Missa da Vigília

Is 62,1-5; Act 13,16-17.22-25; Mt 1,1-25

1•     A Igreja celebra, em dia de Natal, o nascimento de Jesus, Filho eterno de Deus, feito homem no seio de Maria. Temos vindo a celebrar o tempo do Advento ou «vinda».

Tal vinda chegou, afinal. E celebra-se, de modo especial, no dia da Natividade do Senhor.

Esta celebração coloca-nos diante de um grande mistério, o mistério do nosso Deus que se humilhou e sujeitou às limitações de uma débil criança, com a finalidade de, através dessa natureza humana, assumida no seio de sua Mãe, poder oferecer-se por nós, a fim de nos tornar «filhos de Deus». O nosso Deus fez-se «filho do homem», para fazer de nós «filhos de Deus». Na criança recém-nascida realiza-se esta maravilha de comunhão entre o divino e o humano. Louvado seja Deus pelo seu desígnio de amor!

2•     Já Isaías, como nos lembrava a primeira leitura desta Liturgia, nos diz que Deus quer chamar-nos por um «nome novo». E esse nome é o de «filhos» muito queridos. Ele quer que sejamos o seu «encanto» e a sua «alegria». Alegremo-nos, pois, neste Natal, celebrando este acontecimento da vinda de Deus até nós, para nos tornar seus filhos e irmãos uns dos outros.

3•     O texto do Evangelho desta vigília que estamos a celebrar, relata-nos como aquele casal formado por Maria e José foi providencialmente escolhido para, através dele, chegar até nós Jesus, Salvador, (o Emanuel ou Deus connosco). Nascido no interior de uma família devidamente constituída, quis ser em tudo igual a nós excepto no pecado. Alegremo-nos, porque o seu nascimento aconteceu para nossa salvação. Alegremo-nos com Maria e José, pelo nascimento deste Filho. Agradeçamos a Deus a sua divina oferta na pessoa de Jesus; e agradeçamos aos pais dele a disponibilidade que tiveram para cooperar com o desígnio amoroso de Deus.

4•     No segundo texto ouvido nesta Eucaristia, temos, uma vez mais, uma palavra de São Paulo, muito reconfortante para nós, os crentes. Ele descreve-nos como o projecto de Deus, em obediência ao qual acontece o mistério do nascimento de Cristo, remonta ao começo da História de Deus com os homens. Jesus, anunciado por João Baptista, estava previsto, pelo menos, desde a saída do Egipto e, sobretudo, desde o reinado de David. Ele é descendente deste rei, conforme a promessa divina. E somos nós quem pode alegrar-se com o seu nascimento. Alegremo-nos e adoremos o amor de Deus por nós, revelado no Menino cujo nascimento celebramos no Natal!

(Textos publicado no livro Maravilhas de Deus – Homilias de um Bispo, D. Manuel Madureira Dias, Secretariado Nacional de Liturgia, Fátima 2017)

Missa da Noite

Is 9,1-6; Tt 2,11-14; Lc 2,1-14

1•     O profeta Isaías, oito séculos antes de Cristo, faz-nos uma bela descrição da pessoa de Jesus e da sua missão salvadora. Apresenta-nos um «descendente» no trono de David, que será a nossa paz e salvação. As Escrituras e a nossa fé fazem-nos identificar este descendente do rei como Jesus de Nazaré, cujo nascimento estamos a celebrar. Ele é «homem», pois descende dum tronco humano; mas também é Deus, pois a consistência que irá dar ao trono de seu pai David, não é própria de reinos terrenos, necessariamente transitórios e finitos; antes, só se coaduna com o reino do próprio Deus, porque, diz o Profeta: «O seu trono será eterno».

Portanto, fixemo-nos nesse Menino do Natal e descubramos nele, debaixo daquelas tenras carnes humanas, o Senhor nosso Deus a Quem adoramos.

