Romanos 8, 22-27
Irmãos: Nós sabemos que toda a criatura geme ainda agora e sofre as dores da maternidade. E não só ela, mas também nós, que possuímos as primícias do Espírito, gememos interiormente, esperando a adoção filial e a libertação do nosso corpo. É em esperança que estamos salvos, pois ver o que se espera não é esperança: quem espera o que já vê? Mas esperar o que não vemos é esperá-lo com perseverança. Também o Espírito Santo vem em auxílio da nossa fraqueza, porque não sabemos o que pedir nas nossas orações; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis. E Aquele que vê no íntimo dos corações conhece as aspirações do Espírito, pois é em conformidade com Deus que o Espírito intercede pelos cristãos.
Compreender a Palavra
Celebramos hoje a memória de Santa Teresa de Ávila
S. Paulo na carta aos romanos desafia-nos à esperança na qual já fomos salvos, apesar dos sinais que parecem negar esta certeza. De facto olhamos em redor e tanto a criação como nós mesmos experimenta um sofrimento, um gemido, que exprime a urgência e a necessidade da salvação, de uma vida nova, de um novo nascimento. Este gemido é tanto maior quanto em nós, em simultâneo com a condição humana habita o impulso do Espírito. O Espírito fala-nos da salvação já acontecida para nós mas ainda não concretizada nem visível aos nossos olhos, pois vivemos as limitações próprias de toda a criação, do corpo em que habitamos. Desejamos ser filhos, desejamos a libertação total, mas apenas o experimentamos na esperança com o auxílio do Espirito que vem em auxílio da nossa fraqueza.
Meditar a Palavra
Perante o sofrimento das criaturas e do nosso próprio sofrimento, corporal e espiritual, somos tentados a dizer que a vida não tem sentido, porque parece que a existência nos foi dada para sofrer. De facto é esta a afirmação de muitas pessoas e a conclusão a que muitos chegam. Nós, os cristãos, experimentando o mesmo sofrimento que todos na criação, vivemos na esperança. Não uma esperança incerta como uma ilusão, mas uma esperança certa porque realizada já em Cristo e oferecido por ele a todos no Espírito Santo que em nós geme e intercede para que se concretizem as nossas aspirações. Enquanto caminhamos neste mundo vivemos a certeza da salvação e da adoção filial, mas gememos as dores próprias de quem habita neste corpo mortal, as dores de parto. Mas no espírito experimentamos a certeza do que já se realizou em Cristo, a vida nova que se gera no segredo sem que se veja com os nossos olhos.
Rezar a Palavra
Senhor, todos os dias sou confrontado com a experiência do sofrimento nos irmãos que me rodeiam. A pobreza, a solidão, a doença, a dor física e espiritual, o abatimento, o desânimo perante a vida, a morte. São muitos os sinais da fragilidade da nossa condição mortal. Nem sempre é fácil ver aí os sinais da vida nova da ressurreição que ofereces em Cristo, também ele caído na morte e elevado na ressurreição. Concede-me o Espírito que vem em auxílio da minha fraqueza para que seja força junto dos que perderam a esperança ou sente o poder da fragilidade que os debilita na confiança de chegar à luz da ressurreição.
Compromisso
Fortalecer, em Cristo, a esperança para animar os que sofrem.
Evangelho: Lc 11, 47-54
Naquele tempo, disse o Senhor aos doutores da lei: «Ai de vós, porque edificais os túmulos dos profetas, quando foram os vossos pais que os mataram. Assim dais testemunho e aprovação às obras dos vossos pais, porque eles mataram-nos e vós levantais os monumentos. É por isso que a Sabedoria de Deus disse: ‘Eu lhes enviarei profetas e apóstolos; e eles hão-de matar uns e perseguir outros’. Mas Deus vai pedir contas a esta geração do sangue de todos os profetas, que foi derramado desde a criação do mundo, desde o sangue de Abel até ao sangue de Zacarias, que pereceu entre o altar e o Santuário. Sim, Eu vos digo que se pedirão contas a esta geração. Ai de vós, doutores da lei, porque tirastes a chave da ciência: vós não entrastes e impedistes os que queriam entrar!». Quando Jesus saiu dali, os escribas e os fariseus começaram a persegui-l’O terrivelmente e a provocá-l’O com perguntas sobre muitas coisas, armando-Lhe ciladas, para O surpreenderem nalguma palavra da sua boca.
Compreender a Palavra
As palavras de Jesus são particularmente duras para com os doutores da lei. Acusa-os do assassinato dos profetas e de quererem passar por inocentes ao erguer monumentos àqueles a quem deram a morte. Jesus estabelece uma linha que liga todos os actos sanguinários para com os seus servos. Essa linha vai desde Abel até Zacarias. Seguidamente Jesus mostra-lhes que esse sangue não ficará sem condenação porque vão ser pedidas contas àqueles que, na sequência dos seus antepassados derem a morte ao maior de todos os profetas, o próprio Jesus. A sua morte, desde já anunciada, pode adivinhar-se na perseguição que os doutores da lei lhe movem e que Lucas regista nas últimas linhas desta secção.
Meditar a Palavra
As atitudes de amor e de ódio percorrem a história da humanidade e estão presentes na história da salvação que a acompanha. As palavras de Jesus, que recordam os gestos sanguinários da história, recordam-me que também eu posso colaborar com a permanência e crescimento do mal no mundo, provocando a morte ou pactuando com os seus partidários se não converter o meu coração ao projecto de salvação que ele me propõe. Não me restam muitas escolhas, ou sigo com Cristo o caminho arriscado da denúncia e do amor e posso terminar na cruz ou sigo pelo caminho dos assassinos que são capazes de tudo para salvar a própria pele e os seus interesses.
Rezar a Palavra
Que eu saiba abrir a porta da ciência com a chave da tua palavra, para que possa sempre apostar pelo caminho da verdade e da vida. Que a tua palavra abra os olhos do meu coração para preferir a cruz antes que praticar o mal. Que eu prefira morrer do que tirar a vida mesmo a dos inimigos.
Compromisso
Quero valorizar cada vez mais o dom da vida, criação por Deus.