens, dá a cada um dos filhos o que lhes pertence e tudo o que tem pertence igualmente aos filhos. Não pede justificações ao mais novo nem explicações ao mais velho. Simplesmente acolhe um e outro, põe a sua casa à disposição dos dois, prepara a mesa e faz festa para ambos.

Os filhos tomam decisões diferentes mas têm os dois a mesma mentalidade. O mais novo considera merecer a herança e fazer com ela o que entender e acaba reconhecendo que, diante do pai, já não merece ser reconhecido como filho. O mais velho considera-se merecedor de mais do que o Pai lhe dá porque não entende a generosidade do “tudo é teu” e vai contabilizando merecimentos até atirar à cara do Pai “nunca me deste um cabrito”. Mais novo e mais velho correm o risco de se perderem do pai. O mais novo gastando a vida de modo irresponsável e o mais velho com a irresponsabilidade de não perceber a força da misericórdia escondida nas palavras do pai, “tínhamos de fazer uma festa”.

O pai não é como os filhos, ele apenas ama, não contabiliza nem receitas nem prejuízos. Para ele os dois são filhos e não pode fazer menos do que dar a um e a outro a veste nobre, para se sentarem com ele à mesa da festa. Não são os filhos quem adquire, por merecimento, a veste que lhes dá o acesso à festa. É o pai quem, gratuitamente, reveste um e outro com a dignidade de filhos.

Esta é a verdadeira imagem de Deus, difícil de compreender por parte dos escribas e fariseus, que se identificam com as palavras do filho mais velho, “há tantos anos que eu te sirvo, sem nunca transgredir uma ordem tua” e compreendem que Deus, Jesus, está a ser injusto com eles ao fazer festa ao filho pecador, ao sentar-se à mesa com os pecadores.

Meditação da Palavra

A palavra deste quarto domingo da quaresma, o domingo lectarae, chama-nos à liberdade responsável diante de nós, dos outros e de Deus. Libertado do Egito e feito o caminho do êxodo, o povo chega à terra prometida. Até aqui foi transportado sobre asas de águia, sob a proteção de Deus que o guardou na nuvem e alimentou com o pão descido do céu. Agora, começa uma nova etapa que exige o sentido da responsabilidade. O Deus de Abraão, Isaac e Jacob, que os tirou da escravidão, firmou uma nova aliança que implica um compromisso das duas partes, “Serei o teu Deus e será o meu povo”. Josué, cujo nome significa o mesmo que Jesus, “Deus salva”, chama ao compromisso diante do Senhor, antes de passar as águas do Jordão. Permanecer na terra da liberdade implica abandonar o pecado, os ídolos e toda a sedução do mal para permanecer fiel à Aliança feita com Deus.

Deus sabe que o povo não consegue ser fiel. O pecado está sempre presente na vida do homem e o seu povo não é exceção. Só Deus é fiel ao seu amor pelo homem e não abdica desse amor nem mesmo quando, obstinado, o homem se afasta dele, seduzido pela possibilidade de ser feliz em outro lugar. Este seria o drama definitivo do homem se Deus contabilizasse no seu bloco de notas os pecados de cada um, “se tiverdes em conta os nossos pecados, Senhor, quem poderá salvar-se”, reza o salmo 129. Mas Deus não tem um bloco de notas, nem contabiliza os nossos pecados. O Senhor é bom, atende o clamor do pobre e salva-o das suas angústias.

Nem sempre compreendemos este amor generoso de Deus. Por vezes acreditamos que Deus é como nós, que entende a justiça castigando os que fazem o mal e premiando os que fazem o bem. Mas Deus não é como nós. O seu modo de pensar está tão distante do nosso modo de pensar, como o céu está distante da terra.

O desejo do Senhor é que o homem viva e não morra, que ele se salve e não se condene, que seja livre e não oprimido, que seja filho e não escravo. O homem vive em Deus e morre ao afastar-se de dele. Por isso Deus faz tudo o que está ao seu alcance para que o homem regresse a ele de todo o coração, mas na liberdade da sua consciência, libertando-o do seu opróbrio.