2•     O Evangelho, há momentos proclamado, vai na mesma direcção do pensamento do Profeta. São Lucas tem o cuidado de nos dar informações precisas sobre o enquadramento histórico do nascimento deste Menino, nascido de Maria: nasce no tempo do imperador César Augusto, quando Quirino era governador da Síria; nasce em Belém, por ocasião de um recenseamento que o imperador mandara fazer. Estes dados dizem-nos que Jesus é homem como qualquer homem, enquadrado nos calendários deste mundo. O Menino que adoramos no Natal de cada ano é verdadeiramente humano. Mas, continuemos a prestar atenção ao que nos diz o Evangelista. Este Menino é o «Salvador», o «Messias Senhor», anunciado pelos anjos aos pastores das imediações; mais ainda: à volta deste Menino ergue-se uma multidão de anjos que louva a Deus, por causa do seu nascimento. Todas estas referências são claros indícios do pensamento de Lucas, a respeito deste recém-nascido: há algo de divino que envolve este Menino.

Nós acreditamos que o Menino celebrado no Natal é Deus. Adoremo-lo!

3•     Esta noite de Natal, como ouvimos em Paulo, na segunda leitura, é uma manifestação da graça de Deus que traz a salvação a todos os homens. A salvação só Deus no-la pode dar. E Deus manifesta-a, no nascimento que estamos a celebrar. Ele nasce para poder ter uma vida humana para oferecer em favor dos homens pecadores. Se não houvesse nascimento humano, não haveria vida humana, nem oferta de vida humana em sacrifício de resgate redenção a favor da humanidade.

Celebremos, pois, o nascimento do nosso Salvador, Jesus Cristo Senhor, vindo a este mundo como dom de Deus para salvar do pecado os homens de todos os tempos e lugares. Ele está aí, colocado na manjedoira, dando-se desde já por todos nós. Louvemo-lo e adoremo-lo e agradeçamos-lhe a generosidade da sua entrega por nós.

(Textos publicado no livro Maravilhas de Deus – Homilias de um Bispo, D. Manuel Madureira Dias, Secretariado Nacional de Liturgia, Fátima 2017)

Missa da Aurora

Is 62,11-12; Tt 3,4-7; Lc 2,15-20

Os textos desta liturgia natalícia, chamada da aurora, faz-nos viver esta acção litúrgica associando à natureza, no começo do dia, o mistério essencial do Natal.

1•     Na primeira leitura, Isaías situa-nos numa nova aurora que despontava para o povo de Israel, o qual, tendo deixado para trás o tempo do exílio, desperta, agora, qual novo dia que começa, para uma vida nova na sua cidade santa de Jerusalém. Esse acontecimento libertador é uma verdadeira salvação que o Profeta exprime da seguinte maneira: «Vai chegar o teu Salvador». O que equivaleria a dizer: Tu, povo, acabado de regressar à tua pátria, és «um povo santo», um «povo de redimidos do Senhor»; tu, cidade de Jerusalém, serás uma cidade «querida» e nunca serás «abandonada».

Estas expressões dirigidas ao povo de Israel e à sua emblemática cidade podem ser inteiramente aplicadas ao Menino, cujo nascimento hoje celebramos. Ele é, com efeito, o Salvador, o santo, o querido por Deus que nos deu, no seu nascimento, o grande sinal de que nunca nos abandona.

2•     Os pastores de Belém, de que nos fala o Evangelho, são a personificação de todos os pobres, abandonados e desprezados deste exílio, que é o mundo onde vivemos. Quando lhes foi anunciado o nascimento de Jesus, foi-lhes dito: «Hoje nasceu para vós o Salvador». E eles, não só revelaram grande interesse em encontrar-se com esse Menino, mas também depressa começaram «a contar o que lhes tinham anunciado» sobre Ele: E todos se admiravam com o anúncio feito pelos pastores. Até Maria, a mãe daquele Menino, fixava as palavras que ouvia a respeito do seu Filho.

Mas este texto evangélico termina em beleza, quando nos apresenta estes pobres pastores a louvar a Deus «por tudo o que tinham visto e escutado».

O Deus Salvador, anunciado por Isaías, aparece-nos aqui, vivo e actuante neste recém-nascido, que adoramos na pobreza do presépio, como fizeram os pastores.

3•     São Paulo, na carta que dirigiu ao seu colaborador Tito, lembra-nos que o supremo dom de Deus aos homens é a pessoa de Jesus Cristo. É nele que se manifesta a bondade de Deus, nosso Salvador, e o seu grande amor por nós, pois foi em Jesus, nascido de Maria, que Deus veio ao nosso encontro para nos salvar.

Adoremos o seu desígnio de amor! Adoremos o Filho de Deus feito homem, que o Natal nos faz abraçar!

