Num mundo em que abundam as más notícias é um grande motivo de alegria e esperança poder proclamar a paz, a justiça e a reconciliação. Já o profeta Isaías convidava à alegria e ao júbilo com Jerusalém porque a cidade, que personifica todo o povo, seria um lugar de encontro e de paz para todos. No Evangelho Jesus envia os seus discípulos, dois a dois, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir porque a messe é grande. No Salmo há um convite a que a terra inteira aclame o Senhor pelas maravilhas que Ele realiza na sua ação em favor dos homens.
Os seguidores de Jesus são enviados para fazerem o que Ele próprio fez. Como diz S. Paulo (2ª leitura), o discípulo deve parecer-se com Jesus de Nazaré, levar as suas marcas de entrega, de serviço aos outros, de perseverança no caminho, de ser uma criatura nova. Jesus convida a levar a paz onde há violência, a justiça onde impera a falta de ética na economia, a caridade onde há egoísmo, a curar os enfermos, a fortalecer os fracos e a animar a esperança. É neste anúncio que se vê a proximidade do Reino de Deus. É esta “a alegria do Evangelho, que enche a vida da comunidade dos discípulos: é uma alegria missionária. Experimentam-na os setenta e dois discípulos, que voltam da missão cheios de alegria” (E.G., 21).
- A tarefa missionária
– No Domingo passado refletimos sobre o seguimento de Jesus e as exigências de vida que isso acarreta: “depois de deitar a mão ao arado”, não se pode olhar para trás e há que seguir em frente… Não se pode dizer sim e logo acrescentar um mas ficando parado ou até a pensar recuar…
– Hoje, Jesus dá-nos uma série de conselhos práticos para realizar esta tarefa: somos enviados como “cordeiros para o meio de lobos”… A imagem pode parecer forte mas, a cultura dominante é mesmo feroz… E pode sempre acontecer que o nosso trabalho não seja reconhecido e haver mesmo oposição…
– Nesta tarefa não podemos apegar-nos aos bens materiais: “não leveis bolsa nem alforge…” Caminha-se melhor quando não se tem de levar muito equipamento… O principal é anunciar a paz e que o Reino de Deus está próximo…
– A tarefa missionária-evangelizadora contém dificuldades, nem sempre é gratificante e poucas vezes tem recompensa imediata… O mais normal é partilhar a cruz e não tanto outros benefícios… Para fazer frente a isto, Jesus manda-nos em comunidade, dois a dois, e dá-nos, fundamentalmente, dois conselhos: “pedi ao senhor da messe que mande trabalhadores para a messe” porque a messe é de Deus e não é propriedade de mais ninguém neste mundo. A seguir acrescenta: “não vos alegreis porque os espíritos se submetem a vós, mas antes porque os vossos nomes estão inscritos no céu…” Mais uma vez se sublinha que a obra é de Deus…
– Jesus não promete um êxito fácil e desaconselha o deslumbramento imediato: “não vos alegreis porque os espíritos se submetem a vós”… Haverá sempre pessoas e situações que resistem, que não acolhem… E, na atividade missionária não se deve forçar ou impor mas, a nossa mensagem será sempre uma proposta de vida…
– É precisamente porque nada se pode impor que os enviados devem andar desarmados, sem provisões, sem reservas, sem ligações que os amarrem… De coração grande, gratuitamente, sem interesses ou intenções ocultas, sem pretender atingir quotas de mercado…
- Vocação ao serviço do Reino
– O anúncio do Reino é um dom que se oferece por quem já o recebeu… Para transmitir a paz é preciso experimentar na sua vida a paz que Deus dá…
– O nosso modo de estar, como cristãos é, geralmente, contra a corrente… Quando todas as pessoas executam trabalhos para ganhar dinheiro e medem o valor desse trabalho pelos salários que auferem, nós procuramos realizar-nos exercitando a nossa vocação, sem contabilizar os proveitos…
– A nossa fé não pode ser vivida à “maneira profissional” cumprindo uns tantos requisitos e ficando à espera da compensação e do reconhecimento…
– É certo que também haverá momentos alegres, de realização pessoal mas, como diz S. Paulo, “longe de mim gloriar-me, a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo…” De facto, a cruz está mais presente do que outras retribuições…
– Certo que contamos com o apoio do Senhor: a messe é d’Ele, o Reino de Deus está próximo, e nenhum de nós é “simplesmente atirado às feras”… Mesmo nos momentos difíceis há uma alegria interior que se partilha por seguir os passos de Jesus, porque “os nossos nomes estão inscritos no céu”…
– Seja qual for o acolhimento que o anúncio do Reino tenha, nada impede que o projeto de Deus se realize… “Está perto de vós o Reino de Deus”…
– Há um dinamismo, uma força que não depende de nós… No entanto, é imprescindível a nossa colaboração… E não são necessários grandes dotes de propaganda, cursos para influenciar os destinatários… Essencial é o testemunho da paz que já se vive e se quer partilhar…
– “A seara é sempre grande”, o campo de ação, em lugar de se reduzir, alarga-se sempre mais… A tentação, por vezes, é de se fechar num grupo e reduzir o anúncio do Reino ao crescimento desse grupo… Ora, as fronteiras do Reino não estão demarcadas, nem se pode dizer que o Reino esteja aqui ou ali… A atividade missionária nunca está esgotada porque as fronteiras do Reino de Deus também não estão fechadas…