Leitura I (anos ímpares) 2Cor 5, 15 — 4, 1.3-6

Irmãos: Até hoje, sempre que se leem os escritos de Moisés, o véu permanece estendido sobre o coração dos filhos de Israel. Só quando se converterem ao Senhor, o véu será tirado. Ora o Senhor é Espírito e onde está o Espírito do Senhor, está a liberdade. E todos nós, que temos o rosto descoberto, refletindo como num espelho a glória do Senhor, somos transformados na sua imagem, cada vez mais gloriosa, pela ação do Senhor, que é Espírito. Por isso não desanimamos neste ministério que nos foi confiado pela misericórdia de Deus. Se o nosso Evangelho permanece ainda velado, é para os que se perdem, para os incrédulos, a quem o deus deste mundo cegou o entendimento, para que eles não possam contemplar o esplendor do Evangelho da glória de Cristo, que é imagem de Deus. Nós não nos pregamos a nós próprios, mas a Jesus Cristo, o Senhor. Somos vossos servos, por causa de Jesus. De facto, o Deus que disse: «Das trevas brilhará a luz», fez brilhar a luz em nossos corações, para que se conheça em todo o seu esplendor a glória de Deus, que se reflete no rosto de Cristo.

compreender a palavra
Paulo continua a mostrar aos coríntios que há uma distância entre o ministério, as Escrituras e os profetas do antigo testamento e o ministério, o evangelho e os crentes da nova aliança. Aqueles que leem Moisés ainda estão debaixo do véu os que leem o evangelho são livres, vivem de rosto descoberto e manifestam no seu rosto a imagem de Cristo e o seu esplendor. Este evangelho permanece velado àqueles que se deixam dominar pelo deus deste mundo, mas é revelado àqueles que se convertem. Este evangelho, diz Paulo, não é dos homens, pois “não nos pregamos a nós”, mas a Cristo. Servimos os homens por causa de Cristo e ele faz “brilhar a sua luz em nossos corações para que se conheça em todo o seu esplendor a glória de Deus”.

meditar a palavra
Quando percebemos o que Deus fez em nós ao revelar-nos a palavra do evangelho, quando percebemos a liberdade que alcançámos ao ser tirado o véu que não deixava ver o verdadeiro rosto de Deus em todo o seu esplendor, então reconhecemos como estávamos cegos pelo deus deste mundo. Enquanto nos ofusca o véu e estamos submetidos ao poder do mundo não percebemos que somos escravos, sem liberdade. Pelo evangelho que nos foi anunciado fomos transformados à imagem de Cristo e no nosso rosto resplandece a glória do Senhor com todo o seu esplendor. É esta certeza que deve ser manifestada cada dia através do nosso rosto iluminado pela alegria que vem daquele que fez brilhar em nossos corações a sua luz.

rezar a palavra
Dissipa, Senhor, as trevas do meu coração e afasta de mim o véu que ofusca o esplendor do teu rosto. Quero viver a liberdade daqueles que se converteram a ti e a alegria dos que receberam a tua luz. Quero manifestar em mim o esplendor da tua glória.

compromisso
Deixo crescer em mim a alegria de ser lugar onde se manifesta a luz de Cristo.

Evangelho Mt 5, 20-26

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Se a vossa justiça não superar a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos Céus. Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Não matarás; quem matar será submetido a julgamento’. Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que se irar contra o seu irmão será submetido a julgamento. Quem chamar imbecil a seu irmão será submetido ao Sinédrio, e quem lhe chamar louco será submetido à geena de fogo. Portanto, se fores apresentar a tua oferta sobre o altar e ali te recordares que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar, vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão e vem depois apresentar a tua oferta. Reconcilia-te com o teu adversário, enquanto vais com ele a caminho, não seja caso que te entregue ao juiz, o juiz ao guarda, e sejas metido na prisão. Em verdade te digo: Não sairás de lá, enquanto não pagares o último centavo».

compreender a palavra
O texto de Mateus apresenta três vínculos fundamentais na vida do homem. O primeiro é a relação com Deus. Há uma atitude que está para além da lei e que implica a relação com Deus. Superar a justiça da lei é estabelecer os critérios do Reino. Quem não superar a lei não entrará no reino dos Céus. O segundo vínculo é com o irmão. Irar-se contra o irmão é tornar-se réu e atentar contra o irmão, ainda que apenas com palavras, é submeter-se à sentença. Finalmente o vínculo com o altar. A oferta que se apresenta no altar representa a vida daquele que a oferece. Ora ninguém pode apresentar a oferta no altar sem estar reconciliado com o irmão. Deus revê-se no irmão e Jesus deixa isso bem claro. Portanto, “vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão”. Sem esta reconciliação a sentença é determinante, serás “metido na prisão… Não sairás de lá, enquanto não pagares o último centavo”.

meditar a palavra
A relação com Deus está intimamente unida à relação com o irmão. Para os antigos o cumprimento da lei era o suficiente, no entanto, Jesus coloca o irmão no centro da relação com Deus e como medida dessa relação. De facto, atentar contra o irmão é atentar contra Deus, Senhor e criador de tudo. Não respeitar o irmão é pôr em causa a relação com Deus e não se reconciliar com o irmão é impedimento para se aproximar de Deus. O amor a Deus mede-se pelo amor ao próximo como deixa bem claro Jesus em muitas das suas propostas.

rezar a palavra
“Não sairás de lá, enquanto não pagares o último centavo”. Estas palavras fazem-me pensar seriamente sobre as minhas atitudes, sentimentos e pensamentos mais íntimos. Quantas vezes me vejo incapaz de amar e perdoar o meu irmão. Quantas vezes o meu julgamento é negativo e deixa o irmão por baixo. Tantas oportunidades para amar e pelo contrário deixo crescer em mim a raiz do mal e da discórdia só porque não aceito o irmão que colocaste a meu lado. Ensina-me, Senhor, o amor ao próximo, ensina-me a superar a justiça dos homens e a pobreza do meu coração.

compromisso
Vou estar atento para tratar o irmão como imagem e presença de Deus na minha vida.