1. João Baptista e Jesus
– João Baptista é das pessoas que, do ponto de vista da história e da missão, mais ligadas estiveram a Jesus. Dizemos que ele é o “precursor”, aquele que veio adiante de Jesus para indicar o caminho e O mostrar presente no meio dos homens…
– E o que é que João Baptista disse e fez antes de Jesus aparecer? Pregou no deserto, as pessoas iam ter com ele, baptizava-os perdoando os pecados e convidando ao arrependimento… E dizia que o que vinha depois dele “baptizaria no Espírito Santo e no fogo”, “teria na mão a pá de joeirar para limpar a eira e recolher o trigo no celeiro e queimar a palha…” João Baptista anunciava um juízo iminente e uma intervenção marcante de Deus, que não deixaria ninguém de fora castigando os maus e dando a recompensa aos bons…
– Mas, de facto, parece que os começos da actividade de Jesus não foram assim tão espectaculares… Bem pelo contrário, a ponto de o próprio João manifestar dúvidas sobre a orientação que Jesus estava a dar à missão, como deixa claro o Evangelho de hoje: João manifesta dúvidas e algum desconcerto porque o juízo que ele tinha anunciado parecia não se realizar com alguém que caminha com os outros pelas ruas das cidades e aldeias, se junta com os pecadores, propõe a misericórdia em contraste com a Lei e diz que é assim que “o Reino já está presente no meio dos homens”…
– Jesus não se distancia de João: elogia-o pela sua acção com palavras extraordinárias mas, ao mesmo tempo, convida-o, a ele e a todos, a ver os sinais da chegada do Reino…
2. Todos somos um pouco como João
– Todos nós, como João, gostaríamos de ver logo sinais poderosos e extraordinários e custa-nos muito reconhecer a acção de Deus nas coisas simples e humildes, um Deus que actua lentamente respeitando a liberdade das pessoas e o ritmo das coisas, influenciando primeiro por dentro e só depois por fora: são os cegos que vêem, os coxos que andam, os leprosos que são curados, os surdos que ouvem, os mortos que ressuscitam e a Boa Nova anunciada aos pobres…
– Mesmo nestes tempos de crises sociais e políticas a nível mundial, há muitos bons sinais que devemos ver e interpretar e que nos dão esperança: há gente que reparte com quem não tem, há iniciativas novas que levam as pessoas a ir ao encontro dos necessitados, criatividade que leva a partilhar as vidas e as experiências… Há muita gente empenhada a viver de outra maneira para que outros também vivam melhor…
– Há paralíticos que se levantam porque encontram em quem se apoiar, há cegos que começam a olhar o futuro porque alguém lhe ajudou a abrir os olhos, há mortos que levantam a toalha do chão porque lhes foi restituída a dignidade e recomeçam as suas actividades…
– Não, não são sinais muito animadores… Mas há sinais. Só que, muitas vezes, não fazem a capa dos jornais nem ocupam as notícias da televisão… São, no entanto, sinais do Reino, actuação de Deus aqui e agora; sinais e esperança…
– Todavia, é nossa obrigação perguntar sempre como é que podemos nós ser sinais para os outros, o que é que nós fazemos para que os outros recuperem a esperança, qual é o nosso compromisso?!…
– As leituras deste domingo dizem-nos que nós ainda não chegámos a lado nenhum, mas estamos a caminho; ainda não chegámos à plena luz do dia porque há muitos que vivem nas sombras, porventura nós próprios, mas já assomam as primeiras luzes…
– “Esperai com paciência” (diz São Tiago): a paciência não é resignação, mas resistência: no amor, no trabalho, no compromisso e na dedicação… Haverá um tempo de colheita, a terra florescerá e a alegria será grande, como diz Isaías…