Cântico dos Cânticos 3, 1-4a 

Eis o que diz a esposa: «No meu descanso, durante a noite, procurei aquele que o meu coração ama; procurei-o, mas não pude encontrá-lo. Levantar-me-ei e percorrerei a cidade, pelas ruas e pelas praças, procurando aquele que o meu coração ama. Procurei-o, mas não pude encontrá-lo. Encontraram-me as sentinelas que rondavam a cidade e eu perguntei-lhes: ‘Vistes porventura aquele que o meu coração ama?’. E logo que passei por eles, encontrei aquele que o meu coração ama».

Compreender a Palavra

Ao celebrar Santa Maria Madalena, agora Festa e não Memória Obrigatória por decisão do Papa Francisco, a liturgia propõe-nos a reflexão desta passagem do livro do Cântico dos Cânticos. Trata-se de um poema de amor onde os diálogos entre o amado e a amada é frequentemente entendido como diálogo de Deus com o homem, de Cristo com a Igreja. Esta pequena passagem está dominada pela procura “procurei… e não pude encontrar” e pelo amor, “aquele que o meu coração ama. Há um caminho de busca do amado. Esta busca torna-se numa ansiedade perante e incapacidade de o encontrar. Procurei-o no leito, na cidade, nas ruas, nas praças, perguntei por ele às sentinelas. Uma noite de busca. No final a alegria do encontro, “encontrei aquele que o meu coração ama”.

Meditar a Palavra

Maria Madalena aparece como o símbolo de todos os que procuram o seu amado. O amado é Cristo morto, fechado no sepulcro, mas que o coração não se conforma em acreditar que não pode voltar a vê-lo. Todos dizem que está morto, os meus olhos não o veem, mas o meu coração diz-me que ele está vivo e, por isso, não se cansa de procurar na noite. A noite é toda a vida onde medos e fantasmas teimam em dizer que o que não se vê não existe. Mas na noite o coração diz-me que posso ver o meu Senhor, o amado, aquele que o meu coração ama. Madalena não se cansa, não se deixa vencer e nós também não porque só onde Deus morre pode brotar o Deus connosco, que vive para sempre e se deixa encontrar pelo amor de que fala o nosso coração.

Rezar a palavra

Senhor, amado do meu coração incansável, que te busca e ama na noite, deixa-me ver-te. Que os meus olhos contemplem aquele que o meu coração ama para não se perder na angústia de não poder encontrar-te. Amado, que me confundes escondido no sepulcro e te confundes com o jardineiro que cuida das rosas que falam da vida onde tudo fala de morte, mostra-te vivo aos meus olhos.

Compromisso

Ressuscitou dos mortos e apareceu a Maria Madalena.


Evangelho: Jo 20, 1.11-18 

No primeiro dia da semana,  Maria Madalena foi de manhãzinha, ainda escuro, ao sepulcro  e viu a pedra retirada do sepulcro.  E ficou a chorar junto do sepulcro.  Enquanto chorava, debruçou-se para dentro do sepulcro  e viu dois Anjos vestidos de branco,  sentados, um à cabeceira e outro aos pés,  onde estivera deitado o corpo de Jesus.  Os Anjos perguntaram a Maria:  «Mulher, porque choras?».  Ela respondeu-lhes:  «Porque levaram o meu Senhor  e não sei onde O puseram».  Dito isto, voltou-se para trás  e viu Jesus de pé, sem saber que era Ele.  Disse-lhe Jesus:  «Mulher, porque choras? A quem procuras?».  Pensando que era o jardineiro, ela respondeu-Lhe:  «Senhor, se foste tu que O levaste,  diz-me onde O puseste, para eu O ir buscar».  Disse-lhe Jesus: «Maria!».  Ela voltou-se e respondeu em hebraico:  «Rabuni!», que quer dizer: «Mestre!».  Jesus disse-lhe:  «Não Me detenhas, porque ainda não subi para o Pai.  Vai ter com os meus irmãos  e diz-lhes que vou subir para o meu Pai e vosso Pai,  para o meu Deus e vosso Deus».  Maria Madalena foi anunciar aos discípulos:  «Vi o Senhor».  E contou-lhes o que Ele lhe tinha dito.

Compreender a Palavra

O Evangelho de João apresenta-nos aqui pela terceira vez Jesus a perguntar “quem procuras?” Primeiro foi aos discípulos de João, depois aos soldados no jardim das oliveiras e agora, já na ressurreição, a Maria Madalena. Na passagem de hoje vemos dois anjos que transformaram o sepulcro, lugar de morte, num lugar da presença de Deus. Eles perguntam a Maria porque chora sabendo claramente a razão. Jesus aparece e faz a mesma pergunta e acrescenta “a quem procuras?” quando sabe muito bem o que se passa no seu coração. O céu consegue ler o coração de Maria Madalena, enquanto ela não consegue ler os sinais do céu. É o céu quem tem que lhe revelar os seus mistérios e fá-lo dizendo o seu nome “Maria”. Possuidora da verdade corre a anunciá-la aos outros como um mandato divino.

Meditar a Palavra

Jesus lê o meu coração e sabe que em mim há uma permanente busca de mais. Nem sempre sei o que busco, mas ele sabe. Sabe que a minha sede de realização, de liberdade, de justiça, de amor, de felicidade não é outra coisa que sede de Deus. Ele sabe que, mesmo sem eu o saber, é a ele que eu procuro porque ele me procura também a mim. O encontro é necessário e acontece quando eu entro em mim e tomo total consciência do que sou e, sobretudo, do que sou para ele. Nesse momento o túmulo que há em mim torna-se santuário divino e a morte torna-se vida. Apagam-se as lágrimas para sempre e começo a ser notícia, boa notícia, para todos.

Rezar a Palavra

“Rabuni” é a ti que eu procuro nos escombros do túmulo em que se torna muitas vezes a minha vida. Na barafunda interior onde deixo tudo às avessas, na ânsia de te encontrar, sem saber onde procurar e como procurar, surges tu, como uma luz que tudo transforma e fazes-me sentir procurado pelo teu amor. Quando oiço o meu nome pronunciado pela tua voz divina, sei que tudo valeu a pena e nada foi em vão porque para te encontrar os esforços nunca são demais.

Compromisso

Vou entrar no túmulo do meu coração e transformá-lo em lugar da presença de Deus.