1ª Leitura: Isaías 1, 10.16-20

Escutai a palavra do Senhor, chefes de Sodoma; dai ouvidos à lei do nosso Deus, povo de Gomorra: «Lavai-vos, purificai-vos, afastai dos meus olhos a malícia das vossas ações, deixai de praticar o mal e aprendei a fazer o bem. Respeitai o direito, protegei o oprimido, fazei justiça ao órfão, defendei a causa da viúva. Vinde então para discutirmos as nossas razões, – diz o Senhor. Ainda que os vossos pecados sejam como o escarlate, ficarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como a púrpura, ficarão brancos como a lã. Se fordes dóceis e obedientes, comereis os bens da terra. Mas se recusardes e fordes rebeldes, sereis devorados pela espada». Assim falou a boca do Senhor.

Compreender a Palavra

O povo chegou a uma situação de vazio diante de Deus. Realizam sacrifícios e holocaustos, oferecem cordeiros e bois, realizam assembleias e reuniões mas têm as mãos manchadas do sangue dos pobres e dos oprimidos. De facto, Deus recusa-se a aceitar estes sacrifícios enquanto eles não significarem a justiça para com os pobres, as viúvas e os órfãos. O culto sem a justiça social não significa nada aos olhos de Deus. Muitos oprimiam os pobres, exploravam os fracos e vinham depois oferecer sacrifícios a Deus. A resposta de Deus, através do profeta, é um chamamento à conversão: “deixai de praticar o mal e aprendei a fazer o bem. Respeitai o direito, protegei o oprimido, fazei justiça ao órfão, defendei a causa da viúva. Vinde então para discutirmos as nossas razões”. O auxílio aos oprimidos abre as portas da misericórdia divina. Por isso, “Ainda que os vossos pecados sejam como o escarlate, ficarão brancos como a neve”.

Meditar a Palavra

Hoje como ontem, o coração de Deus bate ao ritmo do lamento dos pobres e oprimidos. Prestar culto a Deus há de significar aprender a misericórdia porque de nada servem os atos religiosos, os sacrifícios, penitências e renúncias, se não significarem a ação libertadora dos oprimidos. A oração é importante, a celebração litúrgica é até imprescindível mas têm que ser consequência do bem realizado em favor dos últimos, dos esquecidos e dos marginalizados. A fé tem uma responsabilidade social que não pode ser esquecida nem camuflada pelas práticas religiosas. Converter-se significa vencer a indiferença e abrir o coração aos irmãos.

Rezar a Palavra

“Lavai-vos”. Esta é a tua palavra para hoje, Senhor. O meu afastamento dos irmãos, as mãos fechadas para o pobre, o coração esquecido dos que sofrem, essa é a injustiça de que falas e que esvazia as minhas orações, as minhas celebrações, o culto que pratico. Lava-me, purifica-me, ensina-me a misericórdia para que meus pecados sejam lavados no bem que faço aos meus irmãos.

Compromisso

Hoje quero tocar a carne daquele que sentem na pele a injustiça dos homens para nele me encontrar com a misericórdia de Deus.


Evangelho: Mt 23, 1-12

Naquele tempo, Jesus falou à multidão e aos discípulos, dizendo: «Na cadeira de Moisés sentaram-se os escribas e os fariseus. Fazei e observai tudo quanto vos disserem, mas não imiteis as suas obras, porque eles dizem e não fazem. Atam fardos pesados e põem-nos aos ombros dos homens, mas eles nem com o dedo os querem mover. Tudo o que fazem é para serem vistos pelos homens: alargam as filactérias e ampliam as borlas; gostam do primeiro lugar nos banquetes e dos primeiros assentos nas sinagogas, das saudações nas praças públicas e que os tratem por ‘Mestres’. Vós, porém, não vos deixeis tratar por ‘Mestres’, porque um só é o vosso Mestre e vós sois todos irmãos. Na terra não chameis a ninguém vosso ‘Pai’, porque um só é o vosso pai, o Pai celeste. Nem vos deixeis tratar por ‘Doutores’, porque um só é o vosso doutor, o Messias. Aquele que for o maior entre vós será o vosso servo. Quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado».

Compreende a Palavra

Jesus recomenda à multidão e aos discípulos o cumprimento do que está prescrito na Lei de Moisés exigido, agora, pelos escribas e fariseus. Mas recomenda simultaneamente a verdade na ação. Que as palavras correspondam às ações e estas revelem perfeita adesão às palavras. Esta verdade é interior e profunda e não mera fachada ou aparência. Não se trata de um título que se traz ao peito mas de uma vida encarnada na humildade e no serviço de quem não espera outra recompensa.

Meditar a Palavra

Fixo-me facilmente no exterior, na aparência, nas vestes, na posição social, nos títulos que identificam as pessoas. Desejo muitas vezes esta importância que é dada aos homens. Dá gosto ser importante e receber o trato correspondente. A humildade não parece atrair, mas é o que Jesus me propõe hoje. Nada de títulos honoríficos, nada de vestes deslumbrantes, nada de lugares de relevo. Se quero ser o maior tenho que me tornar servo, se quero ser exaltado tenho que me humilhar. Preciso de aprender a alegria do serviço e da humilhação.

Rezar a Palavra

Como Tu, Senhor, quero aprender a ser filho na obediência mesmo que esta me leve a suportar o peso da cruz. Que eu não sobrecarregue os outros com os fardos da minha impertinência e da minha importância, mas que, aprendendo contigo, seja capaz de aliviar os irmãos carregando os seus fardos tantas vezes desumanos.

Compromisso

Vou estar atento para ajudar alguém que se sinta sobrecarregado pelo peso da vida.