Celebramos o grande acontecimento do Pentecostes: os discípulos estavam fechados em casa, tristes e com medo de dar a cara, certamente a pensar como poderiam alterar a sua situação de dependência e começar a fazer algo de novo. Com o Espírito Santo a situação muda e eles também mudam radicalmente: ganham confiança, aventuram-se com alegria abrindo as portas, vencem os medos.
Apesar das dificuldades que os apóstolos tiveram em se mostrar e dar testemunho de Jesus, a vinda do Espírito Santo cumpre uma promessa de Jesus, várias vezes reiterada, sobretudo no grande discurso de Jesus durante a última ceia, relatado no Evangelho de S. João. A promessa realiza-se na Ressurreição de Jesus mas, o modo de apresentar o acontecimento, não é igual nos textos do NT que ouvimos.
1. Quando desceu o Espírito?
— O Evangelho de S. João situa o dom do Espírito Santo “na tarde daquele dia, o primeiro da semana”, em que Jesus se apresenta vivo aos seus discípulos: “recebei o Espírito Santo…” Assim se mostra que o dom do Espírito Santo está estreitamente ligado à ressurreição…
— Já S. Lucas, no livro dos Actos dos Apóstolos, situa o acontecimento no dia de Pentecostes, a festa das sete semanas depois da Páscoa ou das colheitas (é este o calendário do ciclo litúrgico: cinquenta dias depois)… Nesta perspectiva, o Espírito Sano é o fruto amadurecido da ressurreição, que foi necessário assimilar ao longo de um certo tempo…
— Já S. Paulo nos diz que a acção do Espírito Santo é contínua e permanente, em cada um e na comunidade em ordem ao bem comum (2ª leitura)…
— De facto, não podemos limitar a acção do Espírito Santo a um momento histórico bem definido: o Espírito está sempre a actuar no nosso mundo e em cada um como membro da Igreja…
2. Os sinais e a acção do Espírito
— Quando Jesus ressuscitado se apresenta aos seus discípulos, o Evangelho diz que “soprou sobre eles…” E o livro dos Actos diz que “se fez ouvir uma forte rajada de vento” na casa onde os apóstolos estavam reunidos. Nessa ocasião o estado de espírito era de desalento, de constatação da incapacidade de continuar a obra de Jesus… É uma situação semelhante àquela que, em tantos momentos da história da Igreja, também nós experimentamos… “As portas fechadas” são um sinal eloquente desta falta de confiança…
— Ora, o Espírito é representado como “um vento que sopra”, que não se sabe de onde vem nem para onde vai (ver Jo 3,8), “uma chama” que comunica o ardor de Deus… O Espírito deixa rasto e transforma a vida…
— O que aconteceu com os apóstolos confirma esta acção do Espírito: são transformados, o seu coração arde de novo, retomam a paz e a alegria, entregam-se com entusiasmo à missão… Porque eles mesmos experimentam a reconciliação, são enviados ao encontro de todos e a perdoar os pecados… Numa palavra: testemunham o amor universal de Deus…
— Quando Jesus se apresenta oferece três dons: a paz que faz brotar a alegria após o seu reconhecimento; o mandato missionário: “como o Pai me enviou também eu vos envio a vós”; finalmente, o Espírito Santo: “Recebei o Espírito Santo…” Em todos os tempos, a melhor forma de comunicar a fé, de evangelizar, é a que se faz pelo contacto pessoal, pela irradiação do Espírito presente em cada um…
3. O Espírito na Igreja
— A experiência renovada do dia de Pentecostes há-de levar-nos a abrir as portas da nossa comunidade para que o sopro do Espírito, o alento de Jesus, chegue a todos… As portas fechadas só servem para aumentar os medos, agravar os problemas e complicar o que deve ser simples e transparente…
— Viver com as portas abertas implica reconhecer a diversidade de dons, funções e actividades como fruto do Espírito Santo, com ordem e sem anarquia, em vista do bem comum de todo o corpo de Cristo que é a Igreja…
— Exercendo a sua acção sobre cada um, o Espírito Santo constrói a comunhão na Igreja porque toda a sua influência é “para o bem comum”, para a comunhão, e nunca para a divisão…
— É o Espírito que elimina as tensões e supera as nossas fraquezas… O Espírito faz de nós homens novos porque “todos fomos baptizados num só Espírito, para constituirmos um só corpo”… A finalidade é a de constituir um só corpo e não vários, apesar de se reconhecer a riqueza da diversidade que funciona como os membros de um só corpo onde todos se complementam…
— Se é o mesmo Deus que realiza tudo em todos, em nenhuma circunstância se pode invocar o Espírito para justificar a divisão porque a acção do Espírito se manifesta sempre na comunhão…