S. Domingos, presbítero
Memória
Nota histórica
Domingos de Gusmão nasceu em Caleruega, na Espanha, por volta do ano 1170. Estudou Teologia, em Palência, e foi nomeado cónego da Igreja de Osma, cidade da província de Sória. Por meio da sua pregação e do exemplo da sua vida combateu com grande êxito a heresia dos Albigenses. Desejoso de encontrar uma nova forma de propagar a fé, fundou a Ordem dos Pregadores, para renovar na Igreja a forma de vida apostólica, mandando aos seus irmãos que se dedicassem ao serviço do próximo com a oração, o estudo e o ministério da palavra. Morreu em Bolonha, cidade de Itália, no dia 6 de agosto de 1221. Com Francisco de Assis, é um dos patriarcas da santidade cristã, suscitados pelo Espírito, num tempo de grandes transformações históricas. Promoveu, a par do aprofundamento dos estudos teológicos, a oração popular do rosário.
Leitura I Hab 1, 12 — 2, 4
Não sois Vós, Senhor, desde os tempos antigos, o meu Deus, o meu Santo, o Imortal? Estabelecestes os caldeus, Senhor, para exercerem a justiça e os consolidastes como um rochedo para castigarem. Os vossos olhos são demasiado puros para verem o mal e não podeis contemplar a opressão. Porque olhais então para os malvados, porque ficais em silêncio, quando o ímpio devora o justo? Tratareis os homens como os peixes do mar, ou como os répteis que não têm dono? O inimigo pesca-os a todos no anzol, apanha-os com a rede, recolhe-os com a tarrafa e assim fica alegre e satisfeito. Por isso oferece sacrifícios à sua rede e queima incenso à sua tarrafa, pois fez com elas uma pesca abundante e alcançou alimento com fartura. Continuará ele a utilizar a sua rede, matando os povos impiedosamente? Ficarei no meu posto de sentinela, conservar-me-ei de pé sobre a muralha, estarei alerta para ver o que o Senhor me dirá, como irá responder à minha queixa. Então o Senhor respondeu-me: «Põe por escrito esta visão e grava-a em tábuas com toda a clareza, de modo que a possam ler facilmente. Embora esta visão só se realize na devida altura, ela há de cumprir-se com certeza e não falhará. Se parece demorar, deves esperá-la, porque ela há de vir e não tardará. Vede como sucumbe aquele que não tem alma recta; mas o justo viverá pela sua fidelidade».
compreender a palavra
Habacuc, o profeta, levanta a voz para apresentar a sua queixa contra Deus e fazer perguntas que estão no coração de todos os homens. Deus vê tudo e não suporta o mal diante dos seus olhos. Então, não se entende, diz Habacuc, «porque olhais para os malvados, porque ficais em silêncio, quando o ímpio devora o justo? Tratareis os homens como os peixes do mar, ou como os répteis que não têm dono?» Permitindo que uns se imponham sobre os outros Deus pactua com os que adoram os instrumentos de guerra e de opressão, como o pescador adora a rede com que tira os peixes do mar. O profeta desafia Deus dizendo-lhe que vai estar atento para ver o que Deus vai fazer. No final, no entanto, o profeta acaba por mostrar que apesar de muitas perguntas sem resposta, Deus é a única segurança e o silêncio de Deus não significa que pactua com o mal, pois quem se apoiar nele encontra a segurança que procura.
meditar a palavra
Quantas vezes me interrogo sobre a atitude de Deus perante o sofrimento dos homens, sobretudo, aquele sofrimento que é causado pela maldade, pelo egoísmo, pela violência e indiferença de outros homens. Porque ficais em silêncio, Senhor, quando o ímpio devora o justo? Na realidade é necessário aprender a ler o silêncio de Deus e a encontrar nas perguntas sem resposta os sinais do caminho a seguir. Enquanto uns praticam o mal e entendem que pode continuar a prejudicar os outros porque ninguém se lhes opõe, nós havemos de aprender a ver os sinais de um Deus que não é indiferente ao sofrimento dos homens para nos tornarmos daqueles que têm fome e sede de justiça, que constroem a paz, choram com os que choram e, na pobreza do amor, sentem alegria por serem perseguidos sem perder a fé.
