Leitura I (anos ímpares) Rm 9, 1-5
Irmãos: Em Cristo digo a verdade, não minto, e disso me dá testemunho a consciência no Espírito Santo: Sinto uma grande tristeza e uma dor contínua no meu coração. Quisera eu próprio ser anátema, separado de Cristo, para bem dos meus irmãos, que são do mesmo sangue que eu, que são israelitas, a quem pertencem a adoção filial, a glória, as alianças, a legislação, o culto e as promessas, a quem pertencem os Patriarcas e de quem procede Cristo segundo a carne, Ele que está acima de todas as coisas, Deus bendito por todos os séculos. Amen.
compreender a palavra
Paulo, consciente da realidade que é a salvação de Deus e a resposta do homem, afirma a sua dor pelo facto de serem sempre poucos os que aceitam a oferta de Deus. Parece que Deus não tem muito sucesso na vida e nas opções dos homens. Ele revela-se, dá-se a conhecer de muitos modos na vida e na história dos homens, particularmente ao povo eleito, através dos patriarcas e dos profetas, mas são poucos os que se decidem aceitar a proposta salvífica de Deus. Na plenitude dos tempos, revelou-se e salvou os homens em Cristo seu Filho, mas, ainda assim, a resposta do povo eleito foi pequena. Paulo sente tristeza por isso. Deus salva a todos e são poucos, um “resto”, os que aceitam conscientemente esta salvação. Na sua tristeza e no zelo pelo anúncio do evangelho, Paulo acaba por dizer, com verdade, “quisera eu próprio ser anátema, separado de Cristo, para bem dos meus irmãos, que são do mesmo sangue que eu”.
meditar a palavra
Aquele que aderiu ao evangelho e se deixou seduzir por Cristo e o aceita como salvador, experimenta, em simultâneo, um desejo crescente de revelar a sua experiência aos outros até os inserir no mesmo mistério e ver neles a mesma alegria. A experiência superficial da fé apenas dá a capacidade de centrar todas as forças na adesão a Cristo não permitindo espaço para a revelação e anúncio aos outros, até porque tem em si uma dose de insegurança. A fé adulta e consciente no mistério da salvação faz crescer em nós o desejo de inserir os outros no mesmo mistério. Esta vontade de ver os outros no caminho de Cristo é marcada por um amor tão elevado que sentimos até o desejo materno ou paterno de, se necessário, que eu me perca, mas que os outros se salvem. Ou seja, quem encontra Cristo não pensa na sua salvação, mas na salvação dos outros.
rezar a palavra
Senhor, que a fé não seja na minha vida o exercício egoísta de quem quer salvar a própria alma, num caminho de ritos e orações vazias de amor. Como Paulo, quero experimentar as dores de quem sofre pelos outros e deseja ardentemente a salvação de todos no mistério do único amor, o amor revelado no mistério pascal de Cristo.
compromisso
Que a minha fé seja um espaço livre por onde todos passam para estar com Cristo.
Evangelho Lc 14, 1-6
Naquele tempo, Jesus entrou, num Sábado, em casa de um dos principais fariseus, para tomar uma refeição. Todos O observavam. Diante d’Ele encontrava-se um hidrópico. Jesus tomou a palavra e disse aos doutores da lei e aos fariseus: «É lícito ou não curar ao Sábado?». Mas eles ficaram calados. Então Jesus tomou o homem pela mão, curou-o e mandou-o embora. Depois disse-lhes: «Se um filho vosso ou um boi cair num poço, qual de vós não irá logo retirá-lo em dia de Sábado?». E eles não puderam replicar a estas palavras.
compreender a palavra
Jesus atua em nome de Deus que cuida do necessitado. Não atua em nome dos homens, nem segundo o critério das normas legais, nem segundo os interesses dos poderosos. Jesus mostra que todas as leis sociais, políticas e mesmo religiosas devem estar submetidas ao grande princípio da pessoa humana. O homem é mais do que que as leis. Muitas vezes as normas e as leis aprisionam-nos e impedem-nos de ver a pessoa. A misericórdia é a atitude de Deus e Ele convida-nos a exercitar esta atitude uns com os outros.
meditar a palavra
O Senhor quer avisar-nos dos esquemas rígidos e abstratos que nos impedem de perceber a vontade de Deus e o bem dos homens. Onde houver uma pessoa a precisar de ajuda, um sofrimento a aliviar, uma necessidade a suprimir, devo antes de mais empenhar-me a favor da pessoa porque, agindo assim, cumpro a vontade de Deus. É este o verdadeiro culto agradável a Deus, a autêntica observância da sua Lei que é a lei do amor.
rezar a palavra
Senhor, sempre recusaste tudo o que – mesmo que se apresente como Lei de Deus – impede o homem de fazer o bem e de socorrer quem passa necessidade e experimenta o sofrimento. Para ti, a vontade do Pai não se exprime numa quantidade de práticas ou preceitos, mas no imperativo do amor que ajuda quem está em situação de mal-estar.
Por isso, não permitas que me deixe aprisionar por subtilezas e distinções que só nascem do egoísmo e do comodismo; mas torna-me atento e disponível a quem precisa da minha ajuda, da minha solidariedade e do meu socorro pronto e generoso.
compromisso
Darei especial atenção às pessoas que sofrem, para lhes oferecer a minha ajuda pronta e generosa.