Mistagogia da Palavra
Este dia 1 de Janeiro é o primeiro do ano civil, do século e do milénio. A Liturgia dedica este dia a Maria, celebrando a sua prerrogativa única e o seu título essencial de Mãe de Deus. A Igreja quer com esta solenidade, não apenas colocar o novo ano, com as suas interrogações, cuidados e problemas, sob a protecção maternal de Maria, mas também lembrar-nos a importância da missão que Ela desempenha na História da Salvação. Através de Maria os homens serão encaminhados com os pastores para o conhecimento, serviço e amor de Deus.
Este dia é também o Dia Mundial da Paz. Cristo foi anunciado pelos Profetas como o “Príncipe da Paz”. No seu nascimento, os Anjos transmitiram aos homens uma mensagem de paz. No entanto, a paz não reina no mundo. por isso, a Igreja, preocupada com as divisões, ódios e guerras entre os homens, quer lembrar-lhes que todos somos irmãos.
A 1ª leitura, do Livro dos Números, é a bênção dada ao povo que se havia reunido para o sacrifício da manhã. Esta bênção sacerdotal é um augúrio de paz para os filhos de Israel.
Na 2ª leitura, S. Paulo aos Gálatas, diz que Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher. Maria assume assim um papel insubstituível nesta revelação de paternidade divina. é a Mãe de Deus, que concebe seu Filho por obra e graça do Espírito Santo. É a Mãe da Igreja, Corpo de Cristo na terra.
A 3ª leitura, de S. Lucas, é a ida dos pastores ao Presépio, onde encontraram Maria, José e o Menino. De todos aqueles que virão a serem adoptados em Cristo como filhos de Deus, os pastores serão os primeiros a receberem a boa Notícia da Salvação. É, porém, junto de Maria que encontram o Salvador e n’Ele se encontram com Deus.
A Palavra do Evangelho
Evangelho Lc 2, 16-21
Naquele tempo, os pastores dirigiram-se apressadamente para Belém e encontraram Maria, José e o Menino deitado na manjedoura. Quando O viram, começaram a contar o que lhes tinham anunciado sobre aquele Menino. E todos os que ouviam admiravam-se do que os pastores diziam. Maria conservava todos estes acontecimentos, meditando-os em seu coração. Os pastores regressaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes tinha sido anunciado. Quando se completaram os oito dias para o Menino ser circuncidado, deram-Lhe o nome de Jesus, indicado pelo Anjo, antes de ter sido concebido no seio materno.
Caros amigos e amigas, no início de cada ano civil, formulamos mutuamente votos de “feliz ano novo”, mas talvez continuemos a lançar mão de critérios velhos, para uma vida sem novidade. Maria pode ajudar-nos a encontrar o caminho: é n’Ela que se concretiza uma nova era para o mundo… através da simplicidade da sua obediência.
Encontraram Maria, José e o Menino
Ao anúncio segue-se a procura. Na pressa dos pastores, que reflecte a esperança viva de quem acredita, pressa que Maria já tinha experimentado quando procura a sua prima Isabel, está a sede do encontro e este acontece. Os pastores encontraram o que procuravam, talvez mais do que esperavam: Maria, José e o Menino, envoltos em simplicidade e ternura. Da contemplação do mistério emerge a necessidade da partilha. A admiração é a resposta ao mistério porque não há palavras que contenham tal luz, e a notícia faz-se vida, constrói história, porque Ele se aproxima, habita em nós.
Maria conservava todas estas coisas
Maria contempla o invisível com os olhos do coração. É assim que ela reage ao mistério que a penetra, ser mãe do Menino-Deus. Só um coração simples e disponível pode abarcar tal grandeza, de um Deus que Se faz carne e constrói a sua tenda no meio de nós. Maria é essa tenda, que acolhe e conserva… As coisas de Deus são ponderadas no coração de Maria, reflctidas, pensadas, questionadas. O ser de Maria não fica indiferente à presença de tão misterioso hóspede. É nesse coração de mãe que as “coisas de Deus” se conservam, se ponderam… temos que aprender com Maria a conservar, a ponderar, a dialogar com o mistério que nos abraça e quer nascer de nós para o mundo. Urge sermos conservadores da graça, não como possuidores passivos da mesma, mas como geradores de amor para o mundo sedento de afecto.
«O que torna a figura de Maria tão próxima de cada um de nós é a sua surpreendente docilidade àquilo que ainda não sabe ou não compreende mas vai “ponderando-as no seu coração”. Esta é uma mulher que se admira com as palavras grandiosas, que não percebe o que Jesus diz, que tem a coragem de pedir o que mais ninguém se lembra, que pratica o protagonismo do silêncio e da fé, que avança sem ver, que permanece na dor com a mesma entrega realizada na consolação e na luz. Não é uma super-mãe. É uma mulher cheia do Espírito.»
Maria, mãe
Deus precisou de uma mãe… de um seio que O acolhesse, de uns peitos que O amamentassem, de uns braços que O envolvessem, de umas mãos que O acariciassem. Deus precisou de uma mãe… de uns olhos que O procurassem, de um coração que O esperasse, de uns pés que O seguissem…até à cruz. Deus precisou de uma mãe… de uma mãe que precisasse também d’Ele… E como Deus só sabe amar…partilha também connosco aquela que O acolhe.
Eis a tua mãe… todos precisamos de um seio materno que nos acolha na gestação da história que está para além do tempo e do espaço. É em Maria que encontramos o abraço materno de Deus. E isso é Evangelho!
Viver a palavra
Como Maria, quero cultivar um coração que escuta e uma fidelidade que obedece.
Rezar a palavra
Maria, Mãe! A tua maternidade é o lugar do encontro de Deus com a (minha) humanidade, deixa-me entrar no teu segredo e olhar-te desde um coração de criança.
Quero indagar, na eloquência do teu silêncio, a inteira disponibilidade para a escuta.
O teu interior, fecundado pelo Espírito, ensina-me a aptidão para a germinação da Palavra.
A tua humildade canta para mim a suave alegria de crer,
estimula-me a ousadia da esperança, mostra-me a origem e a força da caridade.
Maria, o teu olhar atento e vigilante, saciado de sinais, está cheio de Deus!
Tu a feliz, volve o teu olhar para o nosso mundo e irradia nele o odor da bem-aventurança.
Tu que és a pedagoga de Jesus, o Deus feito homem, ensina-me a tua fidelidade de discípula.
Tu que, com José, dás o nome a Jesus, mostra-O ao nosso mundo como o doce nome da Paz.