Nota histórica

A Transfiguração do Senhor diante dos apóstolos Pedro, Tiago e João, com o testemunho da Lei e dos Profetas, «manifestou a sua glória e na sua humanidade, em tudo semelhante à nossa, fez resplandecer a luz da sua divindade, para tirar do coração dos discípulos o escândalo da cruz e mostrar que devia realizar-se no corpo da Igreja o que resplandecia na sua cabeça» (Prefácio). Esta celebração realça a dimensão pascal e escatológica da liturgia e de toda a vida cristã. Originariamente celebrada no Oriente, foi estendida a toda a Igreja pelo papa Calisto II, no dia 6 de agosto de 1457.

LEITURA I Dn 7, 9-10.13-14

Estava eu a olhar, quando foram colocados tronos e um Ancião sentou-se. As suas vestes eram brancas como a neve e os cabelos como a lã pura. O seu trono eram chamas de fogo, com rodas de lume vivo. Um rio de fogo corria, irrompendo diante dele. Milhares de milhares o serviam e miríades de miríades o assistiam. O tribunal abriu a sessão e os livros foram abertos. Contemplava eu as visões da noite, quando, sobre as nuvens do céu, veio alguém semelhante a um filho do homem. Dirigiu-Se para o Ancião venerável e conduziram-no à sua presença. Foi-lhe entregue o poder, a honra e a realeza, e todos os povos e nações O serviram. O seu poder é eterno, que nunca passará, e o seu reino jamais será destruído.

compreender a palavra
A visão de Daniel, mais alargada do que este pequeno texto, apresenta Deus como um ancião que se senta com a sua corte no trono de fogo com rodas e lume vivo. Parece montar-se uma sessão de julgamento onde o Ancião é o juiz. Há um rio de fogo que separa o ancião daqueles que vão ser julgados e serve para executar a sentença. Depois aparece “um filho do homem”. Não sabemos quem é este personagem. Sabemos que não desce nem sobe, simplesmente vem sobre as nuvens e dirigindo-se ao ancião recebe o poder, a honra e a realeza e o seu reino será eterno. Todos os povos o servirão.

meditar a palavra
A profecia do filho do homem remete-nos automaticamente para Jesus. Ele disse de si mesmo que era “o filho do homem”, sobretudo quando se falava sobre a forma como iria morrer e para falar sobre a sua vinda “sobre as nuvens”. Jesus fala também de uma sessão de julgamento quando ele, o filho do homem, se sentar no seu trono de glória também eles, os apóstolos, se sentarão com ele para julgar as doze tribos de Israel. Na festa da Transfiguração do Senhor, esta passagem de Daniel, onde aparece o “filho do homem”, serve para mostrar que este Jesus que se transfigura no cimo do monte é aquele que recebeu o poder a honra e a realeza. É aquele que se fez homem, mas está ao nível de Deus que tem na mão o fogo para julgar os poderes da terra que se opõem ao seu poder.

rezar a palavra
O teu poder, senhor, é o amor. O teu fogo é purificador e o teu julgamento é misericórdia. Justamente condenados ao esquecimento por causa dos nossos pecados, não nos abandonaste à nossa sorte, mas enviaste o teu filho, para que, como filho do homem, no mistério da cruz, restabelecesse a amizade entre ti e os homens pelo sangue derramado. Ali, no madeiro do suplício, o fogo do amor chegou até nós e tocou-nos pela água e pelo Espírito Santo para nos purificar e revestir da tua glória elevando-nos à condição de filhos. Nenhum poder nos pode arrebatar das tuas mãos porque só o teu reino é eterno.

compromisso
Revestido de Cristo pelo batismo quero experimentar continuamente a força purificadora do fogo do amor misericordioso de Deus.

LEITURA II 2Pd 1, 16-19

Caríssimos: Não foi seguindo fábulas ilusórias que vos fizemos conhecer o poder e a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas por termos sido testemunhas oculares da sua majestade. Porque Ele recebeu de Deus Pai honra e glória, quando da sublime glória de Deus veio esta voz: «Este é o meu Filho muito amado, em quem pus toda a minha complacência». Nós ouvimos esta voz vinda do céu, quando estávamos com Ele no monte santo. Assim temos bem confirmada a palavra dos Profetas, à qual fazeis bem em prestar atenção, como a uma lâmpada que brilha em lugar escuro, até que desponte o dia e nasça em vossos corações a estrela da manhã.

compreender a palavra
Pedro dá testemunho da sua presença no cimo do monte, quando Jesus se transfigurou e revelou ser ele o cumprimento de toda a lei e de todas as profecias, ao falar com Moisés e Elias. Desta forma confirma que o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo que anuncia não está fundado em fábulas ou ilusões, mas na voz vinda do céu que dizia: «Este é o meu Filho muito amado, em quem pus toda a minha complacência».

