Jesus convida-nos hoje a manifestar uma fé aberta, que seja capaz de ler os sinais na história do povo e que desperte energias para enfrentar as crises que a história de todos os tempos vai colocando.
Tendo presente o que diz o livro da Sabedoria e a carta aos Hebreus sentimo-nos membros de um povo que conseguiu esperar e que experimentou momentos extraordinários de libertação porque sabia em quem tinha colocado a sua esperança e via nos antepassados um testemunho eloquente da fé em Deus. Um povo assim, que é capaz de olhar para o seu passado e reconhecer o papel dos antepassados e as coisas extraordinárias que aconteceram na sua vida, é um povo que tem identidade e pode, assim, olhar para o futuro com esperança.

1. O nosso tesouro
– “Não temas, pequenino rebanho…” São estas as palavras com que Jesus inicia hoje as suas instruções aos discípulos. O grupo pode ser pequeno mas tem argumentos à sua disposição para olhar com esperança para o futuro…
– Na sequência do que foi dito no Domingo passado, o grupo dos discípulos de Jesus tem que perceber que a sua confiança não está no apego aos bens materiais, porque estes são falíveis, mas na dedicação a bens superiores, aos do Céu, que não estão sujeitos à corrupção…
– Onde é que está o nosso tesouro? Aquilo por que vale a pena viver? Tantas vezes pensamos que está em ter um bom carro, casa, família, bom emprego, bem-estar, gozar férias em determinados lugares… E, depois, feitas as contas, o que é que levamos desta vida? Convém sempre perguntar: onde é que pomos a nossa felicidade, a nossa confiança e a nossa segurança?…
– Esquecemo-nos que somos “hóspedes e peregrinos” à maneira de antepassados como Abraão… A sua única base de apoio era a confiança na realização da promessa de Deus…

2. Confiança no futuro

– Hoje há uma crise de futuro… E aqueles que deviam acreditar mais nele, os jovens, são os que mais questionam e mais problemas levantam…
– Certamente que o futuro é sempre incerto… Mas, em vez de o darmos por perdido e de acrescentarmos mais problemas e obstáculos, é sempre preferível dedicar-nos àquilo que é mais importante, ao que pode contribuir para que não sejamos surpreendidos: reconhecer como são importantes as pessoas que vivem ao nosso lado, que são nossos companheiros de viagem e querem levar a vida a sério…
– Não é como diz a parábola, “começar a bater em servos e servas, a comer, a beber e embriagar-se…” comportando-se cada um como se fosse o dono de tudo… Somos peregrinos e administradores e as pessoas, os outros, são o que mais importa… Os valores que nos humanizam são os que dão sentido à vida…

3. Vigilância

– A atitude fundamental é a da vigilância: a imagem dos rins cingidos e das lâmpadas acesas faz alusão à noite da saída do povo de Israel do Egipto, a noite da libertação, em que comeram de pé esperando a passagem do Senhor…
– A vigilância parte da consciência de que há uma incerteza que nos acompanha sistematicamente: não sabemos o momento da manifestação do Senhor… Sabemos, isso sim, que é preciso estar preparado… Não sabendo quando vem o dono da casa, o melhor é esperá-lo a todo o momento, não adormecer nem desanimar, nem tão pouco iludir-se com a possibilidade de ainda haver tempo…
– Espera-se o Senhor realizando as tarefas que nos foram confiadas… Por isso é que o tempo em que se aguarda o Senhor é um tempo de vigilância, quer dizer, de fidelidade e responsabilidade…
– Quem está à espera, não está “de braços cruzados”, numa atitude passiva… Os servos que esperam o seu Senhor estão activos e até podem ter a expectativa de ser servidos pelo próprio Senhor, quando Ele chegar…
– Quando se faz uma autêntica experiência de comunhão com Deus, como fizeram os personagens do passado hoje recordados nas leituras, então percebe-se que a fé dá sentido ao tempo que nos é dado esperar porque Ele, por Jesus, aquele que prometeu “estar sempre connosco até ao fim dos tempos”….