A carta aos Coríntios recorda que, para reconciliar consigo todos os homens, Deus foi até ao extremo de identificar o seu filho “com o pecado por causa de nós”e instituiu o ministério da reconciliação para que nos reconciliemos com ele por meio de Cristo,“para que em Cristo nos tornemos justiça de Deus”. Cristo é, assim, a força da nossa reconciliação. Do mesmo modo que Deus não contabiliza os nossos pecados, mas usa de perdão, também nós não devemos contabilizar os pecados uns dos outros, nem encher-nos das nossas razões para permanecermos na discórdia. Pelo contrário, havemos de encontrar em Cristo, o Deus que salva, reconciliando-nos uns com os outros e com Deus, por meio dele. Se ficamos a olhar para os pecados uns dos outros quem poderá salvar-se?

O evangelho identifica-nos com os pecadores que comem com Jesus e com os escribas e fariseus que ficam à distância a murmurar. A parábola é uma forma de Jesus nos ensinar que Deus, o Pai, olha para todos como filhos, independentemente daquilo que cada um decide fazer com a herança recebida. O filho mais novo entendeu que a sua felicidade estava longe da casa do Pai e teve que cair na desgraça para compreender o seu amor da pior maneira, “na casa do meu Pai há pão em abundância”. Na casa do Pai há pão, amor, misericórdia, perdão, tudo em abundância e ele não merece nada do que o Pai tem para lhe dar.

O filho mais velho entendeu ficar em casa, a sua felicidade seria ficar por ali, e decide contabilizar tudo quanto merece, acabando sentindo-se injustiçado. Ainda não perdemos esta ideia de merecer, como se Deus estivesse sempre a contabilizar o que cada um faz de bem para lhe retribuir um prémio.

No final do “dia” os dois filhos regressam a casa com o que carregam dentro de si. O mais novo sente o peso da insatisfação que é igual à do mais velho. Vem com receio da reação do Pai, porque vem sujo, roto, faminto e sem dignidade. O Pai, porém, vem ter com ele, abraça-o, beija-o, porque vê nele um filho. Um filho não precisa de vestir fato e gravata para se apresentar diante do pai, pode ir de fato de macaco, sujo, roto, desalinhado, porque é sempre filho. Só o Pai lhe pode dar o fato da dignidade que restaura nele a condição de filho.

O filho mais velho, tão insatisfeito como o mais novo, ao regressar a casa, não quer entrar, porque se sente injustiçado ao verificar que o Pai não contabilizou o mal feito pelo irmão nem o bem feito por ele. Nem um nem outro conhecem o Pai enquanto não experimentarem o poder renovador da sua gratuidade.

Tudo é teu, não apenas a parte da herança que recebeste. Tudo o que é do Pai é dos filhos, de todos os filhos. Este tudo é o ministério da reconciliação, onde cada um se deixa renovar pela generosidade do Pai, cumprindo-se o que diz o salmo 33, “voltai-vos para Ele e ficareis radiantes”.

Os dois irmãos são um retrato completo do que nós somos e do que fizemos com Deus. Criámos a ideia de um Deus a quem agradam os sacrifícios, a dor e o sofrimento. Jesus veio revelar-nos um Deus que ama primeiro, sempre e para lá do nosso pecado. E nós não aceitámos a ideia de um Deus assim, que não exige nada de nós. Em vez de amarmos preferimos sacrificar-nos impondo sobre nós uma consciência pesada como se Deus nos quisesse amargurados, tristes e perdidos, para nos amar como se ama um pobre, um sem abrigo, um desgraçado. Deus quer-nos homens livres, de cabeça levantada e confiantes na sua misericórdia.

O convite deste domingo é o de entrar na festa porque Cristo estava morto e voltou à vida e nele todos nós passámos da morte para vida de filhos muito amados do Pai.

Rezar a Palavra

Tu, Senhor, és um Deus que dança. A tua voz é uma suave melodia que desperta os meus sentidos e me chama para dançar contigo. Nem sempre eu quero ouvir a melodia, nem sempre os meus pés querem dançar, nem sempre o meu coração está disponível para a alegria. Reconcilia-me comigo, contigo, com a dança para que a minha vida seja uma festa, para que não se esgote a alegria do reencontro.

Compromisso semanal

Sei que Deus faz festa comigo e sei onde ele está. Vou partir e vou ter com meu Pai.