Leitura I    1Rs 21, 1-6

Naquele tempo, Nabot de Jezrael possuía uma vinha ao lado do palácio de Acab, rei da Samaria. Acab falou a Nabot, dizendo: «Cede-me a tua vinha, para eu fazer dela uma horta, porque está junto da minha casa. Dar-te-ei em troca uma vinha melhor, ou, se preferes, pagarei o seu valor em dinheiro». Nabot respondeu a Acab: «O Senhor me livre de te ceder a herança de meus pais». Acab voltou para casa triste e irritado, por Nabot de Jezrael lhe ter respondido: «Não te cederei a herança de meus pais». Deitou-se na cama com o rosto voltado para a parede e não quis comer nada. Jezabel, sua mulher, foi ter com ele e perguntou-lhe: «Porque estás tão perturbado que nem queres comer?». Ele respondeu: «Falei com Nabot de Jezrael e disse-lhe: ‘Cede-me a tua vinha pelo seu valor em dinheiro, ou então, se preferes, dar-te-ei outra em seu lugar’. Mas ele respondeu-me: ‘Não te cederei a minha vinha’». Jezabel, sua mulher, disse-lhe: «Não és tu o rei de Israel? Levanta-te, come e anima-te, que eu te darei a vinha de Nabot de Jezrael». Jezabel escreveu uma carta em nome de Acab, selou-a com o selo real e enviou-a aos anciãos e aos nobres da cidade que habitavam com Nabot. Eis o que ela escreveu na carta: «Proclamai um jejum e fazei comparecer Nabot diante do povo. Colocai em frente dele dois homens sem escrúpulos, que o acusem desta maneira: ‘Tu amaldiçoaste Deus e o rei’. Depois levai-o para fora da cidade e apedrejai-o até morrer». Os homens da cidade de Nabot, os anciãos e os seus concidadãos mais nobres, fizeram o que Jezabel lhes tinha mandado dizer na carta. Proclamaram um jejum e fizeram comparecer Nabot diante do povo. Os dois homens sem escrúpulos vieram colocar-se em frente de Nabot e acusaram-no diante do povo, dizendo: «Nabot amaldiçoou Deus e o rei». Levaram-no então para fora da cidade, apedrejaram-no e ele morreu. Depois mandaram dizer a Jezabel: «Nabot foi apedrejado e morreu». Ao saber que Nabot tinha sido apedrejado e morto, Jezabel foi dizer a Acab: «Levanta-te e vai tomar posse da vinha que Nabot de Jezrael não te quis ceder por dinheiro. Ele já não está vivo; morreu». Quando ouviu dizer que Nabot tinha morrido, Acab levantou-se e desceu à vinha de Nabot de Jezrael para tomar posse dela.

compreender a palavra
O livro dos reis descreve a morte de Nabot, acusado injustamente pela rainha com testemunhas falsas, com o único intuito de poder ficar com a sua vinha como era desejo do rei Acab. Nabot não queria vender e resistiu a todas as propostas do rei, mas não conseguiu escapar à maldade da rainha. A cobiça do rei não o deixava comer nem dormir enquanto não tivesse a vinha que tanto desejava. A rainha, insidiosa, cínica e astuta não pretende seguir pelos passos da diplomacia nem da justiça para alcançar o que deseja e entrega ao rei a vinha de Nabot manchada de sangue. 

meditar a palavra
O honesto Nabot pagou com a vida para satisfazer a cobiça do rei e o cinismo da rainha. A corrupção e o abuso de poder era a forma de resolver as situações que os poderosos, como Acab, tinham dificuldade em resolver a seu favor. A morte, o roubo e a corrupção era a justiça dos poderosos sobre os pobres. Esta atitude, aprovada pelos homens era condenada por Deus que não cessava de enviar profetas, como fez a Acab. Estas situações parecem-nos inacreditáveis, mas continuam a ser habituais entre os políticos, os ricos e os poderosos. Ainda continua a haver Nabotes assassinados por causa de uma vinha e reis como Acab sem escrúpulos ajudados por rainhas implacáveis que não olham a meios para alcançar os fins desejados. Todos, mesmo sem grande poder trazemos dentro de nós a possibilidade de praticar a corrupção, o assassínio e a injustiça quando estão em jogo os nossos interesses.

rezar a palavra
Senhor, quantas vezes terei consentido a possibilidade de resolver os meus problemas com artimanhas, corrupção, compadrios, injustiças e manobras nas quais outros terão ficado lesados na sua dignidade, nos seus bens ou nos seus direitos? Se não cometi nenhum crime, terá alguma vez passado pela minha mente essa possibilidade. Não permitas, Senhor, que me deixe cair na corrupção espiritual que altera os padrões da minha visão objetiva das coisas e das pessoas.

compromisso
Vigio sobre o meu coração para não desejar o que não me pertence nem entrar em esquemas de justiça duvidosa.


Evangelho    Mt 5, 38-42

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Olho por olho e dente por dente’. Eu, porém, digo-vos: Não resistais ao homem mau. Mas se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a esquerda. Se alguém quiser levar-te ao tribunal, para ficar com a tua túnica, deixa-lhe também o manto. Se alguém te obrigar a acompanhá-lo durante uma milha, acompanha-o durante duas. Dá a quem te pedir e não voltes as costas a quem te pede emprestado».

compreender a palavra
Por detrás deste ensinamento de Jesus está a lei de Talião que dizia, “olho por olho e dente por dente”. A justiça na vingança para com aqueles que atentavam contra a vida e contra a propriedade. Não exagerar na vingança para não provocar uma injustiça maior. Jesus pede àqueles que o seguem que procurem ir mais longe na justiça e aprendam a amar os inimigos. Aquele que ama tem uma liberdade que o coloca numa posição diferente face ao modo habitual de agir. Aquele que ama não mastiga ofensas, mesmo corporais, perdoa e avança como o servo sofredor. Aquele que ama é livre diante dos bens porque reconhece o seu destino universal. Aquele que ama liberta-se da opressão servindo com amor. Aquele que ama experimenta a liberdade no dar. 

meditar a palavra
Crescemos com uma mentalidade que sobrevaloriza a honra pessoal quando diz que “quem não se sente não é filho de boa gente” e que tem na vingança a melhor das justiças. Este sentimento faz-nos pensar que nada está suficientemente resolvido enquanto não pagarmos o mal com o mal. Ninguém se sente compensado enquanto aquele que atenta contra nós não tiver experimentado a mesma sorte. Jesus propõe um caminho de satisfação interior, um sentido de honra, uma justiça que supera a dos fariseus. O amor dá-nos um sentido novo à vida e produz uma alegria que nenhuma justiça pode dar. O amor supera a justiça e no amor ninguém se sente defraudado. 

rezar a palavra
Senhor, tu experimentaste a injustiça e sofreste as consequências da maldade gratuita e sem sentido. Tu soubeste viver o amor ao inimigo até ao limite de dar a vida por aqueles que se queriam ver livres de ti. Não é fácil vencer este ímpeto interior de vingança e esta necessidade de pagar o mal com o mal. Sei que o amor é maior que o mal e nenhum pecado vence aquele que ama. Ensina-me o amor sem limites e o perdão sem reservas para poder viver a alegria da ressurreição. 

compromisso
Dar a outra face será sempre a primeira resposta às ofensas do dia de hoje.