Uma luz brilha em Belém
Descem anjos do céu, ouvem-se cânticos dando glória. Vêm pastores em busca da luz e com eles os humildes da terra. Dissipam-se as trevas na região da noite e surge um novo dia. Levantam-se os homens humilhados, caídos, esquecidos, abandonados. Deus vem ao nosso encontro envolvido nuns panos e deitado numa manjedoura.
LEITURA I Is 9, 2-7 (1-6)
O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam nas sombras da morte uma luz começou a brilhar. Multiplicastes a sua alegria, aumentastes o seu contentamento. Rejubilam na vossa presença, como os que se alegram no tempo da colheita, como exultam os que repartem despojos. Vós quebrastes, como no dia de Madiã, o jugo que pesava sobre o povo, o madeiro que ele tinha sobre os ombros e o bastão do opressor. Todo o calçado ruidoso da guerra e toda a veste manchada de sangue serão lançados ao fogo e tornar-se-ão pasto das chamas. Porque um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado. Tem o poder sobre os ombros e será chamado «Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz». O seu poder será engrandecido numa paz sem fim, sobre o trono de David e sobre o seu reino, para o estabelecer e consolidar por meio do direito e da justiça, agora e para sempre. Assim o fará o Senhor do Universo.
O povo da região de Zabulão e Neftali vive uma situação que pode identificar-se com a noite e as sombras. Desprezados por Jerusalém são votados à periferia da vida social, política e religiosa. É ali, na região das sombras, a um povo humilhado, que Deus faz brilhar a sua luz.
Salmo 95 (96), 1-2a.2b-3.11-12.13
O salmo 95 canta a realeza do Senhor que, nesta noite de Natal reconhecemos em Jesus Cristo, nascido em Belém. Os céus e a terra rejubilam de alegria diante do Senhor que vem.
LEITURA II Tito 2, 11-14
Caríssimo: Manifestou-se a graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens. Ela nos ensina a renunciar à impiedade e aos desejos mundanos, para vivermos, no tempo presente, com temperança, justiça e piedade, aguardando a ditosa esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo, que Se entregou por nós, para nos resgatar de toda a iniquidade e preparar para Si mesmo um povo purificado, zeloso das boas obras.
Paulo fala a Tito sobre a encarnação de Jesus, a grande manifestação de Deus em favor do seu povo, através da qual faz participantes a todos os homens da sua bem-aventurança. De facto, em Cristo Deus manifesta toda a sua glória, desde a sua encarnação até ao mistério da Cruz onde somos purificados.
EVANGELHO Lc 2, 1-14
Naqueles dias, saiu um decreto de César Augusto, para ser recenseada toda a terra. Este primeiro recenseamento efetuou-se quando Quirino era governador da Síria. Todos se foram recensear, cada um à sua cidade. José subiu também da Galileia, da cidade de Nazaré, à Judeia, à cidade de David, chamada Belém, por ser da casa e da descendência de David, a fim de se recensear com Maria, sua esposa, que estava para ser mãe. Enquanto ali se encontravam, chegou o dia de ela dar à luz e teve o seu Filho primogénito. Envolveu-O em panos e deitou-O numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria. Havia naquela região uns pastores que viviam nos campos e guardavam de noite os rebanhos. O Anjo do Senhor aproximou-se deles e a glória do Senhor cercou-os de luz; e eles tiveram grande medo. Disse-lhes o Anjo: «Não temais, porque vos anuncio uma grande alegria para todo o povo: nasceu-vos hoje, na cidade de David, um Salvador, que é Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um Menino recém-nascido, envolto em panos e deitado numa manjedoura». Imediatamente juntou-se ao Anjo uma multidão do exército celeste, que louvava a Deus, dizendo: «Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados».
Os anjos vêm do céu anunciar que o Salvador já nasceu. Contam que é um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura. Lucas convida-nos a reconhecer também hoje a presença de Jesus salvador no meio de nós.
Reflexão da Palavra
Isaías tem presente as regiões de Zabulão e Neftali situadas junto à “estrada do mar” que liga, através da Palestina, o Egito com a mesopotâmia. É uma região frequentada por caravanas de comerciantes de todas as nações que exercem a sua influência, política, social e religiosa sobre os Israelitas que ali habitam. A permeabilidade das relações faz com que os judeus de Jerusalém vejam com maus olhos as pessoas desta região. Religiosamente contaminados são um povo humilhado que vive como quem está nas trevas.
