1ª Leitura: Jeremias 18, 18-20

Os inimigos de Jeremias disseram entre si: «Vamos fazer uma conspiração contra Jeremias, pois não nos faltará a instrução de um sacerdote, nem o conselho de um sábio, nem o oráculo de um profeta. Vamos feri-lo com a difamação, sem fazermos caso do que ele disser». «Ajudai-me, Senhor, escutai a voz dos meus adversários. Porventura assim se paga o bem com o mal? Eles abrem uma cova para me tirar a vida. Lembrai-Vos que me apresentei diante de Vós, para Vos falar em seu favor, para deles afastar a vossa ira».

Compreender a Palavra

Jeremias, vê-se rodeado de inimigos que atentam contra a sua vida. Ele percebe as manobras dos seus adversários e sabe que está só no meio da conspiração. As armas são desproporcionais. Jeremias intercede pelos adversários diante do Senhor, mas estes não pretendem reconhecer o bem que lhes é feito, estão dispostos a acabar com o profeta e escolhem uma arma letal: a difamação. Na desproporcionalidade revela-se fragilidade do profeta. Jeremias sabe que não tem mais ninguém a quem recorrer senão ao Senhor. Na situação de Jeremias podemos contemplar Jesus na sua paixão.

Meditar a Palavra

Os filhos das trevas são mais espertos que os filhos da luz. Enquanto Jeremias intercede junto de Deus pelos seus adversários, estes maquinam a sua desgraça. A difamação é a arma escolhida. A difamação é uma arma muito usada para destruir o outro. É uma arma que destrói sem que se possa retaliar. Aquele que usa esta arma esconde-se no anonimato, insinua, acrescenta, deturpa, pede segredo mas sabe que a falsidade se vai espalhar como fogo em palha. Ninguém chegará a saber quem levantou a difamação. Aquele que é alvo da difamação vê-se só, perdido, sem argumentos. Quanto mais se defende mais se enterra. Quanto mais foge mais se condena. Até o seu silêncio será usado contra ele. O único refúgio é o Senhor que conhece e acolhe os corações atribulados.

Rezar a Palavra

Livra-me, Senhor, dos meus inimigos. Livra-me da difamação fácil, da língua perversa e do coração ardiloso que condena os inocentes à morte. Preserva-me da tentação de falar dos outros, de julgar e condenar pelas aparências, de ficar pelas primeiras impressões. Não permitas que recorra nunca à difamação para salvar a minha pele condenando os inocentes.

Compromisso

Quero desfazer mal entendidos pela busca da verdade e lutar pela justiça que defende os inocentes.


Evangelho: Mt 20, 17-28

Naquele tempo, enquanto Jesus subia para Jerusalém, chamou à parte os Doze e durante o caminho disse-lhes: «Vamos subir a Jerusalém e o Filho do homem vai ser entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas, que O condenarão à morte e O entregarão aos gentios, para ser por eles escarnecido, açoitado e crucificado. Mas ao terceiro dia Ele ressuscitará». Então a mãe dos filhos de Zebedeu aproximou-se de Jesus com os filhos e prostrou-se para Lhe fazer um pedido. Jesus perguntou-lhe: «Que queres?» Ela disse-Lhe: «Ordena que estes meus dois filhos se sentem no teu reino um à tua direita e outro à tua esquerda». Jesus respondeu: «Não sabeis o que estais a pedir. Podeis beber o cálice que Eu hei-de beber?» Eles disseram: «Podemos». Então Jesus declarou-lhes: «Haveis de beber do meu cálice. Mas sentar-se à minha direita e à minha esquerda não pertence a Mim concedê-lo; é para aqueles a quem meu Pai o designou». Os outros dez, que tinham escutado, indignaram-se com os dois irmãos. Mas Jesus chamou-os e disse-lhes: «Sabeis que os chefes das nações exercem domínio sobre elas e os grandes fazem sentir sobre elas o seu poder. Não deve ser assim entre vós. Quem entre vós quiser tornar-se grande seja vosso servo e quem entre vós quiser ser o primeiro seja vosso escravo. Será como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida pela redenção dos homens».

Compreender a Palavra

Este relato do evangelho é uma catequese muito profunda para os discípulos e para nós. Jesus sobe a Jerusalém e, a meio do caminho, sente a necessidade de chamar à parte os doze para os instruir. De um lado a multidão e de outro Jesus com os doze. ‘Olhai que todos sobem a Jerusalém mas a nossa subida é diferente da subida de todos os outros. Eu subo para ser entregue às mãos dos homens’. Mais à frente Jesus é interrompido pela mãe dos irmãos Zebedeu. Ali gera-se uma nova distinção. Agora são dois que se afastam dos outros dez. “Ordena que estes dois…” diz a mãe. Jesus ensina que é preciso beber um cálice e que mesmo assim, nada é garantido. Logo a seguir são dez que se distanciam dos dois irmãos e mergulham na indignação. Jesus tem que educar agora para o serviço. “Os chefes das nações exercem domínio… não deve ser assim entre vós”. A medida é a de Cristo, servir e dar a vida.

Meditar a Palavra

O texto oferece-me imensos elementos de reflexão. Hoje fiquei ali com Jesus a meio do caminho, na subida para Jerusalém. Sinto que Ele me retira do meio da multidão e me pede que tome consciência do que me espera à chegada. O ruído da multidão, as conversas, os comentários sobre Jesus, os interesses particulares, a mesquinhez das promoções e tantas outras realidades humanas, não podem fazer-me esquecer do verdadeiro objetivo: “dar a vida pela salvação dos homens”.

Rezar a Palavra

Contigo subo a Jerusalém, Senhor. Este momento de encontro a sós contigo, nesta subida para o alto, faz-me tomar consciência da decisão que implica cada dia na minha vida, como entrega total, de todo o meu ser, para o bem de todos os homens. O teu cálice e o teu batismo desafiam-me a esquecer o que sou e a pensar decididamente no “para quem sou” de modo que tudo tenha sentido e termine em ressurreição. Lava-me de toda a mesquinhez humana, no cálice da tua cruz, Senhor.

Compromisso

Vou unir-me a Jesus no mistério da cruz meditando na terceira estação da Via Sacra para aprender que o caminho para Deus se faz descendo.