Mistagogia da Palavra

Completada a obra da reconciliação dos homens com Deus, Jesus começa uma vida nova, junto do Pai. A sua peregrinação pela Terra atingiu assim o seu termo – termo que não é derrota e esquecimento, mas triunfo e glória. A Ascensão, último mistério da vida de Jesus, é a sua exaltação suprema, iniciada já com a Ressurreição; é a sua glorificação plena pelo Pai, que O constitui “Senhor”, centro da história do mundo e do homem. A exaltação e a glorificação de Jesus representam as primícias e até a causa da nossa própria glorificação. Desde a Ascensão, o homem tem a certeza de que, tal qual é (corpo e alma), participará, um dia, desse modo de existência de Jesus. 
A 1ª leitura é do livro dos Actos dos Apóstolos. Depois da Ascensão, Jesus deixa de estar visivelmente presente num determinado lugar da Terra. No entanto, Ele permanece eternamente vivo, permanece sempre presente no meio de nós. Na Igreja, embora não O vejamos fisicamente, temos a possibilidade de viver de Cristo e com Cristo. Na Igreja, pelos seus Apóstolos, testemunhas da Ressurreição, anunciadores do perdão e da vida divina, portadores da força do Espírito, Jesus continua hoje a sua obra de Salvação.
A 2ª leitura é da Epístola de S. Paulo aos Efésios. Com a sua Ascensão Jesus foi plenamente glorificado pelo Pai, que O fez sentar à sua direita, Lhe deu todo o poder e O constituiu Chefe do novo Povo de Deus e Senhor de todo o universo. É d’Ele que jorra continuamente sobre o imenso Corpo, que é a Igreja, a vida nova, recebida no Baptismo, para desabrochar, em toda a sua força e beleza, no Céu.
A 3ª leitura, do Evangelho, é segundo S. Lucas. A subida de Jesus ao Céu, descrita de modo humano, é a posse definitiva e total da glória, que já Lhe pertencia pela Paixão e Ressurreição. Pelo perdão dos pecados, nós participamos da toda do Ressuscitado, tornamo-nos membros do seu Corpo místico, destinados à mesma glória. Reconfortados por esta certeza, fortificados pelo Espírito Santo, colaboremos para que a obra de Cristo atinja todos os homens.

A Palavra do Evangelho

Diante da Palavra
Espírito Santo, Paráclito do Pai, reveste-nos com a força do alto para podermos participar da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo Jesus.

Evangelho    Lc 24, 46-53
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Está escrito que o Messias havia de sofrer e de ressuscitar dos mortos ao terceiro dia e que havia de ser pregado em seu nome o arrependimento e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. Vós sois testemunhas disso. Eu vos enviarei Aquele que foi prometido por meu Pai. Por isso, permanecei na cidade, até que sejais revestidos com a força do alto». Depois Jesus levou os discípulos até junto de Betânia e, erguendo as mãos, abençoou-os. Enquanto os abençoava, afastou-Se deles e foi elevado ao Céu. Eles prostraram-se diante de Jesus, e depois voltaram para Jerusalém com grande alegria. E estavam continuamente no templo, bendizendo a Deus.


Caros amigos e amigas, o Evangelho deste Domingo convida-nos a seguir os passos de Jesus Cristo. Para O seguirmos necessitamos da força do alto que nos é dada pelo Paráclito de Deus Pai. 

Interpelações da Palavra

 “Está escrito que o Messias havia de…” 
São Lucas insiste, ao longo deste capítulo 24, numa necessidade divina que havia de ser cumprida por Cristo. Primeiro fala da Paixão de Cristo em ordem à sua Ressurreição (Lc 24, 7.26), e agora, acrescenta a essa necessidade divina mais duas: a Ressurreição e a pregação. A pregação é uma parte importante da identidade e missão de Jesus, está plenamente vinculada a todos os mistérios da sua vida. Por isso quando Lucas nos diz que tudo isto deve ser “pregado em seu nome” está a dizer que toda a pregação assenta na autoridade de Cristo, que pregou a conversão e o arrependimento.

 “… Jesus levou os seus discípulos até junto de Betânia”   
Esta imagem assemelha-se à imagem do Bom Pastor que vai à frente do seu rebanho, a abrir caminho. Jesus vai à nossa frente para preparar os caminhos pelos que havemos de caminhar. Os sofrimentos por causa da pregação do Reino de Deus são os sofrimentos pelos que já passou o Nosso Salvador e pelos quais havemos de passar. Cristo precedeu-nos ao abrir um caminho do reino da morte para o Reino de Deus, para a vida eterna.

 “foi elevado ao céu” 
… Jesus, que veio do Pai aquando da encarnação no seio da Virgem Maria, volta agora ao Pai, depois de ter ressuscitado dos mortos. A Ascensão do Senhor, além da exaltação de Jesus junto de Deus Pai, também significa a elevação da condição humana à condição divina. Porque Jesus assumiu a nossa natureza, ao subir aos céus abre a todos os que partilham a natureza humana o caminho da imortalidade, a possibilidade de participar da Sua condição divina. Quem participar pela fé no mistério da Sua vida e morte, participará com Jesus na Sua Ressurreição e na vida eterna.

Rezar a Palavra e contemplar o Mistério
Lá Vos tornais, Senhor, onde subistes 
Para lá nos subir donde descestes; 
Nascestes para nós, por nós morrestes, 
Morto por nos dar vida ressurgistes. 
A nossa humanidade que vestistes, 
Vestida para o Céu levar quisestes; 
E tudo quanto nela merecestes 
Connosco livremente repartistes. 
O nascer, o morrer, o ressurgir, 
O subirdes ao Céu por nos mostrar 
O caminho por onde havemos de ir… 
(L.H., vol. 2)                                                                                                                                                

Viver a Palavra
Nesta semana, pedirei, de forma especial, ao Pai que me assista no meu caminho de discípulo, de imitador de Cristo, com a força do Espírito Santo, para um dia poder segui-l’O até à Bem-aventurança Eterna.