Tiago 4, 13-17
Caríssimos: Agora, escutai-me, vós que dizeis: «Hoje ou amanhã iremos a tal cidade, onde passaremos um ano, fazendo negócio e tirando lucro». Mas vós não sabeis o que traz o dia de amanhã. Que vem a ser, afinal, a vossa vida? Sois como a neblina que aparece um momento e se esvai em seguida. Deveríeis antes dizer: «Se o Senhor quiser, estaremos vivos e faremos isto ou aquilo». Mas ao contrário, envaideceis-vos com a vossa arrogância. Toda a presunção desse género é má. Assim, quem sabe fazer o bem e não o faz comete pecado.

Compreender a Palavra
As palavras de São Tiago encerram um ensinamento para o crente. Vivemos e decidimos da vida como se ela fosse nossa e não tivéssemos que dar contas a ninguém, por isso dizemos “hoje ou amanhã vou fazer isto e aquilo”. Mas Tiago alerta, para o facto de a vida nos escapar das mãos, como neblina. As nossas palavras revelam o que vai no nosso coração, por isso, devíamos dizer antes, colocando a vida nas mãos de Deus: “Se o Senhor quiser, amanhã vou…”. Falamos com vaidade e arrogância e essa arrogância faz-nos cair no pecado.

Meditar a Palavra
Não se trata de criticar uma linguagem mas de analisar as motivações interiores com que vivemos e decidimos a vida. As palavras não são o mais importante mas revelam as intenções do coração. De facto, habituámo-nos a usar expressões enganosas que podem mudar o sentir do coração. Quando falamos da vida como se ela fosse nossa e só nossa, acabamos por viver decidindo sem pensar que temos que dar contas a outro e sem pensar que a grande decisão não está nas nossas mãos. Amanhã não sabemos se podemos usar da liberdade de viver porque a vida pode ter-se esfumado como a neblina. Por isso, usar das palavras de modo a que elas traduzam o sentimento crente e confiante naquele que dá a vida e a mantém é um bom princípio para que o coração se eduque na arte de crer e confiar. A arrogância de julgar que a vida é nossa e a vaidade de pensar que podemos decidir tudo o que quisermos, torna-se pecado por esquecer aquele que dá consistência à nossa vida.

Rezar a Palavra
Senhor, a minha vida nas tuas mãos vale mais do que a liberdade de decidir por mim se vou ou não fazer isto ou aquilo. Nas minhas mãos a vida é como neblina, mas nas tuas mãos a vida não se esgota, atinge a plenitude e realiza-se no eterno existir. Que eu saiba transformar o meu coração para confiar e a minha boca para proclamar que vós sois o Senhor da minha vida.

Compromisso
Mudar as palavras da minha boca vai ser o exercício para voltar o coração para Deus e esperar com confiança a vida que dele me vem.


Evangelho: Mc 9, 38-40
Naquele tempo, João disse a Jesus: «Mestre, nós vimos um homem a expulsar os demónios em teu nome e procurámos impedir-lho, porque ele não anda connosco». Jesus respondeu: «Não o proibais; porque ninguém pode fazer um milagre em meu nome e depois dizer mal de Mim. Quem não é contra nós é por nós».

Compreender a Palavra
O texto breve de hoje contém um grande ensinamento que Jesus dirige aos seus discípulos. Alguém andava a expulsar demónios em nome de Jesus. João vai pedir a Jesus que o proíba, por uma única razão: “ele não anda connosco”. Jesus aproveita para ensinar, que a atitude do verdadeiro discípulo é acolher o bem realizado pelos outros, porque “quem não é contra nós é por nós”.

Meditar a Palavra
Há um discernimento difícil de fazer: avaliar o espaço que os outros ocupam no coração de Jesus. É verdade que o único elemento que tenho para avaliar é o de João: “ele não anda connosco”, com tudo o que significa “andar”. Mas os elementos de Deus são outros e não se reduzem à minha mesquinha forma de ver e de pensar. Não desprezando este elemento, “ele anda connosco”, não posso ignorar aquele outro elemento de Jesus: “ninguém pode fazer um milagre em meu nome e depois dizer mal de Mim” nem este: “Quem não é contra nós é por nós”. No horizonte de Jesus cabem muitos; no meu horizonte só têm lugar alguns.

Rezar a palavra
Contemplo as tuas palavras e os teus gestos em favor do outro, do mais pequeno, dos que fazem o bem, dos que se dedicam a cuidar do mais pobre. Tu olhas ao coração do homem e não ao exterior. Para ti “andar connosco” é amar, para mim amar é estar comigo. Quem não está comigo não conta. Ensina-me, Senhor, essa abertura de coração, esse amor universal que não se deixa vencer por preconceitos e ideias estereotipadas que excluem o irmão.

Compromisso
Hoje vou reconhecer que à minha volta, pessoas que não têm a mesma fé que eu, são instrumentos de Deus para a libertação dos oprimidos.