Isaías anuncia que, para aqueles que não era suposto, uma luz brilha e transforma em alegria a vida dos que habitam as sombras. Mais tarde iremos ver Jesus a dar início à sua vida pública precisamente nesta região.
É Deus quem faz brilhar a luz nas trevas e aumentar a alegria nos que ali habitam. Esta luz é como a de Madian quando Gedeão pôs em fuga os inimigos. E a alegria é como aquela se vive depois de uma vitória no campo de batalha. Termina a guerra, termina a opressão e recomeça a vida, um menino nasceu.
Este menino tem quatro nomes, “Conselheiro admirável”, “Deus forte”, “Pai eterno” e “Príncipe da Paz”. É um menino dado por Deus ao seu povo. Nele cumpre-se a promessa feita a David, mas de modo ainda mais admirável do que o esperado.
O que se diz deste menino ganha um novo sentido quando aplicado a Jesus e só atinge a plenitude da sua realização nele.
O salmo 95 é um hino à realeza do Senhor, aplicado aqui ao rei que acaba de nascer, Jesus. O salmista convida o céu, a terra, o mar, os campos e as árvores das florestas e tudo o que neles habita, a cantar um cântico novo porque o Senhor vem salvar o seu povo e vem julgar a terra. Esta notícia é para todos, deve ser espalhada pelo arauto em todas as nações e até junto dos pagãos.
A pequena carta dirigida por Paulo a Tito guarda no seu centro este resumo da realização da promessa esperada por toda a humanidade. Deus manifestou-se, quer dizer, na encarnação de Cristo, Deus deu a conhecer a sua glória e tronou os homens participantes da sua bem-aventurança. Na encarnação está já presente a cruz na qual a humanidade é purificada de todas as iniquidades a fim de se apresentar como um só povo diante do Grande Deus.
Paulo afirma na carta a Tito que Jesus é Deus e salvador. Nele manifestou-se a graça de Deus que é garantia do cumprimento da grande esperança que é a participação na bem-aventurança. Para participar dessa graça vale a pena viver com sobriedade, justiça e piedade. Este deve ser o estilo de vida de todos os que aguardam em esperança a manifestação final daquele que nos purificou das nossas iniquidades com a sua entrega na cruz. Nele somos irrepreensíveis e podemos apresentar-nos diante do Grande Deus.
A grande manifestação deu-se com a encarnação de Jesus no seio de Maria, cujo nascimento é relatado por Lucas no evangelho. Um acontecimento político serve de quadro histórico para Lucas dar início à narração do nascimento do Salvador. O decreto do imperador coloca José no caminho de Belém, que Lucas afirma ser a cidade de David, para a valorizar pelo seu papel na história da salvação, mas a cidade de David era Jerusalém.
Para Lucas é importante a referência à manjedoura. Mais do que o nascimento de Jesus, que Lucas resolve rapidamente “chegou o dia de ela dar à luz e teve o seu Filho primogénito”, o lugar onde Jesus é deitado, a manjedoura, fala do lugar onde nasceu o salvador, junto dos animais e dos viajantes que enchiam por completo o lugar reservado às pessoas.
Aquele que nasce é o filho primogénito de Deus, mais do que de José e de Maria. Ele pertence a Deus e não a César, mas cumpre as obrigações impostas pelo imperador. A sua condição de Messias tem uma dimensão espiritual e não política, por isso nasce em Belém, a “casa do pão” e não em Jerusalém, cumprindo do mesmo modo a referência a David que era anunciada na promessa.
Se o nascimento de Jesus é resolvido com uma frase, a notícia da chegada do salvador não pode permanecer no silêncio. Lucas dá grande relevo a este anúncio. A notícia do nascimento vem do céu e não da terra, é o anjo do Senhor quem comunica aos pastores. O medo que se apodera dos pastores revela que estão perante uma manifestação de Deus que lhes confia a notícia destinada a todos e lhes dá um sinal, “encontrareis um Menino recém-nascido, envolto em panos e deitado numa manjedoura”.
O cântico dos anjos revela o que acabou de acontecer e que Paulo traduz com a expressão “manifestou-se a graça de Deus”, Ele mesmo se revelou, mostrou o seu rosto no menino nascido em Belém. E este acontecimento tem repercussões na terra, porque este menino é o “príncipe da paz” como se vê na primeira leitura. No menino nascido em Belém realiza-se a glória de Deus e a paz na terra.
O texto termina com a atitude dos pastores que se puseram imediatamente a caminho de Belém.
