Todos temos o direito de sonhar! Ainda que não esteja consagrado em declarações ou em códigos, este direito acompanha sempre a humanidade, sobretudo quando tem de enfrentar situações difíceis e reagir às adversidades. É nessas alturas que os exemplos da história se apresentam como animadores e os protagonistas são salientados.
Maria, a mulher do Advento e do Natal apresenta-se hoje diante de nós como aquela sobre quem recai a maior esperança da humanidade. Ela ouviu a saudação mais promissora alguma vez proferida sobre uma descendente de Adão: “Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo. Bendita és tu entre as mulheres… Não tenhas medo, achaste graça diante de Deus”.

  1. A força do mal

– O ser humano experimenta uma certa resistência a Deus porque é incapaz de assumir que, quando se afasta d’Ele, tem dificuldade em lidar com os seus limites e as suas fraquezas… As forças e os sinais negativos (pandemias, doenças, destruição, refugiados, prisioneiros, famintos, desempregados,…) parecem sempre sobrepor-se à bênção e às forças positivas…
– Nós próprios, por vezes, sentimo-nos inúteis e impotentes para combater todos estes flagelos… Frente a eles, colocamos em primeiro lugar os nossos interesses egoístas, a vontade de querermos ser só nós a escapar, de conduzir a nossa vida sem prestar contas a ninguém, de satisfazer os nossos desejos, colocando de parte o altruísmo e a caridade…
– “Do nosso coração só brotaria a maldade se Deus não a superasse radicalmente” (K. Rahner)… É verdade: Deus supera o que de mal existe em nós: escolheu-nos e abençoou-nos…

  1. Maria foi escolhida

– Celebramos esta mulher, que foi escolhida por Deus e em quem vemos realizada a promessa do bem sobre o mal, da bênção sobre a maldição…
– Em Maria, Deus fica connosco para nos “encher de bens espirituais em Cristo”… A bênção, o bem, pode vencer o mal: é isto que celebramos nesta festa da Imaculada…
– Em Maria vemos que não estamos abandonados ao nosso próprio mal… Deus abençoou-nos… Aquela promessa do livro do Génesis, depois da desobediência de Adão, de que um descendente da mulher esmagaria o mal, cumpre-se quando Maria diz sim: “…Faça-se em mim segundo a tua palavra”.
– Ao contrário de Adão e de nós que descendemos dele, Maria, visitada pelo Arcanjo de Deus, não foge, não se esconde de Deus. A proposta que lhe foi feita leva-a a mudar completamente os seus planos de realização humana que ela tinha traçados. Não se esconde de Deus porque é uma mulher íntegra, ao contrário de Adão que “estava nu”, vulnerável, exposto…

  1. Ser escolhido

– Desde pequenos que sabemos o que é ser escolhido: para entrar num jogo, para representar o grupo, para fazer uma entrevista,… E quando não somos escolhidos sentimos a decepção, o sentimento de sermos colocados de lado,…
– A esperança da fé radica em ter sido escolhido por Deus… E ao contrário do que acontece nas relações humanas, a escolha de Deus não implica a rejeição de outros: ser escolhido por Deus inclui a todos… é uma eleição partilhada e não competitiva… Vemos isso muito bem na eleição da Virgem Maria: ela foi escolhida para que todos fossemos salvos…
– Ao celebrarmos hoje a Mãe de Deus, nossa Mãe e Padroeira Principal de Portugal, queremos ver nela alguém da nossa estirpe, que faz parte da família humana e que, ao ser escolhida por Deus e ter respondido afirmativamente, desafia esta humanidade «em fuga», que tenta esconder-se de Deus e vive às escuras, triste, exilada, escondida…
– Sempre podemos mudar de rumo e olhar para Maria como aquela que, com o seu sim, permitiu a vitória do bem sobre o mal e nos orienta neste caminho do Advento com a sua adesão ao projecto de Deus; como aquela que nos ensina a saber esperar o encontro com o Filho de Deus, o Salvador…