rezar a palavra
Também eu estou atento, Senhor, como sentinela, para aprender no teu silêncio a enxugar as lágrimas dos que choram e a limpar as feridas dos que sangram, para como tu lutar pela construção de um mundo mais justo, mais humano, mais fraterno e mais feliz, ainda que no meio de perseguições.
compromisso
Em vez de gastar o tempo a lamentar o mal vou estar junto dos que precisam de uma mão amiga.
EVANGELHO Mt 17, 14-20
Naquele tempo, aproximou-se de Jesus um homem, que se ajoelhou diante d’Ele e Lhe disse: «Senhor, tem compaixão do meu filho, porque é epilético e sofre muito; cai frequentemente no fogo e muitas vezes na água. Apresentei-o aos teus discípulos, mas eles não puderam curá-lo». Jesus respondeu: «Oh geração incrédula e perversa! Até quando estarei convosco? Até quando terei de vos suportar? Trazei-mo aqui». Jesus ameaçou o demónio, que saiu do menino e este ficou curado a partir daquele momento. Então os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram-Lhe em particular: «Por que motivo não pudemos nós expulsá-lo?». Jesus respondeu-lhes: «Por causa da vossa pouca fé. Em verdade vos digo: se tiverdes fé comparável a um grão de mostarda, direis a este monte: ‘Muda-te daqui para acolá’, e ele há de mudar-se. E nada vos será impossível».
compreender a palavra
A aflição de um pai perante a desgraça do filho serve para Jesus chamar os discípulos à fé. De facto, para Jesus, o problema nunca é a doença. Ele não curou todos os doentes que havia naquele tempo naquelas terras. Curou muitos, mas não todos. A ação de Jesus visa mais a fé do que a doença. Percebemos no relato que o homem se aproximou de Jesus porque tinha o filho doente e os discípulos também se aproximaram de Jesus porque não foram capazes de o curar. Tanto um como os outros não perceberam que aproximar-se de Jesus exige a fé. Por isso Jesus reage de modo tão inesperadamente brusco e irritado. Nem os apóstolos, nem o homem, nem os presentes, mostram a fé necessária para acontecer o dom de Deus que é mais que a simples cura de um jovem epilético. Jesus explica isso aos discípulos e chama-os à fé. Com fé nada é impossível.
meditar a palavra
A busca do deus dos milagres não é a busca do Deus verdadeiro. Jesus cura muitas pessoas, acolhe os que padecem, mas não permite que o confundam com um curandeiro, com um deus menor, com um moço de recados sempre disponível para fazer milagres com pré marcação. A fé gera em nós uma capacidade de acolher a própria vida como ela é e uma confiança total na presença de Deus. De Deus vem a força para abraçar a cruz e da fé o milagre de a carregar até ao fim. As palavras de Jesus perguntam-nos pela fé que temos, uma fé que pede para aliviar o peso da vida ou uma fé que pede auxílio para carregar todos os pesos que nos pertencem e auxiliar ainda alguns que caminham connosco. Afinal, não é impossível carregar a cruz até ao calvário e Jesus prova isso carregando a sua.
rezar a palavra
Às vezes, Senhor, pergunto pela minha fé. Umas vezes parece-me que tenho muita outras vezes julgo não ter nenhuma. Nem sempre o que sinto corresponde à verdade. Sei que não quero fugir das consequências da minha vida, das exigências dos meus compromissos, da responsabilidade para comigo e para com os outros, da adesão ao teu projeto de amor libertador. Não quero aliviar a minha carga, mas conto contigo para ter as forças necessárias para transportar a cruz até ao fim.
compromisso
Vivo a fé daqueles que, como Jesus, carregam a sua cruz e a de outros, pelo caminho mais difícil até ao fim.