Coelet 1, 2-11

Vaidade das vaidades – diz Coelet – vaidade das vaidades, tudo é vaidade. Que aproveita ao homem todo o esforço com que trabalha debaixo do sol? Passa uma geração, vem outra geração e a terra permanece sempre. Nasce o sol e põe-se o sol; depressa volta ao ponto de partida, donde volta a nascer. O vento sopra do sul, depois sopra do norte; num vaivém constante, retoma os seus caminhos. Todos os rios vão ter ao mar e o mar nunca se enche; e embora cheguem ao seu termo, jamais deixam de correr. Todas as coisas se afadigam, mais de quanto se pode explicar; o olhar não se farta de ver, nem o ouvido se cansa de ouvir. O que foi será outra vez e o que se deu voltará a acontecer: nada de novo debaixo do sol. Se de alguma coisa se disser: «Vede que isto é novidade», o certo é que já foi assim nos tempos que nos precederam. Mas nenhuma memória ficou dos tempos antigos, nem haverá lembrança dos acontecimentos futuros entre aqueles que vierem depois.

Compreender a Palavra

O livro de Coelet faz parte do conjunto dos livros da sabedoria e apresenta uma leitura da vida e da realidade. O sofrimento é um tema importante em todas as épocas porque toca o homem de perto, na sua pele e no seu espírito. O autor tem uma visão pessimista da realidade e da vida. Tudo é vaidade… é vão o trabalho do homem…tudo volta ao ponto de origem… não há novidade porque tudo já foi e volta a ser. Esta visão negativa, é fruto da contemplação de tempos difíceis e da experiência de sofrimento que atinge o homem parecendo viver num labirinto que o faz retornar uma e outra vez ao ponto de partida, numa vida sem retorno.

Meditar a Palavra

O pessimismo de Coelet choca-nos porque em Cristo encontrámos o caminho a verdade e a vida. Encontrámos a saída para este contínuo retorno ao ponto de partida, o sofrimento. Agora, olhamos o mundo a partir da novidade permanente que é Cristo na sua ressurreição como fonte de vida e de alegria. Em Cristo o homem, mesmo no sofrimento, pode ser feliz porque tem caminho e tem destino. Sem Cristo, a dor, o sofrimento e a morte, provocam a angústia porque são o fim do qual não se pode sair. Em Cristo não há fim, a morte é caminho de vida eterna. Apesar de tudo, com o seu pessimismo, Coelet faz-nos pensar na realidade deste mundo e como é passageiro este cenário. A vaidade de pensar ter aqui morada permanente, de escapar ileso ao passar do tempo e a veleidade de se julgar acima das forças do vento, mostram a nossa pequenez diante do mistério da vida que em definitiva é o mistério de Deus que nos acompanha.

Rezar a palavra

Os ventos sopram, Senhor contra esta casa que sou eu e que é a vida e o mundo e nada podem contra ela porque está edificada sobre a rocha que és tu, no mistério que salva, a morte e a ressurreição. Caminhar por mim, encontrar o caminho da vida apenas com as minhas visões da realidade é pretensão que me leva ao abismo. Ensina-me, Senhor, que sou pó e nada nos ventos que fazem girar o tempo sobre mim e que só em ti, senhor do tempo, a minha vida encontra plenitude.

Compromisso

Olhar através de Cristo é encontrar um caminho e uma resposta para a dor, o sofrimento e a morte.

Evangelho: Lc 9, 7-9

Naquele tempo, o tetrarca Herodes ouviu dizer tudo o que Jesus fazia e andava perplexo, porque alguns diziam: «É João Baptista que ressuscitou dos mortos». Outros diziam: «E Elias que reapareceu». E outros diziam ainda: «É um dos antigos profetas que ressuscitou». Mas Herodes disse: «A João mandei-o eu decapitar. Mas quem é este homem, de quem oiço dizer tais coisas?». E procurava ver Jesus.

Compreender a Palavra

O texto que escutamos hoje vem na sequência do envio dos discípulos com poder para curar e expulsar demónios e anunciar a Boa Nova. Jesus tem uma atitude clara diante dos homens e os discípulos são ensinados a viver de acordo com essa atitude de Jesus. O texto de hoje mostra que a acção de Jesus e dos discípulos desperta a curiosidade de todos sobre a identidade de Jesus. Herodes questiona-se e a multidão inventa identidades para Jesus, nos profetas já mortos. Herodes tem razão para não seguir as vozes que chegavam ao seu palácio, porque tinha sido ele a mandar matar João. Quem será então Jesus? Esta interrogação cria em Herodes o desejo de ver Jesus.

Meditar a Palavra

Os discípulos de Jesus seguem pelo seu caminho, imitando-o nos seus gestos e palavras. Desta forma, anunciam a Boa Nova, curam os doentes e expulsam demónios. Mas há outro caminho, o dos que preferem identificar Jesus com os mortos, quer dizer, querem vê-lo como um personagem do passado. Também há quem, por curiosidade, queira ver Jesus. Estas três atitudes colocam-se diante de mim e questionam-me. Qual a minha posição diante de Jesus? Fico a dissertar sobre a sua identidade como quem procura saber de um morto? Tenho desejo de ver Jesus por curiosidade face ao que se diz dele? Ou sigo-o, imitando-o, como os discípulos, assumindo que Jesus está vivo e me envia a continuar a sua missão?

Rezar a Palavra

Muitos perguntam quem tu és, Senhor. Às vezes até me fazem essa pergunta a mim. Tenho sempre muita dificuldade em dar uma resposta e sobretudo tenho receio de errar na resposta, não dizendo tudo quanto é importante dizer. Hoje ensinas-me que a resposta às perguntas das pessoas sobre a tua identidade está na minha vida. Se eu me lançar na aventura de realizar os gestos e anunciar as palavras que tu nos deixaste, o mundo vai entender quem tu és. Tu és aquele que liberta o homem das suas enfermidades, das suas prisões e abre caminhos novos de esperança para os que, ouvindo a tua palavra, crêem em ti. Dá-me coragem para fazer da minha vida um verdadeiro testemunho para que todos queiram ver-te.

Compromisso

Quero assumir um compromisso na minha comunidade, pondo-me ao serviço de Jesus e da sua Boa Nova.