Festa
O Batismo de Jesus no Jordão assinala o termo da vida de silêncio e obscuridade e inaugura o Seu ministério público, anunciando e preparando o Seu Batismo «na morte». A vida pública de Jesus surge assim enquadrada entre dois batismos: o batismo de penitência do Jordão (que encerra, em potência, todo o itinerário que o Servo de Javé percorrerá para realizar a Sua obra) e aquele que constituirá Jesus como vítima e pedra angular do novo mundo – o batismo do Calvário, no qual sangue e água brotarão do Seu lado.
LEITURA I Is 42, 1-4.6-7
Diz o Senhor:
«Eis o meu servo, a quem Eu protejo,
o meu eleito, enlevo da minha alma.
Sobre ele fiz repousar o meu espírito,
para que leve a justiça às nações.
Não gritará, nem levantará a voz,
nem se fará ouvir nas praças;
não quebrará a cana fendida,
nem apagará a torcida que ainda fumega:
proclamará fielmente a justiça.
Não desfalecerá nem desistirá,
enquanto não estabelecer a justiça na terra,
a doutrina que as ilhas longínquas esperam.
Fui Eu, o Senhor, que te chamei segundo a justiça;
tomei-te pela mão, formei-te
e fiz de ti a aliança do povo e a luz das nações,
para abrires os olhos aos cegos,
tirares do cárcere os prisioneiros
e da prisão os que habitam nas trevas».
LEITURA II At 10, 34-38
Naqueles dias,
Pedro tomou a palavra e disse:
«Na verdade,
eu reconheço que Deus não faz aceção de pessoas,
mas, em qualquer nação,
aquele que O teme e pratica a justiça é Lhe agradável.
Ele enviou a sua palavra aos filhos de Israel,
anunciando a paz por Jesus Cristo, que é o Senhor de todos.
Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia,
a começar pela Galileia,
depois do batismo que João pregou:
Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré,
que passou fazendo o bem
e curando todos os que eram oprimidos pelo Demónio,
porque Deus estava com Ele».
Evangelho Lc 3, 15-16.21-22
Naquele tempo,
o povo estava na exetativa
e todos pensavam em seus corações
se João não seria o Messias.
João tomou a palavra e disse-lhes:
«Eu batizo-vos com água,
mas vai chegar quem é mais forte do que eu,
do qual não sou digno de desatar as correias das sandálias.
Ele batizar-vos-á com o Espírito Santo e com o fogo».
Quando todo o povo recebeu o batismo,
Jesus também foi batizado;
e, enquanto orava, o céu abriu-se
e o Espírito Santo desceu sobre Ele
em forma corporal, como uma pomba.
E do céu fez-se ouvir uma voz:
«Tu és o meu Filho muito amado:
em Ti pus toda a minha complacência».
A festa do Batismo do Senhor funciona como uma espécie de charneira que faz a ligação entre o tempo do Natal, que estamos a terminar, e o tempo comum, que vai começar. No Natal celebrámos a ternura de Deus, a alegria e a esperança que um nascimento sempre nos traz. E, nestes últimos dias, observámos como Jesus se vai manifestando: primeiro aos pobres e humildes representados pelos pastores; depois aos mais distantes representados pelos Magos que vieram do Oriente; e hoje, a todo o povo no acontecimento do Batismo, tornando claro que Jesus não é só o menino adorado por pastores e Magos, mas é o adulto e proclamado como o Filho muito amado do Pai.
Passada a contemplação da criança, olhamos para Jesus já adulto, que deixa a pacata aldeia de Nazaré, onde Ele viveu, para se mostrar a todo o povo no contexto de um batismo público, de envio e de missão. É o momento em que Jesus se apresenta em público para ser reconhecido por todos.
1. O Batismo de João e Jesus
– Jesus integra-se no grupo dos seguidores de João Batista no contexto da expectativa de todo o povo. O seu batismo é um ato público, num momento em que Jesus está a orar e a participar no encontro com as pessoas…
– A pregação e o Batismo de João Batista caracterizam-se pelo convite ao arrependimento e ao perdão dos pecados… Até certo ponto, João Batista inaugurou uma nova prática para o perdão dos pecados que passava pela mudança de vida e o banho de imersão (no templo, os sacerdotes, através dos sacrifícios, também procuravam sanar os pecados do povo…)
– Era importante este Batismo de João… Jesus reconhece essa importância ao ponto de se submeter a ele, não porque tivesse pecados mas para se solidarizar com todos os pecadores que se empenhavam numa renovação espiritual e social de acordo com os planos de Deus…
– Depois do Batismo abrem-se os céus, o Espírito Santo desce sobre Ele e ouve-se a voz do Pai a testemunhar que Jesus é o seu Filho amado.
– Os que estavam presentes e testemunharam o encontro de Jesus com João Batista, tiveram que decidir entre os dois: João pregava o arrependimento e batizava com água, já era conhecido de muitos pela sua forma de vida no deserto e pelo impacto que a sua ação criava… A Jesus ninguém o conhecia, “não tinha levantado ainda a voz nem se tinha feito ouvir nas praças” (como o servo da 1ª leitura do profeta Isaías)… Mas, é sobre Ele que recai o Espírito e há de ser Ele a batizar com o Espírito Santo e com o fogo… João, como todo o povo, estava na expectativa, sabiam da promessa de Deus; agora verificam que Jesus é o cumprimento…
– O Pai que fala e o Espírito que desce confirmam quem é Jesus… João tinha a missão cumprida, agora começa outro tempo: o tempo de Jesus…
2. A missão de Jesus
– Há dois personagens que se apresentam como modelo da missão de Jesus: o servo da leitura de Isaías e João Batista que já se encontrava no terreno e cuja missão parece ter sido cumprida…
– Jesus identifica-se com o servo, com aquele que vem instaurar a justiça não apenas em Israel, mas em todos os povos (“nas ilhas distantes”)… E fá-lo, não de um modo violento ou ruidoso (“não gritará, não levantará a voz nem se fará ouvir nas praças…”); a sua palavra não será imposta por qualquer poder, mas promoverá o direito sem se deixar abater, abrindo os olhos aos cegos, libertando os cativos e prisioneiros, aproveitando todos os sinais de vida à sua volta: “não quebrará a cana fendida nem apagará a torcida que fumega…”
– Como o servo de Isaías e na sequência de João Batista, Jesus criará espaços de liberdade e quebrará as cadeias porque só a partir da liberdade é que se torna possível a vida e o amor: “Ele passou fazendo o bem e curando todos os que estavam oprimidos” 2ª leitura): cumpriu a sua missão…
3. O nosso compromisso
– Hoje é um dia também para nos interrogarmos sobre o que fazemos da nossa missão como batizados. Será que já passámos do Batismo com água (da cerimónia, do assento no livro, da festa associada) para o Batismo com o Espírito (da transformação, do compromisso, da missão)?…
– Seria bom que cada um revisitasse o seu Batismo e “a necessidade de tornar mais forte e eficaz o testemunho da fé”… Depois de ser batizado ninguém pode continuar igual… No próprio Jesus, este acontecimento significou a viragem: É com o Batismo que começa a sua missão…
– Que missão é que cada um de nós, batizado, desenvolve? Que transformações foram operadas? Onde está o Espírito que foi recebido? Qual é a marca que nos diferencia?