Leitura I    Jr 20, 10-13

Disse Jeremias: «Eu ouvia as invetivas da multidão: ‘Terror por toda a parte! Denunciai-o, vamos denunciá-lo!’ Todos os meus amigos esperavam que eu desse um passo em falso: ‘Talvez ele se deixe enganar e assim o poderemos dominar e nos vingaremos dele’. Mas o Senhor está comigo como herói poderoso e os meus perseguidores cairão vencidos. Ficarão cheios de vergonha pelo seu fracasso, ignomínia eterna que não será esquecida. Senhor do Universo, que sondais o justo e perscrutais os rins e o coração, possa eu ver o castigo que dareis a essa gente, pois a Vós confiei a minha causa. Cantai ao Senhor, louvai o Senhor, que salvou a vida do pobre das mãos dos perversos».

compreender a palavra
Jeremias falou desassombradamente em nome do Senhor. Ele parecia inabalável, a sua vida estava segura em Deus, mas agora vê-se rodeado de inimigos que o atacam e esperam que dê um passo em falso. Será Jeremias capaz de se aguentar, ele que parecia mais forte que todos, porque confiava na palavra do Senhor que lhe disse: “Far-te-ão guerra, mas não hão de vencer porque eu estou contigo para te salvar” (Jr 1,19)? Os inimigos esperam vê-lo derrotado: “Talvez ele se deixe enganar e assim o poderemos dominar e nos vingaremos dele”. A confiança de Jeremias, porém, supera a força dos adversários “o Senhor está comigo”, “cairão vencidos”, “ficarão cheios de vergonha pelo seu fracasso”. Jeremias pôs toda a sua confiança no Senhor do universo que conhece os corações “a vós confiei a minha causa”.

meditar a palavra
Percebemos, na experiência de Jeremias a situação de todo o homem que, no meio do sofrimento, tem a coragem de se colocar humildemente nas mãos de Deus, esperando, dele, o seu auxílio. Vemos também aqui a situação de Jesus que, à medida que avança na subida a Jerusalém, percebe que os inimigos apenas esperam uma oportunidade para o humilhar, mostrando, pela força, a sua superioridade. A vitória, porém não está na força mas na confiança. Jesus confia no pai até ao fim, e, é essa confiança a força que vence os inimigos.

rezar a palavra
A ti, Senhor, confio a minha causa. Nas tuas mãos coloco a minha vida. Tu sabes o quanto a minha vida corre perigo, no meio das inquietações e sofrimentos do dia a dia. Só tu Senhor, me podes salvar. Tu conheces o íntimo do meu ser, sabes quando me sento e quando me levanto, conheces todos os meus passos. Vem em meu auxílio, Senhor. 

compromisso
Hoje, rezo a oração dos pobres e perseguidos e confio a sua causa ao Senhor.


Evangelho    Jo 10, 31-42

Naquele tempo, os judeus agarraram em pedras para apedrejarem Jesus. Então Jesus disse-lhes: «Apresentei-vos muitas boas obras, da parte de meu Pai. Por qual dessas obras Me quereis apedrejar?» Responderam os judeus: «Não é por qualquer boa obra que Te queremos apedrejar: é por blasfémia, porque Tu, sendo homem, Te fazes Deus». Disse-lhes Jesus: «Não está escrito na vossa Lei: ‘Eu disse: vós sois deuses’? Se a Lei chama ‘deuses’ a quem a palavra de Deus se dirigia – e a Escritura não pode abolir-se –, de Mim, que o Pai consagrou e enviou ao mundo, vós dizeis: ‘Estás a blasfemar’, por Eu ter dito: ‘Sou Filho de Deus’!» Se não faço as obras de meu Pai, não acrediteis. Mas se as faço, embora não acrediteis em Mim, acreditai nas minhas obras, para reconhecerdes e saberdes que o Pai está em Mim e Eu estou no Pai». De novo procuraram prendê-l’O, mas Ele escapou-Se das suas mãos. Jesus retirou-Se novamente para além do Jordão, para o local onde anteriormente João tinha estado a batizar e lá permaneceu. Muitos foram ter com Ele e diziam: «É certo que João não fez nenhum milagre, mas tudo o que disse deste homem era verdade». E muitos ali acreditaram em Jesus.

compreender a palavra
O texto começa por nos apresentar Jesus no meio dos Judeus que o querem apedrejar. Acusam-no de blasfémia. Trata-se de uma grave acusação que tem como pena a morte. Jesus faz-se igual a Deus. Os Judeus não entendem. Jesus procura abrir-lhes os olhos com a Escritura, mesmo assim não consegue convencê-los. Apresenta-lhes as obras que realiza, mas eles não querem reconhecer. Tem que escapar das suas mãos. É reconhecendo que em Jesus se realizam as palavras de João que muitos acreditaram nele.

meditar a palavra
Jesus fez-se homem para me mostrar que há um caminho pelo qual eu posso chegar a ser “Deus”. Pelo batismo iniciou-se a minha divinização. Ali fui tornado filho de Deus, no Filho que é Jesus. Como Ele, também eu sou chamado a realizar no mundo as obras de Deus. Também eu, como filho de Deus, sou chamado a manifestar a presença de Deus em todas as minhas obras. Sinto que sou convidado hoje a ir à “terra onde João tinha estado a batizar”. Quer dizer, tenho que ir ali onde começou em mim o Batismo. Buscar as raízes da minha divinização, o início da minha filiação divina, à palavra que me gerou para uma nova existência em Cristo. Com os olhos no batismo saberei escapar às mãos de quem me empurra para longe de Deus. Com os olhos no batismo acreditarei cada dia mais em Jesus.

rezar a palavra
Quero fugir, Senhor, àqueles que se reduzem à pequenez da condição de Adão. Quero escutar a tua voz que me diz “vós sois deuses”. Quero reconhecer o dom maravilhoso do Batismo em que me mergulhaste e do qual me fizeste ressurgir homem novo, renascido pela água e pelo Espírito para ser o que tu és, filho de Deus. Quero ser, cada dia mais, obra das tuas mãos para que exista entre nós uma unidade total.

compromisso
Hoje reconheço-me filho de Deus pelo Batismo que atua em mim.