1• Esta noite pascal está toda orientada liturgicamente para a Páscoa de Cristo e para os sacramentos da Iniciação cristã.

À luz do círio pascal, símbolo de Cristo morto e ressuscitado, escutámos a história da nossa salvação como luz de Deus para todos nós: para os catecúmenos, como última catequese antes de celebrarem os sacramentos da Iniciação cristã; e para nós, fiéis cristãos, que somos convidados nesta vigília a renovar os nossos compromissos baptismais, em ordem a podermos celebrar, do modo mais perfeito possível, o mistério da Páscoa.

Deus, por meio desta longa escuta da Palavra da Escritura, ajuda-nos a saborear esta história de amor que começou na criação e chegou ao mistério da Ressurreição de Jesus.

Na narração da criação Deus dizia-nos que nos ama desde o princípio, pois criou o mundo e criou-nos a nós para partilhar connosco o seu amor e a sua vida divina.

Na escuta da história de Isaac, a palavra ajudava-nos a contemplar a generosidade de Abraão que, por Deus, seria capaz de sacrificar o seu filho único, figura de Cristo imolado.

Ao ouvir a narrativa da travessia do Mar Vermelho, percebemos que é Deus quem intervém na libertação do seu povo e que esse Deus é o mesmo que, pelas águas do Baptismo, nos liberta da escravidão do pecado e nos salva, dando-nos a verdadeira vida, a vida da graça.

A imagem da esposa repudiada, de que nos falava o Profeta, diz-nos do repúdio que todos podemos fazer de Deus; e diz-nos também que, apesar de o podermos abandonar, Ele nunca nos abandona.

De novo um Profeta nos lembrava que Deus coloca à nossa disposição os meios para sermos fiéis à aliança, tomando parte no banquete divino para o qual Ele mesmo nos convida.

E é nessa aceitação que está a verdadeira sabedoria que se revela em Cristo, morto e ressuscitado, cuja cruz parece significar fraqueza e loucura. E é-o aos olhos do mundo, mas não o é aos olhos de Deus.

A história da salvação, correspondente ao tempo do Antigo Testamento, termina com uma profecia de Ezequiel, na qual o Profeta antevê, em nome de Deus, um tempo novo, no qual os corações de pedra serão substituídos por corações de carne. Quer isto dizer que Jesus Cristo ressuscitado nos renova por dentro e nos dá uma vida completamente nova, porque gerada no coração de cada um pela renovação baptismal, por ação de Cristo morto e ressuscitado.

2• Pelo Baptismo, somos feitos participantes do mistério pascal de Jesus, ou seja, tomamos parte na sua morte e ressurreição. Assim nos dizia São Paulo: «Fomos sepultados com Cristo pelo Baptismo, por uma morte semelhante à dele e ressuscitamos por uma vida nova semelhante à sua». Jesus, ao morrer por nós, destruiu o pecado; e ressuscitando, venceu a morte. Assim também nós, ao mergulharmos nas águas baptismais, somos como que sepultados, e enterramos, para sempre, a nossa vida de pecado; e ao sairmos das águas saímos novos, revestidos da vida nova de Cristo ressuscitado, que nos une de maneira única a Ele.

Nesta noite santa, ao celebrar a ressurreição de Cristo, a Igreja convida-nos a reavivar a nossa Fé nesse mistério, fazendo-nos reavivar também a vida nova que recebemos pelo Baptismo.

A fé em Cristo ressuscitado precisa de ser reavivada continuamente. O Evangelho que ouvimos há pouco, lembrava-nos como a Fé de Pedro, o primeiro dos Apóstolos de Jesus, também teve de alimentar-se e crescer. E foi quando se juntou aos irmãos, após a visita ao túmulo vazio, que adquiriu as certezas de que Jesus estava vivo.

(Caros catecúmenos, sereis batizados dentro de alguns instantes. Então, o Senhor ressuscitado vos encherá da sua vida divina; sereis feitos filhos de Deus e tereis parte na fé da Igreja que é a Fé em Cristo ressuscitado. Vivei-a e alimentai-a, participando na vida da comunidade cristã, escutando a palavra de Deus, celebrando os Sacramentos e esforçando-vos por viverdes na graça baptismal. Crescei na fé e no amor e Deus estará convosco).

Manuel Madureira Dias, Maravilhas de Deus – Homilias de um Bispo, Secretariado Nacional de Liturgia, Fátima 2017