As sociedades humanas têm os seus chefes. O povo de Deus, em toda a história da salvação, pôde sempre dispor dos seus guias. Uns e outros têm a missão de servir as instituições e os povos segundo as regras da rectidão e da justiça. Que Deus esteja sempre com aqueles que desempenham funções de chefia e que estes sejam fiéis aos desígnios de Deus.
1• O Evangelho deste Domingo, depois de nos narrar as várias crenças a respeito de Jesus, situa-nos na grande profissão de fé de Pedro que, em nome dos «Doze», confessa que Jesus é o «Messias, o Filho de Deus vivo».Esta profissão de fé é, por assim dizer, o pedestal sobre o qual Jesus coloca a justificação do serviço da autoridade no interior da Igreja. A Igreja é uma sociedade visível, mas é, simultaneamente, uma comunhão de irmãos unidos em Cristo pela ação do Espírito Santo. Por isso, todo o serviço que os guias das comunidades são chamados a exercer no interior da Igreja, tem de ter a fé como seu fundamento. Cristo faz de Pedro a «rocha» visível sobre a qual assentará a sua Igreja. Depois desta linda profissão de Pedro, Cristo confia-lhe o «poder» de abrir aos irmãos o «reino dos céus», dando-lhe, desta maneira, a autoridade humana de exercer, em seu nome, o ministério sagrado; de «ligar na terra» o que Ele mesmo, depois de ressuscitado, liga nos céus. Ou seja, deixa na terra, como seu sinal visível um dos «doze» que Ele constitui chefe, na docilidade às moções do Espírito, exercendo uma missão que tem por objetivo a salvação de todos.
2• Tal «poder», contudo, não é mero fruto de uma conquista ou capacidade pessoal. É dado por Deus que, no silêncio da sua atuação divina, providencia para que seja exercido segundo o seu desígnio de retidão, justiça e amor. É isso que nos mostrava o primeiro texto da profecia de Isaías. O Profeta fala-nos da destituição de Chebna, administrador do palácio do rei. E porquê? Porque o rei, em Israel, e aqueles que estão associados à sua missão de governo, têm como primeira obrigação conduzir o povo segundo os desígnios de Javé. Quando alguém se desvia desse plano, Deus suscita «servos», como Eliacim, para que desempenhem tais missões.
Fica-nos a ideia de que por detrás do poder dos homens está o poder de Deus que lhes é infinitamente superior. Deus estará sempre com todos, mas cuidará, de modo especial, daqueles que se esforçam por ser fiéis ao plano de Deus. Chebna contrasta com Pedro: aquele é destituído porque não corresponde aos desígnios de Deus; este é instituído para tornar Deus presente no meio dos homens.
3• Esta é a sabedoria, a riqueza e a ciência de Deus, de que nos fala Paulo, na segunda leitura: confiar aos homens poderes divinos.
D. Manuel Madureira Dias, in Homilias de um Bispo, Secretariado
Nacional de Liturgia, Fátima 2017
https://livros.liturgia.pt/verbum-caro/293-maravilhas-de-deus-homilias-de-um-bispo.html