Jesus nasceu no seio de uma família e, na sua vida, a família constituiu uma referência ao ponto de ser conhecido como “o filho do carpinteiro”. Teoricamente,era possível que Deus fizesse as coisas de outra maneira, prescindindo de referências humanas, até porque, como transparece de algumas passagens do Evangelho, essas relações até poderiam comprometer a sua missão. Mas,como Deus se fez homem, e a humanização implica uma família, foi este o caminho seguido: escolheu uma mãe e um pai para o Seu Filho, Jesus, o Salvador.
1. O lugar da família
– É recorrente falar-se na crise da família: há uma clara redução dos matrimónios católicos, aumentam as separações e os divórcios, as rupturas familiares são mais frequentes, a família tradicional alargada dá lugar a um núcleo cada vez mais reduzido…
– Por outro lado, nesta quadra do Natal, redescobre-se e valoriza-se essa família tradicional, percorrem-se quilómetros para ir ao encontro dos que fazem parte do círculo familiar e, sendo possível, a deslocação leva até às origens, aos lugares mais significativos da família alargada…
– A família é, ao mesmo tempo, uma instituição que permanece e está sujeita, como é óbvio, a alguma flexibilidade e adaptação. Nas estatísticas, aparece ainda como a instituição mais valorizada, como escola de amor essencial para a vida das pessoas, de humanismo e de relações sociais…
– No campo da fé, a família continua a ser o lugar primeiro e o mais importante para a transmissão da fé…
2. A família de Jesus
– Nesta quadra natalícia, em que contemplamos Deus encarnado num ser humano, reconhecemos que Ele veio ao mundo num contexto histórico e social, numa época e num espaço bem identificados… Mas o âmbito mais sublinhado é o da família onde Jesus de Nazaré cresceu, se desenvolveu, amou e foi amado…
– Foi a partir da família que Jesus se integrou no mundo religioso, cultural e social da sua época. Esta família, que nós designamos de Sagrada Família, teve também os seus problemas e as suas crises; e foi aprendendo a superá-las crescendo no amor a Deus e colocando-O como suporte essencial da sua vida…
– Não terá sido fácil, para José, aceitar Maria como esposa; assumir a paternidade social de Jesus, ter que fugir para o Egipto logo após o nascimento de Jesus por causa da perseguição de Herodes… Começa logo por ser uma família “deslocada”…
– Também não terá sido fácil perceber a missão de Jesus, que começou por ser protegido e ter todos os cuidados na família, e depois disse que a sua mãe e os seus irmãos eram os que faziam a vontade de Deus (Mt 12,46-50)…
– A família de Nazaré viveu problemas que muitas famílias vivem; é um modelo, não porque não tenha experimentado as dificuldades mas porque as soube superar colocando-se no plano de Deus…
– A ida para o Egipto é mais um daqueles episódios que a faz reviver a história milenar do seu povo e, quando se tem esta referência histórica, os problemas também são encarados de maneira diferente… Uma das particularidades da Sagrada Família é esta inserção na história do seu povo, ao contrário do que acontece hoje em muitas famílias, que perdem o seu enraizamento histórico e consideram que os problemas são só deles, diferentes de todos os outros…
– A família de Nazaré também é igual e diferente mas, soube situar-se na história e, dentro da história, no projecto de Deus…