(Textos publicado no livro Maravilhas de Deus – Homilias de um Bispo, D. Manuel Madureira Dias, Secretariado Nacional de Liturgia, Fátima 2017)

Missa do Dia

Is 52,7-10; Heb 1,1-6; Jo 1,1-18

1•     Os filhos de Jerusalém, que tinham vivido como escravos na Babilónia, regressaram a Jerusalém no tempo do Imperador Ciro, rei dos persas.

O Profeta fala das sentinelas, apostadas nas suas guaritas, a levantarem a voz para darem a Boa notícia a toda a terra. Assim o diz o profeta Isaías, no texto há pouco proclamado.

Esse regresso tornou-se um símbolo para todos os povos que aceitaram Jesus, o verdadeiro Ciro da libertação, o Ungido do Senhor.

A vinda do Filho de Deus à terra, como verdadeiro Salvador, é mais, muitíssimo mais do que a libertação da escravidão dum exílio em terra estranha. Ela significa a presença do verdadeiro Ungido de Deus no meio dos Povos. A partir desta manifestação da bondade divina, todos os confins da terra irão ver a salvação do nosso Deus, porque, desde então, Deus revela-se aos homens não só através dos oráculos dos Profetas, mas também pela voz do próprio Filho.

É Natal! Nasceu hoje o Salvador, o Cristo Senhor.

Eis a Boa Nova que importa proclamar, desde as guaritas do nosso tempo: as rádios, os jornais, as televisões, as catequeses, e todas as formas de anúncio da alegria da salvação que Deus nos oferece em Jesus de Nazaré, o Cristo, o Filho de Deus.

2•     Foi Ele que nasceu em Belém, na Província da Judeia, a poucos quilómetros de Jerusalém. Em Jerusalém haveria de dar a vida em redenção do mundo inteiro.

Regressara o Povo hebreu à cidade santa de Jerusalém, após o exílio de Babilónia. Foi grande motivo de alegria.

Veio a este mundo, ali a dois passos, o Filho de Deus, em pessoa, por um desígnio de Deus, pois seus pais viviam no Norte, em Nazaré.

Chegou e foi anunciado pelos anjos e não pelas sentinelas, de vigia no alto das muralhas. Não foi o Povo todo que o aclamou com brados de alegria. Mas, aos pastores humildes, que vigiavam o rebanho, foi dito: «Anuncio-vos uma grande alegria, pois nasceu hoje, para vós, Jesus, o Salvador».

Nasceu em Belém, cidade da paz. Morreu em Jerusalém, cidade berço da libertação. Caminhando do Norte para o Sul tornou-se o Salvador em todos os confins da terra. Ele é a Vida, Ele é a luz verdadeira, que vindo a este mundo, a todos ilumina. Fez-se carne e habitou entre nós. Vimos a sua glória, glória de Filho de Deus, pleno de graça e de verdade.

NELE se manifestou a bondade do nosso Deus!

É Natal!

Só em Jesus, nascido em Belém, está a verdadeira salvação, a paz e a liberdade autênticas.

Natal é a festa da alegria que nos vem de Deus, não a alegria fugaz e passageira que, por vezes, se procura nas coisas transitórias deste mundo.

3•     Natal é festa da família. Importa que nos fixemos nas nossas famílias, auscultando os seus valores e as suas falhas à luz do Natal. Que quererá o próprio Deus dizer aos homens, sobre a família, uma vez que, ao fazer-se Homem, na pessoa do Filho, escolheu fazê-lo no seio duma família devidamente constituída, segundo as prescrições do próprio Deus? Família, por onde andas? Família cristã, onde estás?

Como pode haver salvação em famílias desagregadas? Como pode haver Natal sem filhos a nascer? Como pode haver família sem amor?

Lanço hoje, daqui, um desafio a todos. A quantos andam desavindos: façam as pazes; aos casais em desarmonia: reconciliem-se; às famílias sem filhos, por puro egoísmo: tornem-se fonte de vida; às famílias com filhos: acolham os filhos que não têm família.

Que este Natal seja a garantia desta reconciliação. Só assim será feliz!

(Textos publicado no livro Maravilhas de Deus – Homilias de um Bispo, D. Manuel Madureira Dias, Secretariado Nacional de Liturgia, Fátima 2017)