Com os mesmos sentimentos

Tudo dado.
Na loucura do amor foi tudo dado. Sem nenhuma reticência, sem nenhuma condição, sem reservas nem indecisões. Tudo por amor. Tudo dado até ao fim, até à cruz.
Não poupou seu próprio filho.
Deu-se todo na unidade de quem ama, na liberdade de quem salva.

LEITURA I Ex 34, 4b-6.8-9

Naqueles dias, Moisés levantou-se muito cedo e subiu ao monte Sinai, como o Senhor lhe ordenara, levando nas mãos as tábuas de pedra. O Senhor desceu na nuvem, ficou junto de Moisés, que invocou o nome do Senhor. O Senhor passou diante de Moisés e proclamou: «O Senhor, o Senhor é um Deus clemente e compassivo, sem pressa para Se indignar e cheio de misericórdia e fidelidade». Moisés caiu de joelhos e prostrou-se em adoração. Depois disse: «Se encontrei, Senhor, aceitação a vossos olhos, digne-Se o Senhor caminhar no meio de nós. É certo que se trata de um povo de dura cerviz, mas Vós perdoareis os nossos pecados e iniquidades e fareis de nós a vossa herança».

Prostrado no cimo do monte Sinai, Moisés pede a Deus que caminhe no meio do seu povo, apesar de ser um povo difícil e de cabeça dura e Deus desce e revela-se como misericórdia e fidelidade e aceita o povo como herança.

Salmo responsorial Dn 3, 52.53.54.55.56 (R. 52b)
No livro de Daniel encontra-se o cântico dos três jovens que foram lançados na fornalha ardente por se recusarem a adorar a estátua mandada fazer pelo rei Nabucodonosor. No meio das chamas eles louvam o Senhor, dizendo que só ele é “digno de louvor e de glória para sempre”. É este cântico que hoje serve de salmo responsorial.

LEITURA II 2Cor 13, 11-13

Irmãos: Sede alegres, trabalhai pela vossa perfeição, animai-vos uns aos outros, tende os mesmos sentimentos, vivei em paz. E o Deus do amor e da paz estará convosco. Saudai-vos uns aos outros com o ósculo santo. Todos os santos vos saúdam. A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco.

Com uma bênção trinitária, Paulo despede-se dos cristãos de Corinto, apontando a alegria, a paz e a comunhão no amor de Deus, visíveis no beijo da paz, como qualidades da vida cristã.

EVANGELHO Jo 3, 16-18

Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: «Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito, para que todo o homem que acredita n’Ele não pereça, mas tenha a vida eterna.
Porque Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. Quem acredita n’Ele não é condenado, mas quem não acredita n’Ele já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho Unigénito de Deus».

Apesar de ser doutor em Israel, Nicodemos não entende o que Jesus lhe está a dizer. À sua pergunta: “como pode ser isso?”, Jesus avança a única resposta possível: “Porque Deus amou tanto o mundo…” e na loucura do amor, deu tudo, deu o bem mais precioso, o seu Filho.

Reflexão da Palavra

O texto de Êxodo descreve a renovação da Aliança do Sinai, quebrada com a construção do bezerro de ouro, que levou Moisés a descer do monte e a quebrar as tábuas da Lei, diante do povo transgressor. Nesta descrição há um cerimonial de encontro entre Deus e Moisés. Moisés sobe, Deus desce, Deus passa diante de Moisés e ele curva-se diante de Deus, Deus falou revelando o seu nome e Moisés prostra-se em adoração. Perante a revelação de Deus “o Senhor é um Deus clemente e compassivo, sem pressa para Se indignar e cheio de misericórdia e fidelidade”, Moisés suplica “se encontrei, Senhor, aceitação a vossos olhos, digne-Se o Senhor caminhar no meio de nós”.

O Cântico dos três jovens, que o rei mandou lançar na fornalha ardente, aparece como salmo desta celebração. Muito semelhante ao salmo 136, trata-se de um hino de louvor composto em forma de ladainha, na qual se fazem umas invocações e o povo responde com um refrão. Os versículos que compõem a estrutura sálmica, constituem a primeira parte do hino que se estrutura como uma doxologia. A segunda parte, que já não aparece no texto litúrgico, é um convite a todas as criaturas para que louvem o Senhor.

A segunda leitura é a conclusão da segunda carta aos coríntios. Está composta, esta conclusão, com algumas exortações, saudações e bênçãos. Como verdadeiros cristãos devem os coríntios viver alegres, em paz e unidos nos mesmos sentimentos. Desta forma Deus estará com eles, e aumentará neles estes bens porque é o Deus da paz e do amor. Paulo termina com a bênção trinitária de comunhão entre as três Pessoas da Trindade, afirmando de forma clara a fé em Deus uno e Trino.

No Evangelho, João, continua o diálogo entre Jesus e Nicodemos. Este diálogo tem uma introdução e duas partes que se abrem com uma pergunta de Nicodemos. Na primeira questiona Jesus sobre o “nascer de novo”: “como pode um homem nascer, sendo velho?” e na segunda questiona Jesus sobre o nascimento segundo o Espírito: “como pode ser isso?”.

