Domingo in albis porque os recém-baptizados na vigília pascal vinham, neste domingo, revestidos de túnicas brancas. Domingo de Pascoela, quer dizer, ainda da Páscoa, porque a grandeza desta festa se estende por toda a semana e neste domingo, o segundo da Páscoa, é como se estivéssemos a retomar o que celebrámos há oito dias. Domingo da Divina Misericórdia, instituído por S. João Paulo II para sublinhar o grande amor de Deus pela humanidade.

É o domingo em que se anuncia a paz a todos: aos que acreditam; aos que não acreditam mas partilham alguma coisa dos valores dos crentes; aos que compreendem; aos que não compreendem mas respeitam; aos que vêem; aos que não vêem mas confiam… Aí está Tomé, um dos mais humanos e normais neste percurso da fé: reservava-se o direito à dúvida… Como todo o ser humano, apela para a racionalidade e aceita os desafios: respeita, aceita, confia e lança-se nos braços do ressuscitado…

1.      As perguntas sobre a ressurreição

– A fé na ressurreição não consiste apenas em saber umas coisas sobre Jesus e em falar da sua ressurreição gloriosa… Esta fé implica toda a nossa vida, impele-nos para um novo modo de viver…

– As perguntas habituais são: será que Jesus ressuscitou verdadeiramente? Como se prova? Existe uma prova científica, de carácter empírico? Como é esse modo de viver “ressuscitado”? O Evangelho e o livro dos Actos (1ª leit) respondem a estas perguntas… A ressurreição é um acontecimento histórico mas a sua confirmação não depende da verificabilidade histórica porque os critérios são de outra ordem…

– A figura de Tomé representa o discípulo de todos os tempos que duvida da ressurreição de Jesus: se Jesus ressuscitou, porque é que não há uma prova que se imponha a toda a gente, realmente convincente?… Porque é que há dúvidas que me acompanham também a mim? A figura de Tomé, ao querer tocar, é o exemplo do desejo de acreditar, só que, parece que a sua exigência não está totalmente certa… O caminho da fé é diferente…

2.      A dimensão comunitária da fé

– O lugar privilegiado da presença de Jesus ressuscitado é a comunidade…

– O caminho da fé passa por confiar no caminho da comunidade porque a fé cristã é comunitária e apostólica (parte do testemunho dos apóstolos)…

– Não há modo de ser cristão pelo caminho do puro individualismo (é esta a situação e o problema do Tomé)… A fé que cada um professa é uma personalização da fé comunitária…

– Quem nos garante a ressurreição de Jesus são os apóstolos, testemunhas privilegiadas porque andaram com Jesus, ouviram os seus ensinamentos, viram as suas obras, abandonaram-n’O nos momentos comprometedores, e depois, transmitiram-nos o verdadeiro encontro que tiveram com o Ressuscitado… Nós confiamos no seu testemunho, e é aqui que se fundamenta a nossa fé, até porque pensaram em nós: “Felizes os que acreditam sem terem visto”.

3.      Vida e missão

– A transformação da vida dos apóstolos é a prova mais autêntica da ressurreição porque eles começam a viver de maneira diferente, como “ressuscitados” (leitura dos Actos)…

– O primeiro dom do ressuscitado, aquele que Jesus comunica imediatamente, é a paz, a harmonia… Por três vezes, no texto do Ev, Jesus anuncia a paz…

– A segunda consequência da ressurreição é a alegria: “os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor”…

– Já o livro dos Actos insiste na união de todos e na partilha: o relato pode ser algo idealizado mas aponta para o essencial: tinham um só coração e uma só alma e partilhavam os seus bens…

– A vida da primeira comunidade também está marcada pela oração e pela fracção do pão (Eucaristia): uma relação intensa com Deus e uma grande generosidade para com os irmãos…

– A alegria que nasce do Ressuscitado e que se manifesta na vida da comunidade cristã deve suscitar a admiração dos outros… A paz, a alegria, o testemunho de vida marcado pela palavra dos apóstolos, pela unidade, pela Eucaristia, a oração e a partilha, conduzem à missão, à urgência e à necessidade de comunicar a boa notícia para que um maior número participe sempre dela…

LEITURA  I    Actos 2, 42-47
«Todos os que haviam abraçado a fé
viviam unidos e tinham tudo em comum»