Meditação da Palavra
O nascimento de Jesus é o início do cumprimento de todas as promessas feitas pelo Senhor através dos profetas. Nem sempre as promessas se realizam como os homens imaginam. O mais habitual é Deus ultrapassar a imaginação humana e chegar a realizar prodígios maiores do que poderemos alguma vez imaginar.
A vinda do Messias era uma esperança de Israel, mas ninguém espera um Messias pobre, humilde, pequeno, indefeso. Ninguém imagina um Messias que escolhe a noite, as sombras, a humilhação, a periferia, para se manifestar.
Isaías fala para a região de Zabulão e Neftali, estrada do mar, região de sombras e de noite, lugar de morte e humilhação, para anunciar a Luz que vem brilhar sobre a humanidade. “o povo que andava nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam nas sombras da morte uma luz começou a brilhar”.
Paulo fala a Tito sobre a encarnação de Jesus, reconhecendo que esta é a grande manifestação de Deus em favor do seu povo, através da qual faz participantes a todos os homens da sua bem-aventurança. De facto, em Cristo, Deus manifesta toda a sua glória, desde a sua encarnação até ao mistério da Cruz. É nele, Jesus, que somos purificados de toda a iniquidade para nos podermos apresentar diante do Grande Deus.
Sendo filho primogénito de Deus, Jesus é apresentado por Lucas como verdadeiro homem cumprindo as obrigações cívicas impostas aos cidadãos do império dominador da Palestina daquele tempo. E é também apresentado como pobre que nasce no lugar mais pobre, mais perto dos animais do que dos homens, porque entre os homens já não havia lugar.
O relato do nascimento é simples “chegou o dia de ela dar à luz e teve o seu Filho primogénito. Envolveu-O em panos e deitou-O numa manjedoura”. Mas a notícia do seu nascimento é dada com todo o detalhe. O anjo do Senhor vem do céu e anuncia aos pastores que primeiro se enchem de medo e logo de alegria. Recebem a notícia e vão ao encontro de Jesus conscientes de serem eles os mensageiros desta novidade.
A notícia é fundada nas escrituras. O texto da notícia diz: “nasceu-vos hoje, na cidade de David, um Salvador, que é Cristo Senhor”. Este menino deve ser procurado em Belém, a cidade de David, e anunciado a todos, como diz a escritura. Trata-se de uma grande alegria para todos.
Os elementos encontrados nos textos desta noite de Natal colocam-nos perante o mistério de Deus revelado aos homens em Jesus e o quadro do seu nascimento, a contemplação do presépio de Belém, é o caminho para chegarmos a acolher esse mistério que é dom de Deus para os homens. Deus manifesta-se para que o homem participe da sua bem-aventurança.
A notícia do nascimento de Jesus é a manifestação da graça de Deus que nos abre aos mais nobres sentimentos de paz, de justiça e de piedade. Como para os pastores a notícia é para nós oportunidade de encontro com Deus, porque em Jesus o céu desce à terra. Fazendo-se homem no menino envolto em panos, Deus assume a humanidade elevando-a à condição divina. Esta graça enche-nos de alegria porque se trata da salvação gratuita e dada a todos sem exceção.
Receber a notícia transforma-nos em mensageiros. O leitor do evangelho de Lucas, aprende com os pastores a escutar a palavra que vem do céu, a encher-se de alegria e a procurar o encontro com aquele que é o centro do evangelho, Jesus Cristo. E decide-se a ir comunicar a todos, com alegria e gratidão, louvando a Deus, a alegre notícia que mudou as suas vidas.
Nesta noite de Natal compreendemos que Deus se revela àqueles que não dão garantias de credibilidade, como os habitantes da região de Zabulão e Neftali, como os pobres de Belém que enchem a hospedaria, como os pastores daquele tempo.
A notícia do nascimento de Jesus, que interessa a todos os homens, interessa primeiramente aos que andam nas trevas, nas sombras da morte, aos humilhados, que vivem nas periferias das grandes cidades e à margem das oportunidades que garantem uma vida estável. Que hoje, ao sair, sejamos conduzidos com alegria ao encontro daqueles que se julgam indignos de receber o salvador e não acreditam que Jesus veio precisamente para eles.
Rezar a Palavra
Vem à noite e quebra as sombras deste mundo. Manifesta a tua graça no rosto dos humildes desta terra. Que a tua glória preencha os vazios e a tua luz a escuridão dos corações. Faz-nos mensageiros da boa nova que fala de ti, Deus próximo, amigo e bom.
Compromisso semanal
Quero ver-te nas palhas dos presépios humanos.