“Recorda-te de todo o caminho que o Senhor te fez percorrer…” (1ª leit). Desde aquele dia em que Jesus celebrou a última ceia com os seus discípulos, Ele ficou sempre connosco no nosso caminho. A sua presença está na sua Palavra e na comunidade que se reúne, no mais profundo das nossas vidas, mas também e, sobretudo, no pão e no vinho da Eucaristia. É um facto extraordinário que se tornou comum na nossa vida quotidiana.
Durante os tempos de confinamento sentimos muito a falta do encontro com os outros e de celebrar a fé. E, com isso, todos sentimos a falta de comungar, de receber o corpo e o sangue de Cristo, verdadeira comida e verdadeira bebida, vida para o mundo, comunhão com Cristo, alimento de vida eterna e garantia de ressurreição.
A festa de hoje é para lembrar e tornar presente todo o nosso caminho de fé: é a festa da partilha do pão e do vinho em todas as dimensões, tanto na liturgia como na caridade. Sem este alimento também deixamos de ser sinal, pela partilha, do grande mandamento deixado por Jesus quando celebrou aquela Páscoa com os seus amigos antes de ser entregue e sofrer a morte por todos nós: “que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei”.
1. Celebrar a Eucaristia
– “Tendo amado os seus que estavam no mundo, Jesus amou-os até ao fim” (Jo 13,1)… Este ponto alto é o da entrega de Jesus na morte, o derramamento do seu sangue por amor de todos…
– Nós até podemos saber e recordar este grande amor de Jesus pelos seus mas, esta memória não é somente um exercício da nossa inteligência que vai gravando as coisas importantes da nossa vida e as vai actualizando em determinadas ocasiões…
– Quando a Igreja “faz memória”, torna sempre presente, actualiza, faz hoje, na celebração, o que Jesus fez uma única vez e para sempre… Nós precisamos de reviver isto para não esquecer e para actualizar a força salvadora que Jesus deu aos principais gestos da sua vida: “Ele tomou o pão… O cálice com vinho, e deu graças… E disse que esta era a nova aliança”… E ainda disse mais: “fazei isto em memória de mim”…
– Tomou o pão para o dar a comer e o sangue para o dar a beber… Não é para ficarem ali, sobre o altar, mas para serem comida e bebida dos que acreditam na salvação levada a cabo por Jesus…
2. A Eucaristia constrói a unidade
– A Eucaristia é o sacramento da unidade: “a unidade dos fiéis que constituem um só corpo em Cristo, está representada e realiza-se pelo sacramento do pão eucarístico” (LG 3)… “Uma vez que há um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, porque todos participamos desse único pão” (2ª leit).
– Comemos todos do mesmo pão… Cristo é um só que se dá a todos por igual… Todos os baptizados, espalhados pelo mundo inteiro, têm um mesmo sentir e um mesmo pensar e exprimem isso na celebração da Eucaristia…
3. Comunhão com todos
– Se há um pão que se reparte por todos na assembleia eucarística, como não o repartir com os mais pobres e necessitados?… Infelizmente, deixámo-nos levar pela ideia de que as sociedades já estavam organizadas para garantir um sustento digno para todos e perdemos a dimensão social da Eucaristia e da nossa vida cristã… Estes tempos de pandemia também estão a desmontar essa ilusão…
– Se Cristo é pão para todos, devemos ser nós também pão para os outros… Ninguém pode sentir-se confortável a receber o pão do Senhor se não reconhece o seu irmão ao lado…
– A contemplação da Eucaristia tem que ter como consequência o amor ao próximo: todos constituímos um só corpo em Cristo…