São Teotónio, presbítero
[Memória em Portugal]
Teotónio nasceu em Ganfei, de Valença do Minho, em Portugal, aproximadamente no ano 1082. Quando Dom Crescónio, seu tio, foi nomeado bispo de Coimbra, levou-o consigo e confiou ao arcediago Dom Telo a sua formação nas disciplinas eclesiásticas. Depois de ordenado presbítero, foi nomeado prior da Igreja da Sé de Viseu. Fez duas peregrinações à Terra Santa. No regresso da segunda peregrinação, insistentemente convidado por Dom Telo e outros dez homens de grande virtude, fundou com eles o mosteiro da Santa Cruz, em Coimbra, de que foi membro eminente e muito admirado, nomeadamente por são Bernardo de Claraval. Teve também papel importante em algumas conjunturas da pátria. Morreu em 1162.

Leitura I (anos ímpares) Heb 11, 1-7

Irmãos: A fé é a garantia dos bens que se esperam e a certeza das realidades que não se veem. Ela valeu aos antigos um bom testemunho. Pela fé compreendemos que o universo foi formado pela palavra de Deus e que as coisas visíveis provieram do invisível. Pela fé, Abel ofereceu a Deus um sacrifício melhor que o de Caim; graças a ela, mereceu ser chamado justo e Deus aceitou os seus dons; e, graças a ela, depois de morto, ele fala ainda. Pela fé, Henoc foi arrebatado, para não ver a morte, e não mais foi encontrado, porque Deus o arrebatou; antes de ser arrebatado, recebeu o testemunho de que tinha agradado a Deus. Ora, sem a fé não é possível agradar a Deus, porque aquele que se aproxima de Deus deve acreditar que Ele existe e recompensa aqueles que O procuram. Pela fé, tendo sido divinamente avisado sobre as coisas que ainda não se viam, Noé construiu com religioso temor uma arca para salvar a sua família. Pela fé, condenou o mundo e tornou-se herdeiro da justiça que se obtém pela fé.

compreender a palavra
O autor da carta aos Hebreus ajuda-nos a compreender o que estivemos a ler ao longo desta semana no livro do Génesis. Tudo o que existe foi criado e tudo o que foi criado vem da mão de Deus, o invisível. Génesis fala-nos da criação do mundo e do homem, do pecado do homem e da bênção de Deus à humanidade. A carta aos Hebreus diz-nos que pela fé chegamos a conhecer o mistério que encerram as coisas criadas e podemos agradar a Deus e tornar-nos testemunhas para todos os que procuram a Deus. A fé é a experiência de acreditar sem ter visto e perceber nisso uma grande recompensa e um caminho de salvação.

meditar a palavra
Porque queremos dominar tudo e conhecer todos os mistérios e toda a ciência, entendemos por vezes, entendem alguns, que a fé não serve para nada, o importante é o dado cientificamente comprovado. A maior parte da nossa experiência existencial acontece envolvida no mistério do que não se vê e não se pode comprovar cientificamente, embora tenhamos a tentação de pensar que sim, que entendemos e comprovamos. A fé não é ver, nem ter certezas absolutas. A fé é fazer um caminho às escuras na certeza de que, aquele em quem acreditamos caminha connosco e em momento algum nos deixa sós no caminho. Assim foram os homens do passado que a carta aos Hebreus elogia e assim são muitos homens, imensamente mais do que imaginamos. Assim podemos ser nós também, homens que conseguem ver Deus a criar no silêncio dos acontecimentos da vida, Deus a salvar no meio dos escombros de cada existência.

rezar a palavra
No silêncio da minha vida, fala-me, Senhor, para que, ao som da tua voz, me encontre e encontre a direção que devo dar à minha vida, tantas vezes caída nos escombros do cansaço, da desilusão e do sem sentido das coisas. Mostra-me que nada é inútil e que tens o poder de recriar o que se esmaga no nada pela força de se dar e que podes salvar o que se perdeu na entrega generosa e atenta da vida.

compromisso
Quero ver, pela fé, o mistério de Deus que me rodeia.

