Mistagogia da Palavra

Hoje toda a Igreja está em festa. É a solenidade do Corpo e Sangue de Cristo. É oportuno rever as nossas celebrações eucarísticas. Porque celebramos? O que celebramos? Como o fazemos? Qual a nossa participação? O que implica a nossa presença e comunhões para a nossa vida familiar, laboral e cívica? A Missa dominical é o centro fundamental da construção e vitalidade da comunidade de fé que constituímos na Igreja universal. A Missa é o sacrifício da nova aliança no sangue de Cristo. É também o sacrifício dos fiéis, unidos a Jesus pelo culto a Deus. Não vamos à Missa por mera obrigação, mas porque a celebração da Eucaristia é uma necessidade de vida e de comunhão com Deus e com os irmãos; é a nossa força e alegria de cristãos; é um compromisso de fé e de amor que dá sentido a toda a nossa existência.

A Palavra do Evangelho

Diante da Palavra
Espírito Santo, desperta em nós o desejo de nos saciarmos em Cristo – “Pão Vivo, que desceu do Céu” (Jo 6, 51).
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Evangelho    Lc 9, 11b-17
Naquele tempo, estava Jesus a falar à multidão sobre o reino de Deus e a curar aqueles que necessitavam. O dia começava a declinar. Então os Doze aproximaram-se e disseram-Lhe: «Manda embora a multidão para ir procurar pousada e alimento às aldeias e casais mais próximos, pois aqui estamos num local deserto». Disse-lhes Jesus: «Dai-lhes vós de comer». Mas eles responderam: «Não temos senão cinco pães e dois peixes… Só se formos nós mesmos comprar comida para todo este povo». Eram de facto uns cinco mil homens. Disse Jesus aos discípulos: «Mandai-os sentar por grupos de cinquenta». Assim fizeram e todos se sentaram. Então Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao Céu e pronunciou sobre eles a bênção. Depois partiu-os e deu-os aos discípulos, para eles os distribuírem pela multidão. Todos comeram e ficaram saciados; e ainda recolheram doze cestos dos pedaços que sobraram.


Irmãs e irmãos em Cristo, somos convidados a escutar Jesus que nos fala, a “sentarmo-nos em grupo” para acolher o alimento que é Ele próprio e a bendizer, agradecendo os dons recebidos.

Interpelações da Palavra

“Estava Jesus a falar à multidão sobre o reino de Deus e a curar aqueles que necessitavam” (v. 11).
Procuramos incluir-nos entre os doze que regressam da missão (Lc 9, 10) ou a multidão a quem Jesus fala sobre o reino de Deus. Podemos recordar três palavras de Jesus que se encontram escritas nos evangelhos e que mais nos têm ajudado a viver no dinamismo do reino.
Ousamos falar do Reino de Deus quando comunicamos com as pessoas de quem nos aproximamos?

“Disse Jesus (aos Doze): «Dai-lhes vós de comer». Mas eles responderam: «Não temos senão…” (v. 13)
«Dai-lhes vós de comer» – estas palavras de Jesus são como um eco que desperta a nossa consciência e nos desafia ao serviço (à diakonia). Como em tantos episódios do nosso existir, apressamo-nos a apresentar argumentos para a nossa inação/incapacidade de atuação e a adiar a solução do problema.
Porquê adiar a nossa ajuda aos que se encontram em estado de anemia espiritual?

“Disse Jesus: «Mandai-os sentar». E eles assim fizeram… Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao Céu e pronunciou sobre eles a bênção. Depois partiu-os e deu-os… para que os distribuírem…Todos comeram e ficaram saciados” (vv. 14-15).
A ação de Jesus é ordenada, obedece a um método. Jesus pede aos doze para lhe levarem os pães e os peixes que possuíam (cf. Mt 14, 18), dá ordens para que a multidão se sente de forma organizada, em grupos. Isto pode conduzir-nos a uma autoanálise sobre a nossa ação pastoral. Procuramos que seja concertada e conformada com a vontade de Deus, descoberta através da meditação regular?
O olhar de Jesus para o Céu evoca várias passagens bíblicas, entre elas a aliança de Deus com Abraão (Génesis 15, 5-7). A contemplação da esfera celeste ajuda o crente na compreensão do infinito de Deus e gera nele uma atitude de louvor e confiança.
Após a bênção sobre os pães e os peixes, Jesus contou com a colaboração dos discípulos para a partilha pela multidão, a qual fica saciada, e ainda há sobras. A escassez de alimento é substituída pela abundância.
Cada detalhe desta passagem ajuda-nos a compreender cada parte da Eucaristia que temos a graça de celebrar com regularidade. Não esqueçamos de rezar por quem não pode participar na Eucaristia ou desconhece o seu valor.

Rezar a Palavra e contemplar o Mistério
“Bendigo-te ó Pai, Senhor do Céu e da terra” (Mt 11, 25), porque em teu Filho,
Nosso Senhor Jesus Cristo, nos falas, nos curas e nos sacias.
O Teu Espírito de Amor nos ajude a sermos dóceis às tuas orientações 
e nos impulsione a partilhar o que recebemos.
Bendigo-te ó Pai, pelos sacerdotes da Igreja que em cada Eucaristia 
repetem as palavras de Jesus «Tomai e comei… tomai e bebei…» (cf. Mt 26, 26-29), atualizando a entrega sacrifical de Jesus para salvação de todos.

Viver a Palavra
Nesta solenidade e nos próximos dias, intensificarei a adoração a Jesus e a reparação no irmão que sofre.