Todos nós idealizamos um mundo perfeito, um mundo onde não houvesse sofrimento nem morte, cansaços ou desilusões; onde as crianças nunca adoecessem nem os inocentes morressem; um lugar onde não houvesse pandemias, nem guerras, nem acidentes de qualquer espécie… Idealizamos o céu nesta terra mas, a realidade deste mundo é diferente… Porque a liberdade, que nós tanto apreciamos, implica decisões e limitações. Há trigo e há joio, santidade e pecado, dentro de cada um de nós, na nossa comunidade, na própria Igreja… E, pode acontecer que a suposta cizânia esconda o melhor trigo: o apóstolo Pedro, primeiro negou e depois confessou; Maria Madalena, primeiro foi pecadora e depois testemunhou a ressurreição; muitos foram os que, ao longo da história, primeiro pactuaram com o poder e depois foram os que melhor o denunciaram e se colocaram ao serviço dos cidadãos mais pobres…
1.Desejo de mudanças rápidas
– Todos alimentamos o desejo de mudar a situação difícil que estamos a viver, a sociedade e a própria Igreja… Mas, quando se trata de decidir sobre o modo de actuar, vêm logo as divergências porque cada um tem o seu modo de ver as coisas e de intervir a partir do que nos toca mais…
– Todos nós procuramos maior justiça mas, facilmente acabamos por ser justiceiros, já que é no nosso próprio interior que crescem o trigo e o joio: com a intenção de acabar com o mal acabamos sempre por querer punir os supostos autores… É este, tantas vezes, o resultado do nosso dogmatismo e da nossa intransigência…
– Nas parábolas de hoje Jesus propõe serenidade, capacidade de aguardar e não uma intervenção imediata e radical. Os servos mostram-se radicais, com argumentos aparentemente válidos, fundamentados num juízo claro e determinado para acabar com o mal de uma vez por todas… O dono do campo convida a esperar, a ser tolerante e não exclusivista…
2.O tempo pertence a Deus
– Jesus chama a atenção para as raízes (daqui vem a palavra “radical”) e mostra como o juízo de Deus, ao longo da história (1ª leit e Salmo) foi sempre de bondade e compaixão…
– O problema é que o joio está por todo o lado e, sobretudo, no coração de cada um… Ora, Deus não arranca o coração a ninguém… Deus confia em cada um para que possa amadurecer, para que possa ultrapassar a inveja, os sentimentos de vingança, o rancor, o orgulho…
– Deus olha para nós e para este mundo, acompanha a obra por Ele criada, não para fazer um juízo e castigar, mas para abrir possibilidades e dar tempo e espaço para que o homem realize a sua missão… Não se comporta como os ditadores a impor a sua lei, a eliminar tudo o que não estiver de acordo com o seu sistema… “Deus faz nascer o sol sobre bons e maus e manda a chuva sobre justos e injustos”… O momento oportuno, o tempo da colheita, pertence a Deus…
– Entretanto, o mal combate-se praticando o bem e não lançando bombas sobre os maus… O nosso problema é que, muitas vezes, “não sabemos que pedir nas nossas orações” (2ª leit)…
– Jesus não deixa de nos surpreender: em vez de cortar e queimar, propõe que se deixe crescer… Mas não é porque entenda que tudo deve ficar como está, sem qualquer intervenção… O problema é que nós tendemos a julgar as coisas só por nós próprios, e podemos enganar-nos… Cortar um braço só porque a mão está a sangrar só levanta mais problemas…
– Podemos enganar-nos, fazer juízos precipitados, impedirmos a mudança e o crescimento das pessoas… “Só Deus julga com bondade e governa com indulgência” (1ª leit)…
– Devemos resistir ao mal mas, sem agressividade, porque a violência multiplica a violência… O bem, qual grão de mostarda e qual fermento, há-de crescer e levedar… Precisamos é de dar tempo e de não pensarmos que nós podemos resolver tudo de um momento para o outro…