S. Isabel da Hungria, religiosa
Memória
Isabel era filha de André II, rei da Hungria, e nasceu no ano 1207. Ainda muito jovem foi dada em matrimónio a Luís IV, landgrave da Turíngia, e teve três filhos. Dedicou‑se a uma vida de intensa meditação das realidades celestes e de caridade para com o próximo. Depois da morte de seu marido, renunciou aos seus bens e retirou-se, em Marburgo, cidade da Alemanha. Terceira Franciscana, fundou nessa cidade um hospital onde ela mesma cuidava os enfermos. Morreu aos vinte e cinco anos, no dia 17 de novembro do ano 1231.

Leitura I (anos ímpares) 2Mac 7, 1.20-31
Naqueles dias, foram presos sete irmãos, juntamente com a mãe, e o rei da Síria quis obrigá-los, à força de azorragues e nervos de boi, a comer carne de porco, proibida pela Lei. Eminentemente admirável e digna de memória foi a mãe, que, vendo morrer num só dia os seus sete filhos, tudo suportou com firme serenidade, pela esperança que tinha no Senhor. Exortava cada um deles na sua língua pátria e, cheia de nobres sentimentos, juntava uma coragem varonil à ternura de mulher. Ela dizia-lhes: «Não sei como aparecestes no meu seio, porque não fui eu que vos dei o espírito e a vida, nem fui eu que ordenei os elementos de cada um de vós. Por isso, o Criador do mundo, que é o autor do nascimento e origem de todas as coisas, vos restituirá, pela sua misericórdia, o espírito e a vida, porque vos desprezais agora a vós mesmos por amor das suas leis». Então o rei Antíoco julgou-se insultado e suspeitou que aquelas palavras o ultrajavam. Como o filho mais novo ainda estava vivo, não só começou a exortá-lo com palavras, mas também lhe prometeu com juramento que o tornaria rico e feliz, se ele abandonasse as tradições dos seus antepassados. Faria dele seu amigo, confiando-lhe altas funções. Como o jovem não lhe deu a menor atenção, o rei chamou a mãe à sua presença e exortou-a a aconselhar o jovem para lhe salvar a vida. Depois de muita insistência do rei, ela consentiu em persuadir o filho. Inclinou-se para ele e, ludibriando o tirano, assim lhe falou na língua pátria: «Filho, tem compaixão de mim, que te trouxe nove meses no meu seio, te amamentei durante três anos, te criei e eduquei até esta idade, provendo sempre ao teu sustento. Peço-te, meu filho, olha para o Céu e para a terra, contempla tudo o que neles existe e reconhece que Deus os criou do nada, assim como a todo o género humano. Não temas este carrasco, mas sê digno dos teus irmãos e aceita a morte, para que eu te possa encontrar com eles no dia da misericórdia divina». Apenas ela acabou de falar, o jovem exclamou: «Por que esperais? Eu não obedeço às ordens do rei. Obedeço aos mandamentos da Lei que foi dada por Moisés aos nossos antepassados. E tu, inventor de todos os males contra os hebreus, não escaparás às mãos de Deus».

compreender a palavra
“Tu, inventor de todos os males contra os hebreus, não escaparás às mãos de Deus”. O rei, com a sua arbitrária decisão de perseguir os que se opusessem aos seus critérios e decisões de construir um império sem diferenças identitárias entre os povos por ele conquistados, ameaça de morte e executa todos os que não se submetem à sua vontade. O rei é tudo o contrário de Deus que, sendo o autor de toda a criação e de toda a humanidade a criou na diversidade e na liberdade de cada um seguir os ditames do seu coração, mesmo que cada um siga por caminhos errados. A mãe aparece como aquela que dá a vida e ensina aos filhos o caminho da vida. A fé recebida desde o seio materno numa fidelidade a Deus e reconhecendo o seu poder acima do poder dos homens, torna-se a força que conduz estes jovens, através do parto difícil do martírio, para a vida da ressurreição. O seu testemunho é admirável como admirável é a sua coragem. Dadora de vida, a mãe, não se limitou a dar a vida terrena, mas orientou para a vida eterna aqueles que tinha gerado e cuidado no amor.

meditar a palavra
O caminho da vida é um caminho estreito, como muito bem recorda Jesus: “Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela”. Porém é um caminho que pode atravessar-se em segurança, na certeza de chegar à verdadeira vida. No caminho da vida seguem-se as orientações da fé recebida e acolhida no calor do amor da família. Os laços que se criam no amor generoso de cada dia, na partilha permanente das alegrias e das tristezas, dos sonhos e dos fracassos, são a força que nos liga e faz resistir diante das incertezas, das adversidades e dos sofrimentos. Ali, onde o desalento nos surpreende em forma de ameaças reais ou das dificuldades de cada dia, sussurra aos nossos ouvidos a voz cálida da mãe e do pai que sempre nos mostraram a vida para lá de todas as manifestações de morte que nos surpreendiam. A fé que vivemos chega-nos através do amor dos nossos pais. Em família, a fé não é um dom que se possa esconder, mas um tesouro a revelar todos os dias, desembrulhando-o sobre a mesa da partilha como se faz com o pão de cada dia.

rezar a palavra
Obrigado, Senhor, pelos pais que me deste que me ensinaram, apesar da sua pobreza, o caminho da fé que me conduz à vida. Obrigado por ter a possibilidade de partilhar essa fé sobre a mesa do amor quotidiano, como pão de cada dia, que fortalece nas subidas e anima nas descidas e me prepara para o derradeiro encontro quando, finalmente, puder descansar em teus braços.

compromisso
Olhar para a meta, a vida eterna, é alento para os passos da fé que hoje sou chamado a dar.