O texto do evangelho deste domingo é o centro da resposta de Jesus a esta segunda pergunta de Nicodemos. Jesus fala de si mesmo na terceira pessoa. Ele é o Filho do homem, o Filho de Deus, a Luz do mundo. Na resposta, Jesus recorda o episódio da serpente levantada no deserto por Moisés, para dizer que é ele quem verdadeiramente salva, quando for levantado da terra, fazendo alusão à cruz. Depois, apresenta Deus como Abraão que oferece o seu filho, “Deus entregou o seu filho unigénito”. A dizer que o amor de Deus se concentra num único ato histórico, a entrega do seu bem mais precioso, o seu filho, que morre na cruz. No Filho o próprio Deus se entrega totalmente. Desta forma, revela que Deus está do lado do homem, quer salvá-lo, não quer que o mundo se perca, por isso envia o seu filho que vem por bem.

Acolher o Filho de Deus é uma luta comparada com a luta entre a luz e as trevas, porque a luz põe a claro as obras e as intenções dos homens que recusam a luz.

Meditação da Palavra

A Igreja celebra, hoje, o domingo da Santíssima Trindade. O mistério de Deus uno e trino, não é simples de explicar, mas a palavra proclamada nesta celebração ajuda a compreender quem é Deus em si mesmo. Conhecer a essência de Deus é mais importante do que explicar o seu mistério.

Paulo invoca a Santíssima Trindade na bênção final da segunda carta aos coríntios, dizendo: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco”. Esta invocação recebeu-a Paulo do evangelho de Jesus que lhe foi anunciado. Efetivamente, Jesus fala do Pai e do Espírito e de si mesmo como um só Deus.

A grandeza de Deus, porém, não está em ser um só em três Pessoas, mas em ser “um Deus clemente e compassivo, sem pressa para Se indignar e cheio de misericórdia e fidelidade”, como recorda a primeira leitura. Moisés, no cimo do monte Sinai tem uma experiência de Deus como alguém próximo, que pode caminhar no meio do seu povo. Reconhece que ele é Deus e, por isso, quando o Senhor desceu na nuvem, “caiu de joelhos e prostrou-se em adoração”. É um Deus capaz transformar um povo de “cabeça dura” na sua própria herança, renovando com ele a Aliança, porque é um Deus de amor.

Paulo fala de Deus como “o Deus do amor e da paz”, animando os coríntios a trabalharem com alegria na sua perfeição construindo relações de paz e tendo os mesmos sentimentos, pois assim, Deus “estará convosco”, afirma.

Jesus, de acordo com a narração do evangelista João, fala de Deus como aquele que entrega o seu filho por amor, para que todos os homens se salvem acreditando. E esta entrega implica chegar ao limite de ser levantado da terra, morrendo na cruz. Para Jesus, Deus, o Pai, não tem limites no amor, arriscando morrer para salvar de graça e sem condições o homem, porque “não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele”.

A grandeza de Deus, uno e trino, de acordo com a palavra escutada, não está no mistério que envolve a sua existência, mas no amor incondicional que constitui a sua essência. Clemente, compassivo, misericordioso e fiel são atributos que revelam proximidade e garantem a confiança necessária para aceitar o compromisso de caminhar juntos, num caminho que pode ser difícil por causa das nossas cabeças duras.

Os três jovens, companheiros de Daniel, compreendem o amor radical de Deus ao ponto de sentirem que vale a pena perder a vida para permanecerem fiéis. A sua segurança em Deus leva-os até à fornalha ardente, onde dão o testemunho da radical grandeza de Deus cantando que o Senhor “é digno de louvor e de glória para sempre”.

Hoje, nós, reunidos em comunidade, como Igreja de Jesus, também podemos fazer a experiência da proximidade de Deus. Podemos reconhecer a sua misericórdia e a generosidade manifestada na cruz de Jesus, onde Deus, nas três Pessoas divinas, arriscou morrer para sempre para nós termos a vida. É esta radical experiência do amor de Deus que vale mais que todas as explicações sobre Deus.

Rezar a Palavra

O caminho será longo se vou só. Se meus passos não escutam outros passos, perco o ritmo do andar. Se sobre mim não paira a nuvem do teu olhar e se ao subir não te encontro à minha espera, de nada servem os caminhos percorridos.
Caminha comigo e cairei a teus pés, rosto por terra em profunda adoração. Faz-te ver por entre as nuvens e deixa que a água das fontes pronuncie o teu nome e viverei. Deixa o rasto dos teus pés no pó da estrada e seguirei por ti.
Inspira-me com o alento do teu sopro e faz-me viver de ti, brisa da tarde, vento de tempestade, odor de primavera sempre jovem e não me cansarei de procurar o teu rosto.

Compromisso semanal

Invoco o Pai, o Filho e o Espírito Santo e adoro, reconhecendo que me ama incondicionalmente.