meditar a palavra
Recebemos o Evangelho diretamente daqueles que viram e ouviram na primeira pessoa, por conviverem diretamente com o seu autor, Jesus Cristo. O seu testemunho revela que esse Jesus em quem acreditamos está acreditado junto de Deus e a sua palavra é confirmada pelos profetas, Moisés e Elias. “Aquele que viu estas coisas é que dá testemunho delas e o seu testemunho é verdadeiro”, diz S. João no seu Evangelho (19, 35), ele que esteve com Pedro no cimo do monte. “Nós ouvimos esta voz vinda do céu, quando estávamos com Ele no monte santo” diz Pedro, para entendermos que recebemos a verdade e não fantasias e é nesta verdade que encontramos a luz que nos ilumina até que chegue o dia do Senhor.

rezar a palavra
O teu evangelho, chegou até nós, Senhor, pela boca e pelas mãos daqueles que escolheste para andarem contigo e serem enviados em teu nome. Eles viram, ouviram e beberam da vida que partilhaste com eles. Por isso encontro nesta palavra a verdade que ilumina a minha noite e me faz acreditar que o dia vem, esse dia em que verei o teu rosto.

compromisso
Aprofundo a minha fé na palavra e procuro dar testemunho com a minha vida como o fizeram os apóstolos que estiveram no cimo do monte.

EVANGELHO Mt 17, 1-9

Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João seu irmão e levou-os, em particular, a um alto monte e transfigurou-Se diante deles: o seu rosto ficou resplandecente como o sol e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz. E apareceram Moisés e Elias a falar com Ele. Pedro disse a Jesus: «Senhor, como é bom estarmos aqui! Se quiseres, farei aqui três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias». Ainda ele falava, quando uma nuvem luminosa os cobriu com a sua sombra e da nuvem uma voz dizia: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência. Escutai-O». Ao ouvirem estas palavras, os discípulos caíram de rosto por terra e assustaram-se muito. Então Jesus aproximou-se e, tocando-os, disse: «Levantai-vos e não temais». Erguendo os olhos, eles não viram mais ninguém, senão Jesus. Ao descerem do monte, Jesus deu-lhes esta ordem: «Não conteis a ninguém esta visão, até o Filho do homem ressuscitar dos mortos».

compreender a palavra
Esta manifestação de Jesus no cimo do monte que dá nome à festa que celebramos, a transfiguração de Jesus, coloca diante dos olhos dos três discípulos escolhidos o episódio do monte Sinai, onde a nuvem luminosa e o rosto iluminado de Moisés são testemunho da presença de Deus. Os três discípulos são agora testemunhas de uma nova manifestação. Jesus transfigura-se, quer dizer, mostra-se como ele é, o filho de Deus, o centro de toda a revelação, aquele em quem se cumprem as Escrituras. Moisés e Elias são símbolo da Lei e dos Profetas. Nessa manifestação, para além da visível atrapalhação dos discípulos, ouve-se a voz do Pai, como no Jordão, depois de Jesus sair da água. Essa voz revela o mistério, «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência» e dá uma ordem «Escutai-O». Perplexos caem de rosto por terra porque estão atemorizados e percebem-se na presença de Deus. Ao descer do monte os discípulos dão-se conta que foram testemunhas de algo muito importante que não devem revelar, porque Jesus assim o pede.

meditar a palavra
Estamos inseridos neste mistério de Cristo que, sendo homem é também Filho de Deus. Aquele que afirma «O Filho do Homem tem que ser entregue nas mãos dos homens, que o matarão; mas, ao terceiro dia, ressuscitará» é o mesmo que agora se mostra aos nossos olhos em todo o esplendor da sua divindade, como se mostrará de novo, mais tarde, já vencedor da morte. O Filho do Homem é o Filho de Deus, o que morre na cruz é o que já existia em Deus desde sempre e o que ressuscita é o que suspirou na cruz por aqueles que o mataram. A força deste acontecimento presenciado pelos três discípulos é reveladora do poder de Deus que desde sempre se interessou pelos homens, os chamou, reuniu na grande assembleia do Sinai, deu-lhes uma lei, edificou-os na esperança através das promessas anunciadas pelos profetas e agora realiza tudo por meio de seu Filho Jesus Cristo. É neste mistério de Cristo que nós acreditamos e este mistério ele manifesta-se a cada um de nós numa experiência única, semelhante à dos discípulos, porque como eles também nós somos envolvidos na mesma luz de Cristo ressuscitado.

rezar a palavra
Eu creio, Senhor, que tu és o Filho de Deus que havia de vir ao mundo. Tu és aquele que os nossos pais esperaram e os discípulos contemplaram transfigurado no cimo do monte. Tu és aquele que ilumina a minha vida e a vida de cada homem que vem a este mundo.

compromisso
Contemplo o mistério de Cristo transfigurado fazendo um tempo de adoração.