Solenidade

Hoje celebramos uma festa global: é uma grande multidão, que ninguém pode contar, e que provém de todas as nações, tribos, povos e línguas (1ª leit). É o coro glorioso dos apóstolos, a falange venerável dos profetas, o exército resplandecente dos mártires (hino Te Deum). São também os nossos familiares, os amigos, os vizinhos, os que vivem unidos neste mundo pela fé, pela esperança e pela caridade. Aqueles que fazem da felicidade o objectivo da sua vida de todos os dias; os que procuram o sentido da vida nas pequenas coisas diárias; os que constroem o Reino de Deus em cada gesto e em cada palavra, em cada hora e em cada minuto. Os que são filhos de Deus e vivem na esperança de que Deus se manifestará e então seremos semelhantes a Ele (2ª leit).

  1. Todos chamados à santidade

– O Papa Francisco publicou em 19 de Março de 2018 uma Exortação Apostólica, Alegrai-vos e exultai, sobre o chamamento à santidade no mundo actual. Diz assim no nº 7: «Gosto de ver a santidade no povo paciente de Deus: nos pais que criam os seus filhos com tanto amor, nos homens e mulheres que trabalham a fim de trazer o pão para casa, nos doentes, nas consagradas idosas que continuam a sorrir. Nesta constância de continuar a caminhar dia após dia, vejo a santidade da Igreja militante. Esta é a santidade “ao pé da porta”, daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus, ou – por outras palavras – da “classe média da santidade”».
– Cada pessoa é única. A santidade também se manifesta de maneira diferente. A fé cristã na comunhão dos santos pressupõe esta variedade: há santos eruditos e outros pouco instruídos; uns viveram em comunidade, outros privilegiaram a sua vida autónoma; uns foram figuras públicas, outros viveram de maneira oculta; muitos são desconhecidos, outros mais conhecidos; muitos estão distantes no tempo, outros são dos nossos dias…
– Mas, no meio desta variedade toda houve características comuns: todos viveram intensamente o seu dia-a-dia, por vezes de uma forma discreta e oculta… Todos tiveram um grande amor a Deus e aos homens…
– Todos os que escutam a Palavra e se dispõem a ser discípulos de Jesus, podem ser santos…

  1. As Bem-Aventuranças, caminho de vida

– O Evangelho apresenta-nos o texto das Bem-Aventuranças: são situações de vida reais e não tanto uns ensinamentos de preceitos religiosos…
– Todos nós, em menor ou maior grau, já passámos por estas situações: quem não experimentou a pobreza, o choro e a aflição, a luta pela justiça, a necessidade da misericórdia, de promover a paz, de viver com Deus, a perseguição e a calúnia?…
– Quem não espera melhores dias? Viver em plenitude? Quem não sonha com um mundo de paz, de convivência entre todos, de harmonia? (o Sermão da Montanha prolonga-se por Mt 5-7, para lá das Bem-Aventuranças, e propõe esta vida nova de relação com todos…). Quem não quer fazer parte da multidão que se juntou no monte para ouvir e acompanhar Jesus?

  1. A vida em plenitude é o amor

– O caminho da vida em plenitude é o amor… Os que hoje são declarados felizes, Bem-Aventurados, não são sujeitos passivos… No Sermão da Montanha Jesus proclama uma coisa nova, que nunca havia sido dita e que ninguém disse melhor depois d’Ele: “Amai os vossos inimigos e rezai pelos que vos perseguem… Sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste”…
– Pode dizer-se que a felicidade consiste em viver a vida com acerto e em plenitude. Só que nós, fruto do ambiente cultural em que vivemos, nivelamos esta felicidade com os critérios terrenos do êxito, da eficácia, de sair bem da competitividade desenfreada… E o resultado é a insatisfação que nos impede de encontrar a felicidade nas coisas mais simples e profundas…
– O que Jesus propõe é o caminho de vida eterna: o amor, o dom, a gratuidade “do coração”, com os quais se pretende superar a frieza das relações baseadas nas vantagens egoístas… O caminho das Bem-Aventuranças é o da entrega e da generosidade nos gestos, tantas vezes anónimos, da vida de cada dia…
– Para Jesus, e assim deve ser sempre para nós, o mal nunca é vencido por uma resposta de ódio e violência, de destruição do inimigo, mas só pelo bem…
– Foi isto que fizeram todos os santos: foram construindo o bem, muitas vezes sobre os escombros do mal… Por isso, celebramos hoje o triunfo do bem sobre o mal, do amor sobre o ódio… Celebramos o mundo de Deus: de convivência universal na eternidade…