Mistagogia da Palavra

Como os primeiros discípulos, é na “Fracção do Pão” que nós reconhecemos hoje o Senhor Jesus. Na verdade, na Eucaristia, Jesus torna-Se nosso contemporâneo, para percorrer com os homens os caminhos da vida. “Memorial” do Senhor, a Eucaristia não é uma simples evocação de uma personagem histórica: é toda a Pessoa viva de Jesus, é toda a obra que, na Eucaristia, se converte em acontecimento real para os homens de hoje. Ao reunirmo-nos, portanto, no domingo, para celebrarmos a Eucaristia, é em torno de uma Pessoa viva que nos congregamos – Jesus Cristo ressuscitado.
A 1ª leitura é do Livro dos Actos dos Apóstolos. Levados pela segunda vez diante di Sinédrio, os Apóstolos, transformados e animados pelo Espírito Santo, dão um corajoso testemunho acerca de Jesus. Pedro anuncia a Morte e Ressurreição de Jesus e proclama que Ele continua vivo no meio dos homens, como Senhor e Salvador.
A 2ª leitura é do Livro do Apocalipse. Coma sua Ressurreição, Jesus Cristo foi constituído Senhor de todas as coisas e como tal recebe o agradecimento e o louvor da assembleia dos Santos. Unindo-se a este louvor, as nossas assembleias eucarísticas, inundadas de alegria pascal, testemunham que Jesus Cristo, nosso Deus, é o verdadeiro Senhor da História.
A 3ª leitura, do Evangelho, é de São João. Depois de preparar os discípulos, através da pesca milagrosa realizada pelo grupo chefiado por Pedro e na barca dele, Jesus determina o lugar que ele deve ocupar na sua Igreja, constituindo-o “Pastor” do seu único rebanho.

A Palavra do Evangelho

Diante da Palavra
Vem Espírito Santo, ajuda-me a encontrar o tempo e o espaço interiores para o encontro com Jesus.


Evangelho    Jo 20, 19-31
Naquele tempo, Jesus manifestou-Se outra vez aos seus discípulos, junto do mar de Tiberíades. Manifestou-Se deste modo: Estavam juntos Simão Pedro e Tomé, chamado Dídimo, Natanael, que era de Caná da Galileia, os filhos de Zebedeu e mais dois discípulos de Jesus. Disse-lhes Simão Pedro: «Vou pescar». Eles responderam-lhe: «Nós vamos contigo». Saíram de casa e subiram para o barco, mas naquela noite não apanharam nada. Ao romper da manhã, Jesus apresentou-Se na margem, mas os discípulos não sabiam que era Ele. Disse-lhes Jesus: «Rapazes, tendes alguma coisa de comer?». Eles responderam: «Não». Disse-lhes Jesus: «Lançai a rede para a direita do barco e encontrareis». Eles lançaram a rede e já mal a podiam arrastar por causa da abundância de peixes. O discípulo predilecto de Jesus disse a Pedro: «É o Senhor». Simão Pedro, quando ouviu dizer que era o Senhor, vestiu a túnica que tinha tirado e lançou-se ao mar. Os outros discípulos, que estavam apenas a uns duzentos côvados da margem, vieram no barco, puxando a rede com os peixes. Quando saltaram em terra, viram brasas acesas com peixe em cima, e pão. Disse-lhes Jesus: «Trazei alguns dos peixes que apanhastes agora». Simão Pedro subiu ao barco e puxou a rede para terra, cheia de cento e cinquenta e três grandes peixes; e, apesar de serem tantos, não se rompeu a rede. Disse-lhes Jesus: «Vinde comer». Nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar-Lhe: «Quem és Tu?», porque bem sabiam que era o Senhor. Jesus aproximou-Se, tomou o pão e deu-lho, fazendo o mesmo com os peixes. Esta foi a terceira vez que Jesus Se manifestou aos seus discípulos, depois de ter ressuscitado dos mortos. Depois de comerem, Jesus perguntou a Simão Pedro: «Simão, filho de João, tu amas-Me mais do que estes?». Ele respondeu-Lhe: «Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo». Disse-lhe Jesus: «Apascenta os meus cordeiros». Voltou a perguntar-lhe segunda vez: «Simão, filho de João, tu amas-Me?». Ele respondeu-Lhe: «Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo». Disse-lhe Jesus: «Apascenta as minhas ovelhas». Perguntou-lhe pela terceira vez: «Simão, filho de João, tu amas-Me?». Pedro entristeceu-se por Jesus lhe ter perguntado pela terceira vez se O amava e respondeu-Lhe: «Senhor, Tu sabes tudo, bem sabes que Te amo». Disse-lhe Jesus: «Apascenta as minhas ovelhas. Em verdade, em verdade te digo: Quando eras mais novo, tu mesmo te cingias e andavas por onde querias; mas quando fores mais velho, estenderás a mão e outro te cingirá e te levará para onde não queres». Jesus disse isto para indicar o género de morte com que Pedro havia de dar glória a Deus. Dito isto, acrescentou: «Segue-Me».

