Mistagogia da Palavra

A Liturgia da Palavra deste domingo fala-nos da fé. Mas esta não se reduz a um mero conhecimento teórico das verdades reveladas por Deus. Embora a suponha, a fé é mais que ilustração, mais do que a própria teologia. A fé é encontro pessoal com Deus, que sai ao nosso encontro por meio da sua Palavra, Jesus Cristo. A fé é uma opção fundamental e radical por Deus, confiando totalmente n’Ele; é um compromisso capaz de orientar toda a nossa vida segundo o estilo de Jesus: mente, coração e comportamento, relações humanas, amor e trabalho, vida e morte. Tanto assim é, que “o justo vive pela fé”. 
A 1ª leitura é do profeta Habacuc. Diante da impiedade e das injustiças de tantos dirigentes e do próprio povo de Israel, o profeta, em clima de oração, pergunta a Deus como é possível tudo isto. A resposta de Deus é que o ímpio, que aparenta prosperidade, está na realidade a construir a própria ruína, mas o justo viverá pela sua fidelidade. Muitos acontecimentos da nossa vida são enigmáticos, incompreensíveis, ilógicos. Nestes momentos a nossa fé é posta à prova e só nos resta gritar ao Senhor. Ele escuta sempre a nossa voz, o que é difícil é que nós escutemos a sua.
A 2ª leitura é da II Epístola de S. Paulo a Timóteo. A evangelização é um trabalho difícil. Por isso, S. Paulo incentiva à coragem e valentia o discípulo Timóteo: “Lutar sem desfalecimento”.
A 3ª leitura é do Evangelho segundo S. Lucas. O pedido dos Apóstolos, de aumentar a sua fé, revela que se deram conta de que a maturação espiritual não é fruto do seu esforço e do seu empenho, mas é um dom de Deus e, por isso, pedem a Jesus que os torne mais decididos, mais convictos, mais generosos na sua escolha em segui-l’O. Na resposta, Jesus, com as comparações apresentadas, diz-nos primeiro que para quem acredita não existem situações irrecuperáveis. Quem confia na sua palavra será testemunha de milagres extraordinários e inesperados. Diz-nos depois, sem aprovar o que era corrente naquela época, que o homem nação pode exigir de Deus nenhum direito, pois d’Ele recebe tudo gratuitamente. Jesus quer que o discípulo ponha de lado todo o tipo de egoísmo, mesmo o espiritual. Entra no reino de Deus quem ama de forma incondicional e gratuita, como o Pai que está nos céus.

A Palavra do Evangelho

Diante da Palavra

Vem Espírito Santo e abre o meu coração para escutar e obedecer ao que Jesus me vai dizer hoje!


Evangelho    Lc 17, 5-10

Naquele tempo, os Apóstolos disseram ao Senhor: «Aumenta a nossa fé». O Senhor respondeu: «Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: ‘Arranca-te daí e vai plantar-te no mar’, e ela obedecer-vos-ia. Quem de vós, tendo um servo a lavrar ou a guardar gado, lhe dirá quando ele voltar do campo: ‘Vem depressa sentar-te à mesa’? Não lhe dirá antes: ‘Prepara-me o jantar e cinge-te para me servires, até que eu tenha comido e bebido. Depois comerás e beberás tu’? Terá de agradecer ao servo por lhe ter feito o que mandou? Assim também vós, quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: ‘Somos inúteis servos: fizemos o que devíamos fazer’.

Caros amigos e amigas, hoje Jesus desafia-nos a tomar o pulso da nossa fé, da nossa relação de confiança com Ele e do quanto isso se traduz em serviço simples e generoso. 

Interpelações da Palavra

“Aumenta a nossa fé”
Frente aos grandes desafios que Jesus nos faz no Evangelho, muitas vezes só nos resta mesmo pedir: “aumenta a nossa fé”. Que significa este pedido? 
Ter fé é acima de tudo ter confiança em Alguém que é Jesus. É escutar a Sua Palavra, os seus convites tão ousados e desafiantes para nós, e ter a graça de responder, de obedecer, de deixar que essa Palavra se faça em nós, de querer que se cumpra em nós. 

 “Se tivésseis fé como um grão de mostarda…”
É preciso querer nem que seja só um pouquinho… ter fé do tamanho de um grão de mostarda e ter um mínimo de abertura, de vontade, de desejo, é Deus entra e faz cumprir a Sua Palavra em nós. 
Conheces alguém que tem fé? Alguém que tem fé como um grão de mostarda? 
Conheço uma senhora de 84 anos que vive num lar e continua a sua missão de cuidar das pessoas que vivem com ela, visita-as todos os dias, reza com elas e anima-as a viver agradecidas com o que têm. Apesar das dificuldades, da falta de humanidade que às vezes sente à sua volta, ela continua com o seu sorriso rasgado na cara e faz o que tem de fazer.  Também sei que de vez em quando vai até à capela estar com o Senhor e pede por todos. Tenho a certeza que esta é uma mulher de fé!

 “Fizemos o que devíamos fazer”
Fazer o que devemos fazer, estar onde o Senhor nos pede estar, com simplicidade e generosidade, é uma atitude de fé. Quem está ao serviço d’Aquele que o chama e é o seu Senhor, já recebeu a sua recompensa, não busca méritos nem outros reconhecimentos.


Rezar a Palavra e contemplar o Mistério   
Contemplo um grão de mostarda,
reparo como é minúsculo na palma da minha mão 
e saboreio as Tuas palavras 
“se tivésseis fé como um grão de mostarda …”
E deixo que surja uma prece:
Senhor, aumenta a minha fé! 
Que Eu te escute e te obedeça desde as mais pequenas coisas.
E assim Te ame, sem interesses nem esperando méritos, 
mas simplesmente o faça por Ti


Viver a Palavra
Vou reparar naquilo que me move interiormente a fazer o que tenho de fazer no dia a dia.