Evangelho Lc 19, 11-28
Naquele tempo, disse Jesus uma parábola, porque estava perto de Jerusalém e eles pensavam que o reino de Deus ia manifestar-se imediatamente. Então Jesus disse: «Um homem nobre foi para uma região distante, a fim de ser coroado rei e depois voltar. Antes, porém, chamou dez dos seus servos e entregou-lhes dez minas, dizendo: ‘Fazei-as render até que eu volte’. Ora os seus concidadãos detestavam-no e mandaram uma delegação atrás dele para dizer: ‘Não queremos que ele reine sobre nós’. Quando voltou, investido do poder real, mandou chamar à sua presença os servos a quem entregara o dinheiro, para saber o que cada um tinha lucrado. Apresentou-se o primeiro e disse: ‘Senhor, a tua mina rendeu dez minas’. Ele respondeu-lhe: ‘Muito bem, servo bom! Porque foste fiel no pouco, receberás o governo de dez cidades’. Veio o segundo e disse-lhe: ‘Senhor, a tua mina rendeu cinco minas’. A este respondeu igualmente: ‘Tu também, ficarás à frente de cinco cidades’. Depois veio o outro e disse-lhe: ‘Senhor, aqui está a tua mina, que eu guardei num lenço, pois tive medo de ti, que és homem severo: levantas o que não depositaste e colhes o que não semeaste’. Disse-lhe o rei: ‘Servo mau, pela tua boca te julgo. Sabias que sou homem severo, que levanto o que não depositei e colho o que não semeei. Então, porque não entregaste ao banco o meu dinheiro? No meu regresso tê-lo-ia recuperado com juros’. Depois disse aos presentes: ‘Tirai-lhe a mina e dai-a ao que tem dez’. Eles responderam-lhe: ‘Senhor, ele já tem dez minas!’. O rei respondeu: ‘Eu vos digo: A todo aquele que tem se dará mais, mas àquele que não tem, até o que tem lhe será tirado. Quanto a esses meus inimigos, que não me quiseram como rei, trazei-os aqui e degolai-os na minha presença’». Dito isto, Jesus seguiu, à frente do povo, para Jerusalém.

compreender a palavra
O texto compreende uma pequena introdução que situa Jesus a caminho de Jerusalém, revela os pensamentos dos que o seguiam e termina com uma parábola. O texto da parábola fala de um homem que vai ser coroado rei e que distribui os seus bens pelos servos para que administrem na sua ausência. Apresenta ainda um outro grupo de concidadãos que não o aceitam como rei e fazem tudo para impedir a sua coroação. O homem regressa mais tarde, já coroado rei, e chama os servos que lhe apresentam contas. Entre os servos há um que é considerado mau porque guardou e não pôs a render os bens que o senhor lhe confiou. Os que o recusaram como rei acabaram degolados como resposta ao sentimento negativo que manifestaram para com ele. Jesus segue para Jerusalém à frente do povo.

meditar a palavra
A subida com Jesus para Jerusalém é um tempo especial que exige de mim a capacidade de ler os seus pensamentos e absorver os seus sentimentos. O Reino de Deus que Jesus vai instaurar nem tem os contornos que eu lhe dou nem se define com os objetivos que eu tenho para mim. Jesus vai receber a coroa de espinhos e sentar-se no trono da cruz. Desta forma é que eu tenho que me colocar diante dele. Alguns vão contestá-lo, outros vão recusar-se a apostar no seu projeto, mesmo reconhecendo que ele é o Senhor, mas eu sou chamado a acolher nas minhas mãos as minas que ele repartiu comigo e fazê-las render, consciente de que, também eu, sou construtor do Reino e seu administrador enquanto Ele estiver ausente.

rezar a palavra
Colocaste nas minhas mãos um tesouro e esperas que eu o multiplique. É um tesouro demasiado valioso para as minhas capacidades. Tu sabes como tenho dificuldade em gerir os meus pensamentos, os meus desejos, os meus propósitos. Que esperas de mim, Senhor? Não será demasiado grande a tua expectativa em relação a mim? Não ficarei demasiado pequeno diante da resposta que esperas que eu dê? Não deixes de me iluminar com o teu Espírito, para que não seja eu a pôr em causa o Reino que vieste instaurar com a tua paixão.

compromisso
Vou avaliar bem o tesouro que Jesus colocou nas minhas mãos ao fazer de mim seu discípulo.