O desenvolvimento tecnológico global, as tecnologias da informação, a sociedade do conhecimento, aquela em que nós vivemos, criou níveis de bem-estar e de acumulação de riqueza nas mãos de uma minoria, deixando para trás milhões e milhões de deserdados. A assimetria parece cada vez mais acentuada: cresce o número dos pobres, cada vez mais pobres, em confronto com o mundo dos ricos. Alguns dizem que a actual pandemia também se torna mais grave para os que não têm condições de vida, sobretudo de habitação, para responder com o confinamento necessário e enfrentar as outras exigências que as autoridades impõem.
A questão dos refugiados e deslocados continua a colocar-se, mesmo que os meios de comunicação não lhe façam tantas referências. Estes problemas demonstram que o nosso mundo está dividido e que nem todos dispõem dos mesmos meios para fazer face às crises que enfrentam.
Parece que aquela expressão do Papa, no dia 27 de Março, naquela tarde chuvosa, em Roma, “estamos todos no mesmo barco, ninguém se salva sozinho. Para vencer esta crise precisamos todos de nos unir” ecoou nos corações de muita gente. Mesmo assim, o individualismo e a cultura da cegueira e do esquecimento (muita gente não quer ver e prefere esquecer!) continuam presentes na nossa sociedade que descarta os desfavorecidos e desamparados, considerados como excedentes, sobrantes, efeitos colaterais de um processo global…
- Sensibilidade para acolher
– A liturgia deste domingo convida as comunidades cristãs a reflectir sobre esta realidade no nosso mundo: como é que nós, cristãos, estamos a ser sensíveis ao acolhimento e à prática da hospitalidade? Como é que podemos ser mais solidários apesar das restrições a que estamos sujeitos?
– O segundo livro dos Reis fala-nos da sensibilidade daquela família que acolheu o profeta Eliseu e como ele, depois, também sentiu os problemas deles…
– S. Paulo (Rm) recorda-nos que o Baptismo nos deu uma vida nova e que esta vida nova tem uma dimensão social: “Fomos sepultados com Cristo… Também nós vivamos uma vida nova… Acreditamos que também com Ele viveremos…” (usa sempre o plural…)
– E o texto do Evangelho de Mateus é muito exigente para com os seguidores de Jesus: amar a Jesus mais do que ao pai ou à mãe; mais do que ao filho ou à filha… Quem não toma a sua cruz, quem perder a sua vida por minha causa… Isto parece cruel mas, esta linguagem implica sensibilidade e compromisso social com os mais pobres, os desfavorecidos, as vítimas, os descartados… Os vínculos com estes devem ser mais fortes que os familiares…
- Abrir o coração a Jesus
– Por outro lado, o Ev acrescenta: “Quem vos recebe a mim recebe, e quem me recebe a mim recebe aquele que me enviou”… Quer dizer que, quem abre o coração para acolher e dar hospitalidade aos desfavorecidos, recebe o próprio Jesus…
– Certamente que o Ev se refere, em primeiro lugar, aos enviados por Jesus. Mas, também estão aqui incluídos todos os que precisam de acolhimento: “Se alguém der de beber, nem que seja um copo de água fresca, a um destes pequeninos, por ele ser meu discípulo, em verdade vos digo: não perderá a sua recompensa”…
– Somos convidados a partilhar… Apoiar materialmente os que precisam, porque os problemas económicos e sociais que se avizinham são graves. Ao mesmo tempo, abramos também o nosso coração e ajudemos a sensibilizar toda a comunidade cristã para o apoio aos necessitados…