Caros amigos e amigas, o evangelho deste domingo convida-nos ao mistério do encontro com Jesus Ressuscitado redescobrindo Nele a sabedoria de esperar, parar e entregar.

Interpelações da Palavra

Esperar: «Disse-lhes Simão Pedro: “Vou pescar”… mas naquela noite não apanharam nada» 

Jesus disse que ressuscitaria, prometeu que vinha, mas tarda. Tarda em “chegar a tempo”, ou melhor, tarda em chegar “no meu tempo”, no dos meus desejos. Então eu, impaciente e incapaz de confiar com uma fé adulta: “Vou pescar”. Agarro nas minhas próprias forças e vou fazer alguma coisa, porque afinal alguém tem de fazer alguma coisa. No entanto nessa noite, nessas muitas, tantas noites, nunca pesco nada. O tempo de Deus é sempre outro e é sempre sábio. No tempo de Deus é sempre tempo, estamos sempre a tempo e o tempo está sempre certo. 

Parar: «Jesus apresentou-Se na margem, mas os discípulos não sabiam que era Ele» 
De Quem estou à espera? Que imagem trago de Ti no meu coração para Te reconhecer? Ainda não aprendi que nunca vens como eu espero. É difícil converter este meu coração para Te reconhecer na lama da vida e de mim próprio. Contudo, só quem aprende a parar sem julgar, diante do que lhe sai ao caminho, algum dia Te reconhecerá  e se reconhecerá encontrado por Ti.

Entregar: «Disse-lhes Jesus: “Trazei alguns dos peixes que apanhastes agora”… “Vinde comer”»

Que peixes têm vindo à rede? Talvez me orgulhe de alguma pescaria ou talvez não … Talvez até tenha alguma vergonha de alguns peixes que apanhei. Não importa. É preciso entregar. Em Deus não há pescaria que não se aproveite. Tudo o que trago é peixe que alimentará o Seu Reino, depois de cozinhado. Não importa que não compreenda. É preciso pôr a assar esse peixe no braseiro que Ele já tem preparado na areia da praia, sentar e esperar. Jesus cozinha-o em fogo lento e dá-lhe outro sabor…o sabor de ter um sentido. Posso sentar-me agora e deixar-me estar ali … a festa da Páscoa ainda agora começou.

Rezar a Palavra e contemplar o Mistério

Senhor, preciso de um coração Novo:
Que saiba esperar-Te;
Que saiba reconhecer-Te;
Que saiba entregar-Te a vida.
Preciso de caminhar para essa outra Vida, verdadeira e eterna.

Viver a Palavra
Nesta semana, detenho-me diante de uma realidade concreta: um rosto, um acontecimento, um movimento concreto que se agite no meu interior… e espero por Ti, que Te reveles em pão inesperado, partido e partilhado, para lá do meu entendimento.