As promessas feitas por Deus através dos profetas são para ser levadas a sério. Mesmo que os acontecimentos da história muitas vezes as tenham retardado, nunca perderam a sua validade como bem nos recorda hoje a profecia de Miqueias. Ainda que os inícios sejam pequenos e humildes como a pequena cidade de Belém ou uma jovem desconhecida como Maria, tanto uma como outra são portas de salvação que se abrem a todo o mundo.
No Domingo passado ecoava um convite insistente a “alegrar-se e a permanecer alegres no Senhor…” Hoje recuperamos este anúncio de alegria dirigido aos pequenos e aos simples, representados na pequena cidade de Belém (1ª leitura) e nas figuras de Maria e Isabel, as mulheres que exultam pela presença de Deus nas suas vidas (Evangelho).
Nem tudo está totalmente clarificado desde o princípio mas, estas mulheres põem-se a caminho e reconhecem que as suas vidas se cruzam na realização de um projecto de salvação de Deus. A saudação de Maria e a resposta de Isabel constituem aquilo que podemos chamar uma explosão de alegria na qual é incorporado o salto da criança que Isabel traz no seu ventre e desta forma se converte no sinal de que a salvação está a acontecer.

  1. Deus é “em saída”

– A expressão do Papa Francisco que se refere a “uma Igreja em saída”, indo ao encontro de todos, principalmente dos que estão nas “periferias” (lugares e situações humanas”) já se vai tornando comum para identificar a missão da Igreja.
– Mas, este programa de “existir em saída” não é propriamente novo: foi Deus que primeiro “saiu” para vir ao encontro do homem, fazendo-se carne, descendo à terra. O mais extraordinário do cristianismo é isto mesmo: Deus visita o ser humano, faz-se um de nós no ventre de uma mulher. Deus é Deus fazendo-se homem. Ele ama descendo ao coração do mundo…

  1. Maria também “saiu”

– E também a virgem Maria “saiu” indo ao encontro da prima Isabel: pôs-se a caminho, subiu a montanha em direcção a uma cidade de Judá… E, juntas, cantam as maravilhas de Deus…
– A saída implica fazer-se ao caminho e ir ao encontro: “Maria pôs-se a caminho” como todos os humanos: ela caminha, vai ao encontro… Ela representa a nossa condição humana e cristã porque toda a nossa vida é uma viagem, um caminho que conduz a um encontro…
– O povo de Israel, de que fazem parte estas duas mulheres do Evangelho de hoje, tinha a experiência de ser um povo em caminho permanente, conduzido pelo Senhor. Mesmo quando este povo se desviava, o Senhor vinha ao seu encontro para o colocar na direcção certa: o povo caminha e encontra-se com Deus que o acompanha.

  1. Maria, figura da Igreja

– Hoje a Igreja, como Maria, portadora de Jesus ao mundo, também não pode esperar e deve sair depressa levando Jesus ao encontro do homem…
– Maria, é também figura desta Igreja que crê, que caminha para ir ao encontro e deixa rasto neste seu peregrinar: Deus continua presente no meio deste mundo, às vezes de forma muito discreta, tão silencioso e activo como no seio de Maria…
– A Igreja é como Maria quando dá a conhecer Cristo: Este Deus encarnado deixa-se levar por quem caminha para o futuro, por quem O quer apresentar à humanidade… Descobre-O todo aquele que o quiser encontrar como fez Isabel…

  1. Tempo de louvor e acção de graças

– Retomamos hoje este convite a “sair”, a pôr-nos a caminho para cantar as maravilhas do Senhor… As palavras de Isabel a respeito de Maria são a primeira bem-aventurança do Evangelho: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre”
– Somos sistematicamente bombardeados com notícias trágicas, com condenações, prisões e processos em tribunais… As pessoas queixam-se por tudo e por nada, vivemos num clima de denúncia constante,… É muito mais frequente lamentar-se do que louvar e agradecer…
– Pois bem, o convite que nos é dirigido hoje é para mudar este registo: não nos faltam dificuldades, é certo; mas, também temos motivos para a acção de graças à maneira de Isabel: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre… Bem-aventurada a que acreditou no cumprimento de tudo o que lhe foi dito da parte do Senhor”… E de Maria: “A minha alma enaltece o Senhor, e o meu espírito exulta de alegria em Deus, meu salvador”…
– Que a responsabilidade de realizar a nossa missão de levar Cristo e a consciência dos obstáculos que têm de ser ultrapassados, não nos impeçam de reservar algum tempo para a acção de graças e para a alegria de sentir que Cristo está connosco…