EVANGELHO Mc 9, 2-13

Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e subiu só com eles para um lugar retirado num alto monte e transfigurou-Se diante deles. As suas vestes tornaram-se resplandecentes, de tal brancura que nenhum lavandeiro sobre a terra as poderia assim branquear. Apareceram-lhes Moisés e Elias, conversando com Jesus. Pedro tomou a palavra e disse a Jesus: «Mestre, como é bom estarmos aqui! Façamos três tendas: uma para Ti, outra para Moisés, outra para Elias». Não sabia o que dizia, pois estavam atemorizados. Veio então uma nuvem que os cobriu com a sua sombra e da nuvem fez-se ouvir uma voz: «Este é o meu Filho muito amado: escutai-O». De repente, olhando em redor, não viram mais ninguém, a não ser Jesus, sozinho com eles. Ao descerem do monte, Jesus ordenou-lhes que não contassem a ninguém o que tinham visto, enquanto o Filho do homem não ressuscitasse dos mortos. Eles guardaram a recomendação, mas discutiam entre si o que seria ressuscitar dos mortos. E perguntaram a Jesus: «Porque dizem os escribas que primeiro tem de vir Elias?» Jesus respondeu-lhes: «É certo que Elias vem primeiro para restaurar todas as coisas. Mas então como é que está escrito, a respeito do Filho do homem, que tem de sofrer muito e ser desprezado? Pois bem. Eu vos digo que Elias já veio; e fizeram-lhe tudo o que quiseram, como está escrito a respeito dele».

compreender a palavra
O texto, conhecido como a transfiguração de Jesus, mostra Jesus com Moisés e Elias, numa epifania (manifestação) divina. As vestes resplandecentes mostram a proximidade de Deus e a participação de Jesus nessa divindade. Aparecem Moisés e Elias, a falar com Jesus, como sinal do cumprimento da lei e dos profetas no Messias Filho de Deus. A nuvem recorda o Sinai e a manifestação ali acontecida com Moisés. Pedro compreende que ali se inicia o final dos tempos e quer permanecer ali para sempre, por isso, propõe a construção de três tendas. A sua proposta não tem cabimento, aqueles que falam com Jesus habitam no céu e não precisam de tendas terrenas. Jesus ainda tem que subir a Jerusalém e morrer para depois ressuscitar, não pode permanecer ali numa tenda. Aquela visão é cortada pela voz que centra os discípulos em Jesus, o Filho amado, a Palavra do Pai. Ao descer do monte Jesus pede silêncio sobre o sucedido e marca um tempo, até que ele ressuscite. Esta palavra provoca a pergunta dos discípulos sobre a vinda de Elias.

meditar a palavra
Perante a pessoa de Jesus é necessário vencer as limitações do olhar terreno e das construções mundanas. Não se pode ficar a projetar tendas quando o que está em causa é a promessa de Deus. Não se pode ficar a olhar para Moisés e para Elias quando é necessário subir a Jerusalém. Não se pode questionar a vinda de Elias quando está em jogo a partida do Messias através da morte e ressurreição. Centrar a atenção em Jesus parece ser a mensagem deste acontecimento. Olhai para Jesus, vede nele o filho de Deus, o Messias. Vede que nele se cumpre toda a lei e os profetas. Compreendei que nele se realiza o fim dos tempos em que habitaremos numa tenda definitiva e eterna. Como Pedro ficamos muitas vezes tão alucinados, extasiados pelo entusiasmo que perdemos a noção das distâncias que nos separam da promessa de Deus que salva em Jesus. A transfiguração fala dessa necessidade de escutar mais Jesus para compreender o caminho que ainda falta percorrer até à cruz, até à ressurreição.

rezar a palavra
Quero ser a tenda que te abriga, Senhor, neste caminho para Jerusalém e quero abrigar-me à sombra das tuas palavras que dão cumprimento a lei e aos profetas. Quero seguir contigo, subir ao monte para o encontro com Deus e descer ao encontro dos homens. Quero subir a Jerusalém e à cruz, descer contigo na morte para subir contigo na ressurreição.

compromisso
Vou colocar o olhar em Jesus e os pés no caminho para o seguir.