S. Cornélio, papa, e S. Cipriano, bispo, mártires
Memória
Cornélio foi ordenado bispo da Igreja de Roma no ano 251. Teve de combater o cisma dos novacianos e, com a ajuda de S. Cipriano, conseguiu consolidar a sua autoridade. Foi desterrado pelo imperador Gallo e morreu no exílio, perto de Civitavecchia. O seu corpo foi trasladado para Roma e sepultado no cemitério de Calisto, no dia 14 de setembro de 252.
Cipriano nasceu em Cartago, por volta do ano 210, de uma família pagã. Tendo‑se convertido à fé e ordenado presbítero, foi eleito bispo daquela cidade no ano 249. Em tempos muito difíceis, governou sabiamente, com suas obras e escritos, a Igreja que lhe foi confiada. No seu magistério deu um notável contributo à doutrina sobre a unidade da Igreja, reunida em redor da Eucaristia presidida pelo bispo. Na perseguição de Valeriano sofreu, primeiramente, o exílio e, depois, o martírio no dia 14 de setembro do ano 258.
Leitura I 1Cor 12, 31-13, 13
Irmãos: Aspirai com ardor aos dons espirituais mais elevados. Vou mostrar-vos um caminho de perfeição que ultrapassa tudo: Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos. se não tiver caridade, sou como bronze que ressoa ou como címbalo que retine. Ainda que eu tenha o dom da profecia e conheça todos os mistérios e toda a ciência, ainda que eu possua a plenitude da fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, nada sou. Ainda que distribua todos os meus bens aos famintos e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada me aproveita. A caridade é paciente, a caridade é benigna; não é invejosa, não é altiva nem orgulhosa; não é inconveniente, não procura o próprio interesse; não se irrita, não guarda ressentimento; não se alegra com a injustiça, mas alegra-se com a verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O dom da profecia acabará, o dom das línguas há de cessar, a ciência desaparecerá; mas a caridade não acaba nunca. De maneira imperfeita conhecemos, de maneira imperfeita profetizamos. Mas quando vier o que é perfeito, o que é imperfeito desaparecerá. Quando eu era criança, falava como criança, sentia como criança e pensava como criança. Mas quando me fiz homem, deixei o que era infantil. Agora vemos como num espelho e de maneira confusa, depois, veremos face a face. Agora, conheço de maneira imperfeita; depois, conhecerei como sou conhecido. Agora permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e a caridade; mas a maior de todas é a caridade.
compreender a palavra
Há um caminho de perfeição que conduz às coisas espirituais mais elevadas. Paulo aconselha a aspirar com ardor a estas realidades. O caminho da perfeição é a caridade. De todas as coisas que possamos viver, experimentar ou mesmo suportar, nenhuma se compara com a caridade. A caridade supera todas as coisas, todo o bem e toda a perfeição. Ela está acima e subsiste, mesmo depois de desaparecerem todas as outras realidades, como a fé e a esperança. Então, de nada vale tudo o que fazemos se não o realizarmos na caridade. Em vão nos sacrificamos se não o fizermos na caridade. E se não é pela caridade nada somos, nada nos aproveita. Sabemos que tudo será imperfeito enquanto não vier o que é perfeito. De qualquer modo, já não somos crianças e, por isso, não deixamos de nos dedicar na caridade, ainda que de modo imperfeito. O que vemos, já nos fala da perfeição que ainda não vemos.
meditar a palavra
O hino da caridade, assim chamamos a este texto de Paulo, é muito bonito aos nossos ouvidos. Muitos se deliciam a lê-lo e a escutá-lo. Há até quem faça dele um programa de vida. Mas, concretizar este desafio na vida de cada dia não é de todo fácil. Os bens espirituais mais elevados requerem a exigência da caridade. Quem não se dedica aos outros com amor renunciando a si mesmo e aos próprios interesses, arrisca-se a correr em vão. Amar de verdade o outro, servi-lo na caridade, exige paciência, benignidade, alegria pelos seus sucessos, reconhecimento da verdade e a capacidade do perdão. A caridade de se amar a si mesmo, aceitando os fracassos, as fragilidades e derrotas. Amar a Deus acima de tudo reconhecendo-o como a perfeição que buscamos e não se deixar enganar pela aparência do que nos é apresentado como perfeição. A caridade é que nos faz chegar a ser aquilo que devemos ser, diante de Deus e dos outros. Se não amamos, então nada somos.
rezar a palavra
Tudo crer, tudo suportar, tudo perdoar, não invejar, não se orgulhar, ser paciente, alegrar-se com a verdade, não se alegrar com a injustiça. Que programa, Senhor. Revejo tudo isto no amor com que me amas, mas vejo-me tão pequeno para cumprir em mim este projeto.
compromisso
Vou começar por um dos aspetos mais difíceis para mim, o orgulho, a inveja, a impaciência… um deles apenas, para me exercitar no amor.
Evangelho Lc 7, 31-35
Naquele tempo, disse Jesus à multidão: «A quem hei de comparar os homens desta geração? Com quem se parecem? São como as crianças, que, sentadas na praça, falam umas com as outras, dizendo: ‘Tocámos flauta para vós e não dançastes, entoámos lamentações e não chorastes’. Porque veio João Batista, que não comia nem bebia vinho, e vós dizeis: ‘Tem o demónio com ele’. Veio o Filho do homem, que come e bebe, e vós dizeis: ‘É um glutão e um ébrio, amigo de publicanos e pecadores’. Mas a Sabedoria é justificada por todos os seus filhos».
compreender a palavra
O texto situa-se na continuação do diálogo entre Jesus e os discípulos de João que vieram perguntar-lhe se era ele o Messias. Jesus tece, então, umas quantas considerações que manifestam a atitude positiva do povo e particularmente dos cobradores de impostos que aceitaram as palavras de João e se deixaram batizar. Mas também condenam a atitude dos fariseus e doutores da Lei que se fecharam na sua maneira de pensar e recusaram a proposta de Deus. As palavras de Jesus enaltecem os simples que possuem a sabedoria de quem escuta e condenam a atitude dos sábios a quem falta a verdadeira sabedoria.
meditar a palavra
Como crianças nem sempre sabemos viver os momentos de alegria e os momentos de tristeza. Vamos fazendo as regras ao nosso jeito, de modo a podermos satisfazer a nossa vontade e não seguir a voz da verdade. Julgamos assim ser mais inteligentes que os simples que não usam de artimanhas e argumentos enganosos. Jesus diz que a verdadeira sabedoria não está em sair ileso na fuga à verdade, mas no acolher a verdade que vem de Deus.
rezar a palavra
“A quem hei de comparar…” sou comparado a uma criança inconsequente perante a verdade. Tenho dificuldade em assumir a verdade que, pela tua palavra, colocas diante dos meus olhos. Ensina-me, Senhor, a não fugir, mas a assumir a verdade da minha vida que tantas vezes é incapacidade de me aceitar e de te aceitar em toda a profundidade do meu ser.
compromisso
Quero discernir sobre a vontade de Deus para mim e assumir com coerência as suas propostas.