Leitura dos Actos dos Apóstolos
Os irmãos eram assíduos ao ensino dos Apóstolos,
à comunhão fraterna, à fracção do pão e às orações.
Perante os inumeráveis prodígios e milagres 
realizados pelos Apóstolos,
toda a gente se enchia de temor.
Todos os que haviam abraçado a fé
viviam unidos e tinham tudo em comum.
Vendiam propriedades e bens
e distribuíam o dinheiro por todos,
conforme as necessidades de cada um.
Todos os dias frequentavam o templo, 
como se tivessem uma só alma,
e partiam o pão em suas casas;
tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração,
louvando a Deus e gozando da simpatia de todo o povo.
E o Senhor aumentava todos os dias
o número dos que deviam salvar-se.
Palavra do Senhor.


SALMO RESPONSORIAL    Salmo 117 (118), 2-4.13-15.22-24 (R. 1)
Refrão:    Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom,
             porque é eterna a sua misericórdia.
      Ou:    Aclamai o Senhor, porque Ele é bom:
             o seu amor é para sempre.
      Ou:    Aleluia.


Diga a casa de Israel:
é eterna a sua misericórdia.
Diga a casa de Aarão:
é eterna a sua misericórdia.


Digam os que temem o Senhor:
é eterna a sua misericórdia.
Empurraram-me para cair,
mas o Senhor me amparou.


O Senhor é a minha fortaleza e a minha glória,
foi Ele o meu Salvador.
Gritos de júbilo e de vitória nas tendas dos justos:
a mão do Senhor fez prodígios.


A pedra que os construtores rejeitaram
tornou-se pedra angular.
Tudo isto veio do Senhor:
é admirável aos nossos olhos.
Este é o dia que o Senhor fez:
exultemos e cantemos de alegria.


LEITURA II    1 Pedro 1, 3-9

«Fez-nos renascer para uma esperança viva
pela ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos»


Leitura da Primeira Epístola de São Pedro
Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo,
que, na sua grande misericórdia, nos fez renascer,
pela ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos,
para uma esperança viva,
para uma herança que não se corrompe, 
nem se mancha, nem desaparece.
Esta herança está reservada nos Céus para vós,
que pelo poder de Deus sois guardados, mediante a fé,
para a salvação que se vai revelar nos últimos tempos.
Isto vos enche de alegria,
embora vos seja preciso ainda, por pouco tempo,
passar por diversas provações,
para que a prova a que é submetida a vossa fé
– muito mais preciosa que o ouro perecível,
que se prova pelo fogo –
seja digna de louvor, glória e honra,
quando Jesus Cristo Se manifestar.
Sem O terdes visto, vós O amais;
sem O ver ainda, acreditais n’Ele.
E isto é para vós fonte de uma alegria inefável e gloriosa,
porque conseguis o fim da vossa fé:
a salvação das vossas almas.
Palavra do Senhor.

ALELUIA    Jo 20, 29
Refrão:    Aleluia.     Repete-se
Disse o Senhor a Tomé:
«Porque Me viste, acreditaste;
felizes os que acreditam sem terem visto».   Refrão

EVANGELHO    Jo 20, 19-31
«Oito dias depois, veio Jesus …»


+  Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Na tarde daquele dia, o primeiro da semana,
estando fechadas as portas da casa 
onde os discípulos se encontravam,
com medo dos judeus,
veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes:
«A paz esteja convosco».
Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado.
Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor.
Jesus disse-lhes de novo:
«A paz esteja convosco.
Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós».
Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes:
«Recebei o Espírito Santo:
àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoa-dos;
e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos».
Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo,
não estava com eles quando veio Jesus.
Disseram-lhe os outros discípulos:
«Vimos o Senhor».
Mas ele respondeu-lhes:
«Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos,
se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu la-do,
não acreditarei».
Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa
e Tomé com eles.
Veio Jesus, estando as portas fechadas,
apresentou-Se no meio deles e disse:
«A paz esteja convosco».
Depois disse a Tomé:
«Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos;
aproxima a tua mão e mete-a no meu lado;
e não sejas incrédulo, mas crente».
Tomé respondeu-Lhe:
«Meu Senhor e meu Deus!».
Disse-lhe Jesus:
«Porque Me viste acreditaste:
felizes os que acreditam sem terem visto».
Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discí-pulos,
que não estão escritos neste livro.
Estes, porém, foram escritos
para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus,
e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome.
Palavra da salvação.