Este ano o segundo Domingo de Advento coincide com a festa da Imaculada Conceição. Não é por isso que a dinâmica do Advento é quebrada. Bem pelo contrário: Maria é a mulher do Advento, a companheira ideal neste processo em que a Igreja revive a esperança de se encontrar com o Senhor. É ela a mulher grávida, a da esperança, a que acolheu o Senhor no seu seio, a mulher agradecida pelo dom de Deus.
O sim de Maria é o sim de todos os que querem e procuram o melhor para este mundo. É verdade que a sua resposta é intima e pessoal. Mas, também representa o compromisso de tantas pessoas que, nas diferentes partes do mundo vivem a esperança de construir as suas vidas segundo o plano de Deus.
Celebrar a Imaculada Conceição não é contemplar um privilégio único da Mãe de Deus, quem sabe até, com alguma inveja, porque só ela é que beneficiou de uma graça especial, de que ninguém mais pode beneficiar… É preciso ver as coisas noutra perspectiva. Olhar para Maria como aquela que escolheu o caminho que todos nós somos convidados a percorrer: unir o nosso ser totalmente ao ser de Deus para alcançar a vida em plenitude.

1.    Dois caminhos

– As leituras bíblicas, tanto o livro do Génesis como o Evangelho, oferecem-nos dois caminhos, à escolha: o da auto-suficiência, apoiados apenas e só nas nossas forças, fazendo de nós próprios o centro de todas as decisões… Por este caminho, pomos a Deus de lado porque receamos que ele nos prive da nossa autonomia e da nossa capacidade de dirigirmos, por nós, o rumo das nossas vidas… Queremos ser o deus de nós próprios e de tudo o que gira à nossa volta… O resultado é a quebra de todas as relações e o sentimento de vulnerabilidade: se faço o que me apetece (estamos no mundo dos desejos, do que é agradável à vista!) também os outros podem fazer o mesmo e a desordem que põe em perigo a própria vida, é inevitável…
– Bem diferente é o caminho seguido por Maria, o caminho do projecto de Deus, de viver sem mancha, em graça… Para ela (que nos representa a todos) a verdadeira liberdade realiza-se no acolhimento de Deus… “Faça-se segundo a tua palavra”: na medida em que nos abrimos à oferta de Deus e nos dispomos a viver uma relação de amizade com Ele, chegamos à plenitude de vida: “Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo”…

2.    O caminho de Maria é o de Jesus

– Em Maria começamos a descobrir o caminho do próprio Jesus: Deus não é um concorrente das nossas possibilidades (como a serpente do Génesis quer fazer crer) mas, quanto mais próximos estivermos dele, maior é a nossa liberdade e maior é o nosso espaço de vida em plenitude…
– Dizer, como Maria, “faça-se” não é rebaixar as nossas potencialidades humanas, aniquilar a nossa identidade, submeter-se cegamente à vontade de Deus, mas é entregar-se, com autonomia e liberdade ao projecto de salvação de Deus para toda a humanidade… E Maria foi aquela que melhor experimentou esta salvação na entrega total à graça oferecida: por isso a chamamos ‘Imaculada’…