“Este é o dia que o Senhor fez, exultemos e alegremo-nos nele”. A morte não tem a última palavra; foi vencida pelo amor de Jesus Cristo, que se entregou totalmente e sem quaisquer condições. O fruto deste amor é a vida que a pedra do sepulcro não pode encerrar.

Aquela comunidade dos discípulos de Jesus, dos que O tinham acompanhado pela Galileia depois do Baptismo que João pregou, parece ter sentido um grande embate aquando da prisão e da condenação à morte de Jesus. O desconcerto foi grande; a incredulidade, o cepticismo e o desencanto apoderaram-se de muitos mas, mantiveram ainda uma certa expectativa e curiosidade indo ao sepulcro e ficando assombrados com o que puderam observar. O discípulo viu e acreditou; compreendeu a Escritura segundo a qual Jesus deveria ressuscitar dos mortos. 

1. Páscoa!

— Herdámos esta palavra da tradição judaica que a interpreta como passagem de uma situação de escravidão para a liberdade. A Páscoa celebrava a libertação dos filhos de Israel do Egipto para começarem o caminho em direcção à terra prometida…

— Para nós, cristãos, a nova Páscoa é a ressurreição de Jesus, a sua passagem da morte à vida: o grande inimigo da condição humana, a morte, é vencido na ressurreição de Jesus…

— Ao mesmo tempo, este acontecimento central da nossa fé motiva-nos para todas as mudanças existenciais e colectivas, estimula a nossa acção em ordem a construir a liberdade e um futuro com Deus, porque no crucificado-ressuscitado reconhecemos que Deus faz novas todas as coisas, e de Cristo emerge a verdadeira vida…

2. Uma espiritualidade pascal

— Da Páscoa nasce uma espiritualidade que traz mais luz, a luz da ressurreição, uma presença contínua de Deus na nossa história de cada dia… Tantas vezes nos fixamos mais na cruz do que na luz da ressurreição e esquecemos que a cruz aponta para a ressurreição…

— A fé que professamos foi, em grande parte, transmitida por herança, narrada de uma determinada maneira e de acordo com as perspectivas do momento que insistiam mais no sofrimento e na morte, e não fomos capazes de fazer uma actualização e de nos abrirmos a uma experiência pessoal de libertação…

— De facto, a fé tem sido mais vista como uma doutrina do que como uma experiência real de adesão à pessoa de Jesus que morreu e ressuscitou…

— Uma fé assim é fria, impessoal, pouco consistente e animadora… É mais refúgio do que experiência de libertação…

— Quando esta fé não nos leva a partilhar e a participar nas tristezas e nas angústias, nas alegrias e nas esperanças dos homens do nosso tempo, em tudo o que é verdadeiramente humano; se os problemas da humanidade não encontrarem eco no coração dos discípulos de Cristo, então esta fé facilmente é descartável… 

3. Ver o mundo de maneira diferente:

— A ressurreição de Cristo é um acontecimento alegre e feliz… É urgente anunciar esta grande notícia e mostrar o nosso estilo de vida que assenta nesta verdade fundamental da nossa fé: Cristo ressuscitou, está vivo…

— Em vez de insistir tanto nos males, na morte e no vazio, como os discípulos que foram ao sepulcro descubramos os sinais da vida, da presença de Deus vivo onde outros pretendem ver apenas os sinais da morte…

— Só os olhos do amor são capazes de ver as coisas de outro modo e de ultrapassar o que parece destinado ao fracasso… Estes olhos vêm para além do túmulo… As testemunhas da ressurreição são as testemunhas do grande amor de Deus pela humanidade…