Mistagogia da Palavra

Foi no quadro comum de uma família humana que se realizou o mistério da Encarnação, pelo qual Deus feito homem habita entre os homens. A comunidade familiar, nascida da instituição divina que é o Matrimónio, mantém todo o seu valor, apesar das transformações a que está sujeita. Nesta Família tão santa, quer pelas pessoas que a integram, quer pela sua singular missão, quer ainda pelo seu género de vida, têm todas as famílias cristãs um modelo perfeito de amor, de união e de paz. A vida familiar, iluminada e protegida pela Sagrada Família, continuará a modelar os homens à imagem de Cristo e encaminhá-los para a família do Céu.

A 1ª leitura é do Livro de Ben-Sirá. O amor para com os pais tem de continuar a ser um dos alicerces da família. Este, amor, feito de dedicação, serviço e auxílio é uma atitude que engrandece o homem. É também a resposta ao amor de Deus. que se prolonga e manifesta através do amor dos pais.

A 2ª leitura é de S. Paulo aos Colossenses. No mistério do Povo de Deus, a família é uma célula do Corpo Místico de Cristo. Por isso, a unidade e a harmonia que caracterizam a Igreja, a grande família dos filhos de Deus, deve existir também na “Igreja doméstica”, que é a família. Vivendo este amor, a família vencerá, na paciência e no perdão, os conflitos que naturalmente surgem; estenderá sobre si própria a paz de Cristo; promoverá a mútua compreensão e a autêntica sabedoria cristã e continuará, através dos seus membros, a vida de louvor e acção de graças ao Pai, iniciada por Cristo.

O Evangelho, segundo S. Lucas, narra-nos a ida da Sagrada Família ao Templo de Jerusalém para a apresentação de Jesus. A Sagrada Família, cumprindo a lei, está plenamente inserida na ordem social. O resto do trecho é um desenvolvimento pascal, e a Mãe aparece estreitamente unida, na dor, ao destino do Filho. Jesus é aqui descrito como o Messias do Senhor, isto é, como o ungido por excelência, destinado a uma obra de salvação, que cumprirá realizando em Si a figura descrita por Isaías do Servo sofredor. Sendo “luz”, obriga os homens a decidirem-se: vem, pois, para dividir.

A Palavra do Evangelho

​​​​​​​Evangelho    Jo 1, 1-18
Ao chegarem os dias da purificação, segundo a Lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, para O apresentarem ao Senhor, como está escrito na Lei do Senhor: «Todo o filho primogénito varão será consagrado ao Senhor», e para oferecerem em sacrifício um par de rolas ou duas pombinhas, como se diz na Lei do Senhor. Vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão, homem justo e piedoso, que esperava a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava nele. O Espírito Santo revelara-lhe que não morreria antes de ver o Messias do Senhor; e veio ao templo, movido pelo Espírito. Quando os pais de Jesus trouxeram o Menino, para cumprirem as prescrições da Lei no que lhes dizia respeito, Simeão recebeu-O em seus braços e bendisse a Deus, exclamando: «Agora, Senhor, segundo a vossa palavra, deixareis ir em paz o vosso servo, porque os meus olhos viram a vossa salvação, que pusestes ao alcance de todos os povos: luz para se revelar às nações e glória de Israel, vosso povo». O pai e a mãe do Menino Jesus estavam admirados com o que d’Ele se dizia. Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua Mãe: «Este Menino foi estabelecido para que muitos caiam ou se levantem em Israel e para ser sinal de contradição; – e uma espada trespassará a tua alma – assim se revelarão os pensamentos de todos os corações». Havia também uma profetisa, Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Era de idade muito avançada e tinha vivido casada sete anos após o tempo de donzela e viúva até aos oitenta e quatro. Não se afastava do templo, servindo a Deus noite e dia, com jejuns e orações. Estando presente na mesma ocasião, começou também a louvar a Deus e a falar acerca do Menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém. Cumpridas todas as prescrições da Lei do Senhor, voltaram para a Galileia, para a sua cidade de Nazaré. Entretanto, o Menino crescia, tornava-Se robusto e enchia-Se de sabedoria. E a graça de Deus estava com Ele.

Caros amigos e amigas, Jesus não é um solitário ou um herói isolado, Jesus acontece e cresce em família, ensina-nos a comunhão e a novidade de cada encontro.

Interpelações da Palavra

Recebeu-O em seus braços

Simeão viveu um advento de esperança, na criatividade de cada hora, sem perder o olhar da luz e da verdadeira consolação. Só nesta justiça de coração pode habitar Jesus e é nestes braços, como foi nos de Maria, que Jesus se deixa receber. O sorriso, cheio do Espírito Santo, de Simeão, contornado pela sabedoria e confiança, acolhe o mistério que esperara. Também nós não devemos desistir de esperar, mesmo que o tempo limite as possibilidades. Quando recebemos Jesus no colo, quando acolhemos aquele que nos acolhe, os olhos rasgam-se para a certeza da salvação e a luz dissipa o cinzento de cada espera.
São estes sorrisos, rebentos de calor e de Luz, que nos fazem acreditar, como em Maria e José, e ficar maravilhados com cada milagre que o Senhor faz nas páginas do tempo.

Não se afastava do templo

Ana também vê a família, o crescer e o caminhar de um laço divino e santo. Vê a alegria da consagração e a profecia da espada. Vê a proteção de José e a ternura de Maria. Vê a beleza do Natal, do Deus que se aproxima e se faz encontro no coração que espera. Ana vê, porque esperou a liberdade. Só um coração sedento de cor pode ver a Luz. Ana não se afastava do tempo e servia. O tempo não lhe criou vícios e mantém-se na espera porque acredita no amor, acredita na alegria de Deus. Como se deixou procurar por Deus Menino, agora canta, louva de alma jovem e sorriso de criança, fala acerca deste menino que a tornou criança de novo, aberta à novidade do mistério… pois estava lá, não se afastava do templo, onde viu a família chegar.

Crescia e enchia-se de sabedoria 

A família é o abraço permanente de Deus ao Menino que nasce. Jesus aprende dos pais, Maria e José, o peregrinar constante da procura da vontade de Deus, o respeito pelas prescrições da Lei do Senhor, a descoberta da beleza da sabedoria e o acolhimento do dom da graça. Neste regaço de Deus na terra, Jesus cresce. É também nas nossas famílias, quando se deixam tornar regaços de Deus, que Jesus cresce, que o perfume da família de Nazaré nos inspira e então… acontece o Evangelho!

Rezar a Palavra e contemplar o Mistério
Senhor Jesus, Menino da família de Nazaré, estrela da comunhão e fortaleza do laço da caridade
Ensina-me o abraço de filho na doçura e docilidade, na descoberta e criatividade do tempo,
a candura de mãe na ternura e sensibilidade, no silêncio, na disponibilidade de cada espaço.
Ensina-me a vigilância de pai na justiça e sabedoria, no desafio e segurança de cada crescer.
Jesus, Menino da família de Nazaré, seja cada família um eco da beleza daquela que Te acolheu.

Viver a Palavra

Vou agradecer reforçar cada laço que se constrói na minha família.